O desconfinamento do concelho da Batalha a partir das 00:00 de sexta-feira não impediu que o Hotel Lis Batalha Mestre Afonso Domingos fechasse no mesmo dia. "Foi uma decisão muito ponderada, tentámos tudo, mas temos que compreender que não dá se não há clientes", justifica Sónia Mendes, chefe de receção que ficou para fechar portas..A economia do concelho depende dos estrangeiros e esses deixaram de vir. E também dos portugueses, muitos deles a viver em regiões com limites à circulação devido ao estado de emergência, decretado há uma semana. O hotel pertence ao grupo que detém o restaurante Vintage e a Exposalão (centro de exposições) e o Hotel Lis Lisboa, que também fechou..A unidade hoteleira da Batalha, de 4 estrelas, estava com uma taxa ocupação de 2%, o que nem dá para pagar as despesas de luz e água, diz Sónia Mendes, 32 anos. Nesta altura, deveria ter 50 % dos quartos reservados, mesmo em época baixa, o que dava para manter 17 funcionários..Fica em frente ao Mosteiro da Batalha, onde agora os visitantes se contam pelos dedos da mão e muito do comércio existente está a definhar. "As vendas baixaram quase 100 %, não se vende nada, não há ninguém", lamenta Célia Moreira, 62 anos, há sete a trabalhar na Souvenirs Prestige, em frente ao monumento. Vai ajudar não estarem fechados a partir das 13 horas nos próximos dois fins de semana? "Não é muito significativo dada a conjuntura: não temos turismo, não temos clientes"..Célia e outra colega, com 60 anos de casa, mantêm o espaço aberto, mas dividindo os dias da semana pelas duas e fechando à hora do almoço, o que não acontecia antes da pandemia. E, também, dividem os lucro mensais. Antes da pandemia, estavam abertos todos os dias até às 18:00 ou às 20:00 (no verão)..Do outro lado da rua, a esplanada do café O Brogueira está às moscas. Está aberto desde 1956 e nunca o negócio esteve tão mal. A saída do desconfinamento "melhora um pouco mas não é significativo", diz Luís Brogueira, 58 anos, o filho do fundador..Servem bifanas, pregos, salgados, bolos, sandes e teriam de fechar às 13 horas este sábado e domingo se continuassem em confinamento. Estão abertos todos os dias a partir das 09:00 e tiveram que antecipar o fecho com a covid-19, para as 21:30, quando antes era às 00:00. "Às 20:00 já não se vê ninguém na rua". A frequência reduziu para 30 %..Apesar da Batalha ter saído da lista de concelhos com limitações de circulação, Luís Brogueira continua a defender: "O encerramento devia ser às 15:00 para se poder servir o almoço e não se dava os correspondente a 20 % da faturação em apoio"..O confinamento iria prejudicar apenas o sábado do restaurante Burro Velho, que fecha habitualmente ao domingo. Também aqui as quebras são grandes mas lá se vão aguentando, sobretudo com os portugueses que procuram uma casa de referência. Antes da pandemia, a clientela era 50 % nacional e 50 % estrangeira..Mesas postas, com um envelope ao lado para os comensais colocarem a máscara, os muitos funcionários preparavam-se esta sexta-feira para atender os clientes, mas muitas mesas ficaram vazias. Servem peixe fresco, marisco e carne, com as especialidades; polvo à lagareiro, arroz de peixe à casa e espetada à Burro Velho. Têm entre 15 e 17 funcionários..O Mosteiro da Batalha era o 3.º monumento mais visitado em Portugal antes da covid-19, sublinha o presidente da autarquia, Paulo Batista Santos. Vê o desconfinamento como mais uma etapa de um caminho contra a pandemia "que está longe de terminar". E, no concelho, a situação está mais complicada porque não têm delegado de saúde Há dois meses. "Os funcionários da autarquia é que estão a ligar para as pessoas que estiveram em contacto com as pessoas infetadas", denuncia..O autarca vê a saída do concelho dos que têm mais infeções do SARS-Cov-2 em comparação com a população como como uma medida justa, já que "sempre defendeu, que a Batalha não devia estar na lista vermelha". Justifica: "Defendemos que as medidas têm que ser implementadas a uma escala superior e não apenas concelhia. No caso da Batalha, tinha pouca eficácia porque os concelhos à volta não estavam confinados, ou seja, as pessoas não podiam circular na Batalha mas podiam andar em Leiria, Porto de Mós, Ourém e Alcanena. Defendemos que estas medidas devem ser intermunicipais ou a nível regional"..Entretanto, Ourém e Alcanena entram em confinamento na segunda-feira às 00:00..Batalha tem 15 805 habitantes (censos de 2011), a quem a autarquia fornece máscaras gratuitamente, tal como os testes de despistagem da doença, tendo realizado mais de quatro mil desde março. Paulo Batista dos Santos acredita que faz a diferença: "identificamos mais casos mas, por outro lado, permite gerir melhor os surtos"..As máscaras são distribuídas numa tenda consoante o número