Vão viver onde? De quê? Quem vai pagar a fatura da segurança, que se contabiliza em milhões anuais? .As perguntas que foram feitas em janeiro, depois de um comunicado de Harry e Meghan informar, via Instagram, o Reino Unido de que o casal desejava um afastamento das obrigações reais e sobretudo da objetiva dos media, passando a ser financeiramente independente, continuam por responder nesta segunda-feira. O dia em que o casal esteve na missa da Commonwealth, na Abadia de Westminster, no que deverá ser a sua última participação numa cerimónia pública antes da "saída" da família real, daqui a 21 dias..31 de março é o dia indicado como aquele em que o filho de Diana Spencer e Carlos, que se mantém sexto na linha de sucessão, e a americana que é sua mulher desde 19 de maio de 2018 perderão o estatuto de "altezas reais" e serão "despedidos" do dever de representar a rainha, tendo de começar a pagar - pelo menos em parte - as suas contas..Que parte, ainda não é sabido: até agora, 5% das despesas eram cobertas pelo Sovereign Grant - um fundo público que financia a rainha e herdeiros - e o restante pelo pai, o príncipe Carlos, que como proprietário do ducado da Cornualha goza de um rendimento de 21 milhões de libras anuais (cerca de 24 milhões de euros). Crê-se que Carlos continuará a contribuir para as despesas do filho, mas não se sabe se na mesma proporção; em 2018, por exemplo, quer Harry quer o irmão mais velho William receberam do pai um estipêndio de 4,9 milhões de libras. Uma boa ajuda para Harry, cuja fortuna pessoal é avaliada em 39 milhões de libras. Já Meghan Markle, antes do casamento, "valeria" cerca de 3,5 milhões..E vão ter de começar já a abrir os cordões à bolsa: uma das determinações da rainha é que o casal reembolse o país do valor das obras feitas em Frogmore Cottage, uma propriedade real que lhes fora oferecida e cuja renovação custou 2,4 milhões de libras ao erário público. Para além disso, Harry e Meghan, que querem manter Frogmore como a sua base no Reino Unido, passarão a ter de pagar renda (não conhecida) por ela..Uma imposição que decerto o casal não esperava, já que o seu comunicado de 8 de janeiro, efetuado na conta de Instagram Sussex Royal, indicava que queriam ser financeiramente independentes mas continuar a assumir algumas obrigações como representantes da família real - o que foi traduzido como "realeza em part-time" - e manter o título Sussex Royal, que tinham já registado e tencionavam usar comercialmente, existindo já um site assim nomeado..Mas essa expectativa foi gorada pelas determinações da rainha, que não admite que a chancela real seja comercializada por privados: no próprio site, que se mantém ainda ativo com a mesma designação, Harry e Meghan assumiram que, apesar de a casa real britânica não ter jurisdição para os impedir de usar o termo "royal" fora do país, iriam abster-se de o fazer..Sair da realeza, mas pouco.Nada, creem alguns observadores, que os impeça de ganhar dinheiro à conta de serem realeza. Robert Watts, responsável pela lista dos "mais ricos" do Sunday Times, estima que Harry, de 35 anos, e Meghan, de 38, não terão dificuldade em multiplicar por três os 355 milhões de libras que se estima que o casal Victoria e David Beckham valem. "Não se pode subestimar a capacidade de atração da realeza, e esse valor é ainda maior nos EUA, Canadá e resto do mundo. É muito possível que daqui a dez anos Harry e Meghan entrem para a lista dos mais ricos, com um valor entre 500 milhões, e que cheguem aos mil milhões a longo prazo.".Como? Desde logo, crê-se, com palestras e participação paga em eventos - como os Clinton e os Obama. Como o evento privado do banco americano JPMorgan, em Miami, Florida, no qual participaram no início de fevereiro e que, de acordo com o que foi adiantado por especialistas, poderia valer-lhes até 400 mil libras (mais de 458 mil euros). Se cobraram ou não honorários não se sabe, mesmo se até à saída oficial dos cargos reais e cessação das dotações públicas, a 31 de março, teoricamente não podem receber dinheiro de privados..Há muitas mais hipóteses de proventos para o casal, que contava lançar linhas de objetos com o logo Sussex Royal e pode fazê-lo usando outra marca. Podem lançar-se na moda (Meghan tinha um blogue de "estilo" antes de se casar), na escrita de livros, associar-se a uma plataforma