De um dia para o outro, o governo espanhol pediu desculpas pela "confusão" e prometeu que esta quarta-feira fará a revisão do despacho que obrigava a viajar com certificado de vacinação ou teste negativo à covid-19 os que atravessassem a fronteira entre Portugal e Espanha, notícia que foi avançada pelo DN na segunda-feira.."Ao contrário do que se passou com o caso de Inglaterra, a nossa diplomacia esteve agora muito ativa. A nossa Embaixada em Madrid fez um trabalho exemplar", diz Martins da Cruz ao comentar este retrocesso do governo espanhol..O embaixador frisa que apesar das negociações noite fora entre os dois países para resolver esta situação - com telefonemas do ministro dos Negócios Estrangeiros para o seu homólogo pelo meio -, não existia na base um problema "político"..Martins da Cruz afirma que, pelas informações que lhe chegaram, os técnicos do Ministério da Saúde espanhol decidiram passar a papel químico as medidas que já existiam para quem passasse a fronteira de Espanha com França, "e esqueceram-se que [estas] não existiam em relação a Portugal sobre as travessias de carro entre as suas fronteiras", frisa.."Mas é para isto que existem as embaixadas e a diplomacia", remata..E funcionou mesmo. "O próprio Ministério da Saúde já transmitiu que efetivamente, no que diz respeito a deslocações por terra com Portugal, vai-se voltar onde se estava. Quer dizer, não se vai requerer nenhum tipo de prova, nenhum tipo de protocolo adicional além do que já se pedia", disse María Jesús Montero, porta-voz do governo espanhol, na conferência de imprensa depois da reunião do Conselho de Ministros de Pedro Sánchez..E que protocolo é esse? Basta ir à página do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para obter a resposta sobre a passagem na fronteira terrestre entre Portugal e Espanha, depois de, a 30 de abril, ter terminado, por acordo dos dois países, as limitações à circulação. "Para entrar em Portugal por Espanha não é necessário apresentar comprovativo de realização de teste molecular por RT-PCR para despiste da infeção por SARS-CoV-2 com resultado negativo", refere o SEF. Que adverte para o facto de "os cidadãos provenientes de países com taxa de incidência igual ou superior a 500 casos por 100 mil habitantes (África do Sul, Brasil e Índia) terão de cumprir um período de isolamento profilático de 14 dias no domicílio ou em local indicado pelas autoridades de saúde"..O Executivo espanhol recuou assim na intenção de, "a partir de 7 de junho (segunda-feira), todas as pessoas com mais de seis anos que cruzem a fronteira terrestre entre Portugal devem dispor de alguma das certificações sanitárias exigidas a todos os passageiros que entrem em Espanha por via aérea e marítima"..Logo pela manhã de ontem, fontes diplomáticas tinham garantido ao DN que as autoridades espanholas já tinham reconhecido o "erro" e iriam modificar o documento de forma a repor a situação anterior. O que pouco depois foi confirmado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português.."Tivemos contactos muito intensos a todos os níveis com o governo espanhol durante a tarde e a noite de ontem [segunda-feira], e ainda durante a noite de ontem recebemos a confirmação por parte das autoridades espanholas de que, de facto, se tratava de um lapso que iria ser corrigido hoje [terça-feira], e, portanto, é isso que vai acontecer", disse Augusto Santos Silva em declarações à agência Lusa..O governante explicou que se tratou de uma resolução de um serviço técnico da Direção-Geral de Saúde de Espanha, que "não teve em conta, involuntariamente, o facto de a gestão de uma fronteira não ser apenas responsabilidade das autoridades sanitárias, mas também das autoridades políticas e administrativas, designadamente dos Ministérios da Administração Interna respetivos".."O que é decisivo aqui é que, em primeiro lugar, continua a nossa muito boa prática de gestão conjunta e coordenada da fronteira comum, e, portanto, as decisões que são tomadas sobre a fronteira comum são tomadas coordenadamente entre os dois governos", disse o ministro..E acrescentou: "A circulação terrestre entre Portugal e Espanha continuará facilitada, visto que a situação epidemiológica assim o permite, não sendo exigido a cada um dos cidadãos de ambos os países que circulam na respetiva fronteira a apresentação de teste negativo.".E apesar destas palavras de conciliação, no dia anterior o titular da pasta da diplomacia ameaçava Madrid com a "reciprocidade", ou seja, se as autoridades espanholas não recuassem, Portugal iria exigir as mesmas regras aos espanhóis que nos visitassem. O Presidente da República também estranhou. "Naturalmente, tendo vindo de Espanha há dois dias, acho que não é estranho, é muito estranho que isso tenha ocorrido sem uma palavra ao governo português", afirmou, reforçando: "Eu acompanho o governo, obviamente, naquilo que é a estranheza por, de repente, haver um dos países que adota uma posição unilateral.".paulasa@dn.pt