de pessoas do agregado familiar, um maço de cinco descartáveis ou um de três laváveis (tecido) para duas pessoas, todas as semanas. Podem ser pedidas pela online ou diretamente.."Oh menina, mal sei usar o telemóvel, quanto mais a Internet", brinca Manuel Cerejo, 84 anos, percebe-se que gosta de conversa. Opta pelas descartáveis: "Prefiro e posso levar mais quando acabarem, não sei se é por usar sempre máscara, o que sei é que ainda não apanhei nada"..Quando lhe perguntamos o que fazia antes de se reformar, Manuel Cerejo desenrola uma lista de profissões. Trabalhou até aos 19 anos na terra, quando foi para o serviço militar, em Santa Margarida. Uma granada tirou-lhe dois dedos, o que lhe dificultou a vida profissional em Portugal. Acabou por estar emigrado em França 12 anos. É um dos residentes que já fez voluntariamente os testes para despistagem da covid-19. "A Câmara disse que o teste negativo. Não tenho covid, tenho é outras doenças"..São as funcionárias das piscinas municipais que fazem a distribuição das máscaras numa tenda numa das praças da Batalha. O centro está aberto durante a semana, entre as 09:30 e 17:00. excecionalmente ao sábado. Sónia Filipe e Cátia Ferreira,. 24 anos, são duas técnicas superiores de desporto que ali estão deslocadas, num trabalho que é coordenado por Cesaltina Batista, 51 anos, administrativa..As segundas, por causa da feira, e as sextas-feiras, devido ao fim de semana, são as de maior afluência. No dia 5 de novembro deram 382 máscaras descartáveis e 77 laváveis..Ourém não fazia parte dos 121 concelhos confinados no anterior estado de emergência, mas passa a fazer, tal como Alcanena, a partir de segunda-feira com o alargamento para 191. Fátima é a freguesia de Ourém que faz fronteira com Batalha e também sofre da falta de turistas, muitos deles peregrinos. Vão ter de fechar mais cedo e, no fim de semana de 21 e 22, a partir das 13:00.."Se estava péssimo, vai piorar, mas não é só por causa dos limites de circulação em Fátima. A maioria das pessoas que nos visitam são de Lisboa e do Norte, onde há muitos concelhos confinados. Aos fins de semana ainda vinha alguém e, até isso, vai acabar. Neste momento, estou a vender 20 a 30 % do que vendia antes da pandemia", protesta Dina Gomes, 48 anos, proprietária da Paramentaria Santo André.A loja fica na rua principal que liga o centro ao Santuário. Vende artigos religiosos e paramentos, mas também estes saem pouco. "As igrejas estiveram fechadas, as esmolas são poucas e não há festas", diz. Em agosto faturaram um pouco mais, mas o negócio voltou a piorar com as restrições a partir de outubro, limitando muitíssimo o número de visitantes nos dias 12 e 13 de outubro. Registam uma quebra de vendas média na ordem dos 60%..Dina Gomes tem outra loja, também tem de pagar o salário de duas funcionárias. O que vale é que sempre foi "muito precavida", o que lha garantiu ter um espaço próprio e ter um stock de artigos pagos..Os hotéis queixam-se do mesmo mal. Por exemplo, a Fátima Guest House não tem qualquer reserva para os próximos dois fins de semana e, esta semana, tiveram dois clientes na quinta-feira..A Tasquinha, ao lado do santuário, irá fechar no fim de semana de 21 e 22, quando estaria aberta nos dois dias. "O fim de semana é 70 % da nossa faturação. E, ainda assim, todos os meses perdemos 60 a 70 % da receitas, já nem vale a pena comparar com os meses do ano passado O restaurante abriu há 20 anos e, pela primeira vez, tivemos de reduzir o staff, de 10 para cinco funcionários, mais o patrão", lamenta Rúben Marques, o gerente..Em 2019, nos dias de peregrinação, havia filas para entrar no restaurante e, muitas vezes, ao fim de semana. Estão abertos ao almoço e ao jantar mas o forte é a refeição do meio-dia, chegando a servir 350 almoços aos fins de semana. "Agora, já estamos satisfeitos com 30", confessa Rubem. Nunca fechavam, passaram a fechar à quarta-feira..Estarão fechados nos dias 21 e 22 devido às novas restrições. "É uma machadada muito grande. Para já, é só esse fim de semana, mas poderá ser extensível. Não há turistas e estamos a funcionar com pessoas da terra, mas são poucos os residentes", lamenta Rubem Marques. A freguesia de Fátima tem 11 596 habitantes..Esta sexta-feira serviram 20 almoços, um dia bom para os tempos de pandemia. A explicação pode ser a de que, quem pôde, antecipou a saída do fim de semana, como o casal Góis: Vicente, 74 anos, e Maria da Conceição, 67, que vieram ao Santuário com uma paragem mais prolongada na Capelinha das Aparições. "Moramos na Amadora e temos casa em Mafra, dois concelhos confinados. Não vamos poder sair no sábado e viemos passar o dia a Fátima", diz o homem. "Precisávamos de vir, são tempos muito difíceis. Não vemos filhos nem netos, custa muito", completa a mulher.