de streaming. E ela pode voltar, claro, ao que fazia antes: TV e cinema, ser atriz, produtora ou emprestar a voz a personagens de banda desenhada (como sugeriu Harry ao CEO da Disney, Robert Iger, numa cunha apanhada pelas câmaras em janeiro, pouco após o anúncio da rutura)..Certo é que, como se tem comentado, se Meghan tem uma carreira bem-sucedida à qual pode regressar, agora com a aura acrescida de "princesa", Harry, que nem um curso superior tem, foi treinado como piloto de helicópteros - e mais nada. Não estava a contar, naturalmente, precisar de mais: foi criado para ser membro da família real e viver disso. Mas, agora, como irá ser? Estará mesmo preparado para viver da fama, como um banal influencer?.Contribuintes recusam pagar a segurança.Outra coisa que se desconhece ainda é onde exatamente vão os dois viver com o bebé Archie, nascido em maio de 2019. Supõe-se que no Canadá, onde desde novembro têm uma base na ilha de Vancouver, (Colúmbia Britânica), mas também se põe a hipótese de ser na Califórnia, onde reside a mãe de Meghan e esta nasceu. Também nada se sabe do que irá ser a educação do filho, sétimo na linha da sucessão: vão escolher escolas estrangeiras ou optarão por regressar ao Reino Unido quando for altura?.Uma incógnita igualmente é a da segurança dos três. Até agora, tinham direito, por terem o estatuto de "pessoas internacionalmente protegidas" (que se aplica a diplomatas e dignitários de outros países) e de membros proeminentes da família real, a serem guardados pelas Polícias locais no Reino Unido e no Canadá..Agora, porém, isso vai mudar, pelo menos no Canadá, cujo governo já anunciou que não se responsabilizará pela segurança do casal e filho a partir de 31 de março, indo ao encontro daquilo que uma sondagem recente diz ser a opinião de quase 73% dos canadianos. Houve aliás uma petição com 80 mil assinaturas, dinamizada pela federação dos contribuintes canadianos, no sentido de que o país não assumisse esse custo, que chegou a ser estimado em 20 milhões de libras..O mesmo sucedeu no próprio Reino Unido, onde há uma petição online nesse sentido, com a Tax Payer Alliance (Aliança dos Contribuintes) a opor-se a que seja o país a pagar a conta: "O duque e a duquesa de Sussex não podem ter tudo ao mesmo tempo: ou são parte da família real e essa é a sua ocupação profissional, com as obrigações que implica, ou são cidadãos independentes.".O ódio a Meghan, o trauma de Harry e o jogo mortal.Em inglês, a expressão usada pela Tax Payer Alliance foi "working royals", particularmente difícil de traduzir para português. É que "realeza trabalhadora" parece uma contradição absoluta, quase uma piada. Mas é exatamente nessa contradição e nessa ironia que se joga o futuro do casal. O acordo com a casa real britânica é de que ao fim de 12 meses tudo será reavaliado - e, se nada de irredimível acontecer, poderão sempre voltar a assumir os papéis que desempenharam até janeiro..Certo é que Harry e Meghan dificilmente conseguirão com esta mudança de vida livrarem-se daquilo que terá levado à decisão que tomaram - a perseguição constante dos media, nomeadamente a virulência dos tabloides, e a forma como uma parte dos britânicos vê a americana, que ainda nesta segunda-feira foi descrita por uma jornalista convidada num programa de TV como "five clicks up from trailer trash", pela forma como teria desrespeitado a rainha e a família real..A frase, que usa a palavra "trash", lixo, para qualificar Meghan, e que em português significaria algo como "ela é pouco melhor do que uma tipa de bairro de lata", levou à interrupção imediata da entrevista e é representativa da forma incrivelmente agressiva e preconceituosa com que a mulher de Harry tem sido tratada por alguns, facto que muitos atribuem a racismo e que teve grande peso, senão todo, na decisão do casal.."É muito duro", disse Meghan numa entrevista que foi para o ar em outubro, sobre a sua experiência como membro da família real e na qual contou que os amigos a tinham avisado de que os tabloides iam destruir-lhe a vida. "Não percebi como ia ser. E acho que ninguém é capaz de compreender. Nunca pensei que fosse fácil, mas pensei que iria ser justo. E é essa parte que tenho dificuldade em aceitar.".Na mesma entrevista, Harry afirmou: "Não serei forçado a jogar um jogo que matou a minha mãe." Se houver saída.