Benfica na Grécia a correr para os 34 milhões da Champions
Numa época em que já bateram o recorde de investimento em reforços, os encarnados estão obrigados a ultrapassar o PAOK nesta terça-feira e depois o Krasnodar para entrarem na fase de grupos pelo 11.º ano consecutivo. O mata-mata de Salonica será decisivo para uma época de aposta máxima.

Jorge Jesus conta com Darwin Núñez frente ao PAOK. O uruguaio chegou à Luz por 24 milhões de euros, um recorde no futebol português
© Pedro Rocha / Global Imagens
O Benfica tem esta terça-feira (19.00, TVI) na Grécia um dos jogos mais importantes da época 2020-21. Vencer é obrigatório para manter intactas as esperanças de entrar na fase de grupos da Liga dos Campeões. É uma espécie de mata-mata - expressão entre nós celebrizada por Luiz Felipe Scolari -, pois a eliminatória com o PAOK Salonica é disputada num jogo só e, ainda por cima, em casa do adversário.
No fundo, os encarnados estão proibidos de falhar esta primeira de duas barreiras que os separam dos milhões da Champions. Só se ultrapassarem os gregos poderão medir forças com os russos do Krasnodar no play-off. Feitas as contas, a entrada na fase de grupos significa o encaixe imediato de 34,086 milhões de euros, mais os valores do market pool, relacionados com a distribuição dos direitos televisivos. Na prática, só em prémios o Benfica pode chegar perto dos 50 milhões de euros, tendo em conta que na fase de grupos cada vitória vale 2,7 milhões de euros, enquanto o empate vale 900 mil euros.
E numa época em que o investimento no plantel assume contornos nunca antes vistos, o duelo com o PAOK será o primeiro a marcar a fronteira entre o sucesso e o fracasso, pois o encaixe financeiro que a Champions representa permite um maior equilíbrio financeiro na nova época, ainda para mais num tempo de pandemia em que os clubes estão privados das receitas de bilheteira por não haver público nos estádios.
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Foi a pensar em recuperar o prestígio nas provas da UEFA, muito abalado nos últimos anos por desempenhos fracos, mas também em retomar a hegemonia interna, quebrada na última época pelo FC Porto, que o presidente Luís Filipe Vieira promoveu o regresso do treinador Jorge Jesus, que em 2019 ganhou praticamente tudo ao serviço do Flamengo (a exceção foi o Mundial de Clubes para o Liverpool).
Este foi o primeiro sinal de que, na Luz, havia uma mudança de rumo, que nos últimos anos foi centrada na aposta dos jovens da formação. Uma decisão a que não é igualmente alheio o facto de no final do mês de outubro se realizarem eleições para a direção do Benfica e, pela primeira vez em 17 anos de consulado, Vieira parece estar agora com a reeleição ameaçada devido a vários focos de contestação que motivaram o aparecimento de quatro concorrentes ao ato eleitoral.
Mais de 80 milhões de euros em reforços
Jorge Jesus regressa, cinco anos depois de ter saído de forma turbulenta para o Sporting, como o treinador com mais troféus ganhos na história do Benfica e o último a conseguir levar o clube a finais europeias (duas na Liga Europa). Mais de um mês depois da sua apresentação, na qual prometeu uma equipa "a jogar o triplo", operou uma reformulação do plantel, por forma a torná-lo mais competitivo.
Até ao momento foram investidos cerca de 81,5 milhões de euros em novos jogadores, sendo que um deles se tornou o futebolista mais caro da história do futebol português. Trata-se do avançado uruguaio Darwin Núñez, de apenas 21 anos, contratado ao Almeria, da II Liga espanhola, por 24 milhões de euros, numa aposta que pode ser considerada de risco tendo em conta que esta será a primeira experiência do jogador ao mais alto nível.

Cebolinha é um dos principais reforços do Benfica para a nova época. O atacante brasileiro chegou do Grémio e era um desejo assumido de Jorge Jesus
© Filipe Amorim / Global Imagens
A este juntaram-se ainda nomes conceituados como o extremo brasileiro Everton Cebolinha (ex-Grémio) por 20 milhões de euros, o defesa belga Jan Vertonghen que chegou após terminar contrato com o Totten ham e ainda o internacional alemão Luca Waldschmidt (ex-Friburgo) por 15 milhões de euros. O plantel conta ainda com o defesa-direito Gilberto (ex-Fluminense) contratado por três milhões de euros, o promissor extremo brasileiro Pedrinho (ex-Corinthians) por 18 milhões, e ainda o guarda-redes Helton Leite (ex-Boavista) por 1,5 milhões. Isto além do regresso de Diogo Gonçalves, após empréstimo ao Famalicão.
Apesar de terem chegado estes oito novos jogadores, o plantel do Benfica promete continuar em mudanças, faltando pelo menos chegar três jogadores - um defesa central, um médio e um avançado - e ainda faltam sair outros que não contam para Jorge Jesus.
É neste contexto que a entrada na fase de grupos da Liga dos Campeões se apresenta como fundamental para este novo Benfica, pois só assim compensará parte do investimento já realizado. São, como já referimos, 34,086 milhões de euros de encaixe automático se conseguir ultrapassar o PAOK e, depois, o play-off com os russos do Krasnodar, que se disputa a duas mãos.
