O presidente russo, Vladimir Putin, viajou na terça-feira para o Centro de testes de voo Chkalov, em Akhtubinsk, para inspecionar tecnologias aéreas e armamentos, incluindo um caça MiG-31 armado com o míssil hipersónico Kinzhal. Viu ainda o mais recente caça MiG-35 e um Sukhoi-57, igual à esquadra que o escoltou quando o avião presidencial se aproximava de Akhtubinsk, cidade a 130 quilómetros de Volgogrado. A visita foi uma mensagem para Washington? "Não, não é verdade. Daqui nenhuma teoria da conspiração deve ser engendrada", respondeu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov..Intencional ou não, o Kremlin chamou a atenção para os avanços da indústria e da tecnologia militar russa, a poucas horas de um encontro com um alto representante de um país com quem tem uma relação tumultuosa..Já na residência presidencial de Sochi, no sul do país, o líder russo mostrou-se aberto a um restabelecimento das relações com os Estados Unidos, bem como mostrou abertura para voltar a encontrar-se com Donald Trump..Um assessor do Kremlin sinalizou que o presidente russo está aberto a uma nova reunião com o homólogo dos EUA se receber uma proposta formal para tal encontro. No dia anterior, Trump avançou que planeia encontrar-se com Putin à margem de uma reunião do G20 no Japão no próximo mês..Citado pela Reuters, Yuri Ushakov, o assessor do Kremlin, disse que a reunião de Putin com Pompeo na estância russa do mar Negro não tinha produzido qualquer avanço, mas tinha sido realizada numa atmosfera de negócios..Restabelecer relações plenas.Ao receber o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, Putin afirmou desejar "restabelecer relações plenas com os Estados Unidos", apesar das divergências entre as duas potências: "Tenho a impressão de que o presidente dos EUA é a favor do reatamento dos contactos entre a Rússia e os Estados Unidos. Pela nossa parte, dissemos em várias ocasiões que gostaríamos de restabelecer relações plenas." E acrescentou, dirigindo-se a Pompeo: "É altamente desejável que a sua visita beneficie as relações da Rússia com os Estados Unidos e contribua para o seu desenvolvimento.".A visita do secretário de Estado norte-americano a Sochi é a reunião ao mais alto nível entre os dirigentes das duas potências desde a cimeira de Helsínquia, em julho. Na Finlândia, o tom conciliatório de Trump em relação a Putin, após uma reunião em que só participaram ambos e os tradutores, chocou a classe política americana..Um dos pontos da discórdia entre Washington e Moscovo é a ingerência russa na política norte-americana. O ex-agente do KGB congratulou-se com a investigação do procurador especial Robert Mueller, rotulando-a de "bastante objetiva" - o que não deixa de ser curioso. É que se o relatório de Mueller não concluiu que tenha havido conluio entre Donald Trump e Moscovo (nem o seu contrário), alegou que a Rússia "imiscuiu-se nas eleições presidenciais de 2016 de uma forma sistemática". Essa interferência voltou a ser negada na terça-feira, quer por Putin quer pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov..No entanto, Mike Pompeo disse aos russos que Washington não toleraria qualquer interferência nas eleições presidenciais de 2020 e queria que Moscovo tome medidas para mostrar que não haveria repetição do que terá acontecido em 2016. "Eu disse claramente ao ministro Lavrov que a interferência nas eleições norte-americanas é inaceitável. Se os russos se envolverem em 2020, isso deixaria a nossa relação num lugar ainda pior do que tem estado", disse Pompeo. "Eu recomendaria que não o fizessem. Nós não toleraríamos.".A Casa Branca espera que o fim da investigação do procurador especial e a forma como o procurador-geral William Barr tentou amenizar as suas conclusões sirvam para se virar a página. Contará também com a investigação ordenada na segunda-feira por Barr às origens da investigação do FBI à campanha de Trump e à Rússia..Mas essa conclusão pode ser precipitada. Os democratas, em maioria na Câmara dos Representantes, querem ter acesso ao relatório de Mueller na íntegra por suspeitarem de obstrução à justiça por parte de Donald Trump e podem ainda usar de várias prerrogativas - incluindo o processo de destituição do presidente..Pingue-pongue diplomático."Algumas áreas de cooperação são excelentes, na Coreia do Norte, no Afeganistão fizemos um bom trabalho, e na luta contra o terrorismo", disse Mike Pompeo. "Estas são coisas em que podemos confiar." Mas a lista negativa é muito mais longa. Da Ucrânia à Venezuela, Pompeo e Lavrov assumiram estar em divergência em muitas questões..O norte-americano pediu a Moscovo para deixar de reconhecer Nicolás Maduro, que deve renunciar em face de uma crise económica sem precedentes e de protestos em grande escala contra o seu governo. Lavrov criticou a política dos EUA de ameaças contínuas de intervenção militar e que "não se pode instaurar uma democracia pela força"..Sobre a Ucrânia, Pompeo reiterou a Lavrov que os Estados Unidos não irão reconhecer a anexação da Crimeia em 2014 e como tal vão manter em vigor as respetivas sanções económicas impostas à Rússia. Pompeo defendeu que Moscovo deve trabalhar de forma construtiva com o novo presidente eleito da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para trazer a paz ao leste da Ucrânia. Acrescentou que a Rússia deve libertar os 24 marinheiros ucranianos capturados quando navegavam ao largo da Crimeia..O norte-americano, que adiou a viagem em 24 horas para se reunir em Bruxelas com a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, devido ao escalar das tensões com o Irão, ouviu Lavrov dizer na conferência de imprensa que os dois países continuam a discordar sobre o programa nuclear do Irão e a abordagem da comunidade internacional a Teerão. O antigo diretor da agência de espionagem CIA disse, por sua vez, que manifestou a sua preocupação com a escalada dos combates na região de Idlib, na Síria.