Serão 15,25 milhões de euros pela simples entrada na fase de grupos, mais 18,836 milhões de euros referente ao coeficiente dos encarnados no ranking da UEFA nas últimas dez temporadas. O Benfica ocupa o 20.º lugar, mas como Lyon, Roma, Tottenham e Arsenal não se apuraram para a Champions, subirá para o 16.º posto (tinha o sétimo coeficiente na época passada), que lhe vale a multiplicação de 1,108 milhões de euros por 17, que é a parcela que lhe cabe dos 585 milhões de euros distribuídos pela UEFA de acordo com o coeficiente de cada um dos 32 clubes participantes.
Por exemplo, o FC Porto, que tem entrada direta na Champions, ocupa o 15.º lugar do ranking, tendo por isso direito a 19,944 milhões de euros pelo seu coeficiente, ao qual é preciso acrescentar o prémio de entrada fase de grupos, o que perfaz um total de 35,194. A este valor será ainda acrescentado o market pool, que será de 100% da quota de Portugal se o Benfica for entretanto eliminado e de 60% se tiver a companhia dos encarnados na fase de grupos.
Refira-se que o market pool distribui 292 milhões de euros pelos 32 clubes que participam na fase de grupos da Champions, sendo o valor apurado consoante o mercado televisivo de cada país.
Clubes portugueses com saldo positivo
Na época passada, Portugal interrompeu uma série de nove temporadas consecutivas com pelo menos duas equipas na fase de grupos da Liga dos Campeões. Surpreendentemente o FC Porto foi eliminado pelos russos do Krasnodar na terceira pré-eliminatória, ficando logo impedido de ir ao play-off.
É esse autêntico trambolhão que o Benfica vai procurar evitar agora para que possa dar continuidade às dez participações consecutivas na fase de grupos. O PAOK Salonica, treinado pelo português Abel Ferreira, é um velho conhecido, pois em 2018 foram afastados no play-off precisamente pelos encarnados. Curioso é que, se seguir em frente, a equipa de Jorge Jesus terá como adversário o carrasco do FC Porto há um ano... o Krasnodar.
Graças à entrada direta na fase de grupos da Liga dos Campeões, o FC Porto já garantiu 35,1 milhões de euros
O saldo das equipas portuguesas na disputa destas rondas prévias à fase de grupos é positivo, uma vez que 15 delas conseguiram chegar aos milhões da Champions, tendo 11 ficado pelo caminho, sendo que em 2002-03 caíram na terceira pré-eliminatória Sporting e Boavista, afastados por Inter Milão e Auxerre, respetivamente.
No entanto, nas últimas dez temporadas o saldo é francamente positivo para Portugal, pois apenas três equipas não chegaram à fase de grupos, o Paços de Ferreira em 2013 ao ser eliminado pelo Zenit, o Sporting em 2015 quando caiu perante o CSKA Moscovo e o FC Porto na época passada. De resto, águias, dragões e Sp. Braga por duas vezes e Sporting numa ocasião chegaram ao grande objetivo neste período.
Curiosamente, no total das 29 edições (desde 1992-93), Benfica e FC Porto têm precisamente o mesmo saldo nestas fases, pois conseguiram o apuramento cinco vezes e foram afastados por duas, ao contrário do Sporting que apresenta saldo negativo (quatro eliminações e dois apuramentos). Já os bracarenses nunca caíram nesta fase (duas qualificações), tendo o Boavista um empate 1-1 e V. Guimarães e Paços de Ferreira foram afastados quando estiveram à porta da Champions.
Jorge Jesus procura oitava Champions
E como se tem comportado o treinador Jorge Jesus nestas fases prévias da Liga dos Campeões? O saldo é positivo, pois nas três épocas em que foi obrigado a disputá-las conseguiu atingir a fase de grupos em duas. Ao serviço do Benfica, em 2011-12, ultrapassou Trabzonspor (3-1 no conjunto das duas mãos) e Twente (5-3), já no comando do Sporting começou por ser afastado em 2015-16 pelo CSKA Moscovo (3-4) e em 2017-18 logrou o apuramento perante o Steaua Bucareste (5-1).
Tem agora a palavra o treinador de 66 anos, que procura entrar pela oitava vez na Champions, onde só por uma vez ultrapassou a fase de grupos: foi em 2011-12 quando chegou aos quartos-de-final pelo Benfica, tendo sido eliminado pelo Chelsea, que nessa época se sagraria campeão europeu.
A equipa benfiquista partiu este domingo para a Grécia com 25 jogadores na comitiva, sendo que as únicas baixas por lesão são Jardel (entorse no joelho esquerdo) e Samaris (tendinopatia do tendão de Aquiles à direita), além de Mile Svilar, que está infetado com covid-19.
Eis então a lista completa dos convocados de Jorge Jesus:
Guarda-redes: Vlachodimos, Helton Leite, Samuel Soares;
Defesas: André Almeida, Gilberto, Ferro, Rúben Dias, Vertonghen, Nuno Tavares, Grimaldo;
Médios: Gabriel, Julian Weigl, Florentino Luís, Pizzi, Franco Cervi, Taarabt, Pedrinho, Everton, Diogo Gonçalves;
Avançados: Rafa Silva, Seferovic, Darwin Núñez, Carlos Vinícius, Waldschmidt, Chiquinho.
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