"Não , não!" Foi assim que Rui Rio respondeu, convicto, à pergunta dos jornalistas da TVI se é "centralizador e ditador". Uma pergunta feita na sequência da demissão do vice-presidente do PSD, Manuel Castro Almeida Rio afirmou na segunda-feira à noite que só quando tem "convicções inabaláveis" é que impõe a sua vontade..Suportou ainda a ideia de que gere o partido de forma aberta e democrática ao admitir que vai integrar nas listas de candidatos às eleições legislativas críticos internos, desde que sejam "leais". Reconheceu que o caminho que tem pela frente não é fácil. "Hoje na política para chegar a qualquer lado é preciso a capacidade de resistência quando devia ser as capacidades da pessoa". Não sabe é se tiver um mau resultado a 6 de outubro se conseguirá resistir na liderança do partido. "O apego a que tenho ao lugar é nenhum, mas apenas a obrigação pelo serviço público e o respeito pela história do PSD. A minha ambição é servir e na altura se verá"..Manuel Castro Almeida demitiu-se da vice-presidência do PSD desde 20 de junho. O antigo autarca de Santa Maria da Feira combinou com o presidente do PSD nada dizer até que Rui Rio o substituísse. O DN sabe que a decisão foi motivada por um acumular de situações, que geraram uma forte "desilusão". Mas a sua saída apanhou de "surpresa" até amigos no partido, já que Castro Almeida não é visto como um "político de ruturas". "Não quero falar sobre o assunto", foi tudo quanto disse ao Público que noticiou a sua saída..O antigo deputado do PSD escreveu uma carta de renúncia a Rui Rio, na qual explica as razões da sua saída. Mas nem essa quis mostrar aos mais próximos no partido. Fontes do PSD garantem, no entanto, que se sentia "desconsiderado" porque nunca era ouvido pelo líder do partido. A gota de água para rutura foi, garantem-nos, o facto de não ter sido discutido na Comissão Permanente, o núcleo duro da direção, os maus resultados das eleições europeias..Rui Rio ainda terá tentado demover Castro Almeida, mas foi em vão. "Não é um homem de ruturas, longe disso, mas quando decide uma coisa está decidido", afirma ao DN um dos amigos sociais-democratas. A chamada crise dos professores, em que o antigo autarca também divergiu da posição oficial do partido, ajudou igualmente a sedimentar esta decisão a poucos meses das eleições legislativas e sabendo que iria causar estrondo..Na noite das eleições europeias, Castro Almeida esteve no hotel do Porto onde decorreu a noite eleitoral do partido e já nessa altura denotava algum desconforto. Instado pelos jornalistas, remeteu sempre todas as posições para o líder do PSD. Castro Almeida também era contra a colagem ao PS e, em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, em abril de 2018, pedia para o PSD intensificar a oposição. Não terá visto com bons olhos, como é óbvio, a possibilidade de a bancada social-democrata se aproximar do PS e do governo para negociar a Lei de Bases da Saúde, o que no final acabou por borregar..No Conselho Nacional em que a moção de censura a Rui Rio foi chumbada, o então ainda vice-presidente do partido fez uma intervenção muito moderada a lembrar que também era amigo de Luís Montenegro, o antigo líder parlamentar desafiante, mas censurou o facto de os críticos estarem a querer abater a direção. Pediu, no entanto, um esforço de aproximação entre a direção e os críticos..Ninguém no PSD acredita que esta rutura tenha alguma intencionalidade política pessoal. "Basta ver que Manuel Castro Almeida ficou até ao fim com Manuela Ferreira Leite, de quem foi vice-presidente, e quando já se adivinhava uma derrota pesada para o partido", frisa uma fonte do PSD, que destaca a "lealdade" do também antigo secretário de Estado do governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas..Um açoriano para a direção.Um dia depois de se saber da rutura, o PSD divulgou um comunicado com o nome do substituto, José Manuel Bolieiro, presidente da Câmara de Ponta Delgada. Um nome que é bastante desconhecido nos meios políticos do continente, mas que tem um vasto currículo na região autónoma..Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, José Manuel Bolieiro é presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada desde 2012, presidente do conselho de administração da Associação de Municípios da Ilha de São Miguel, membro da assembleia intermunicipal da Associação de Municípios da Região Autónoma dos Açores e membro do conselho diretivo da Associação Nacional de Municípios Portugueses..Foi também deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (1998-2009) e exerceu as funções de presidente do grupo parlamentar do PSD e de presidente da Comissão Permanente de Política Geral. Foi secretário-geral do Partido Social Democrata/Açores entre 1997 e 2005 e vice-presidente do PSD/Açores..José Manuel Bolieiro vai entrar para a direção da qual fazem parte Nuno Morais Sarmento, David Justino, Salvador Malheiro, Elina Fraga e Isabel Meirelles..Os elogios ao "risco".A notícia da demissão de Castro Almeida é conhecida no final de uma semana em que Rui Rio anunciou os primeiros dez cabeças-de-lista do PSD às legislativas - nomes inéditos para os círculos de Lisboa, Porto, Braga, Aveiro, Coimbra, Leiria, Beja, Castelo Branco, Setúbal e Santarém..Além de Hugo Carvalho, de 28 anos, que vai liderar a lista de candidatos pelo Porto, Rui Rio escolheu Filipa Roseta, vereadora da Câmara Municipal de Cascais, por Lisboa, a deputada e líder da JSD Margarida Balseiro Lopes por Leiria, a investigadora universitária Ana Miguel Santos (que tinha sido candidata a eurodeputada no 8.º lugar na lista do PSD) por Aveiro, o vogal da Comissão Política Nacional e vereador em Guimarães André Coelho Lima por Braga e a advogada Mónica Quintela, porta-voz para a Justiça do Conselho Estratégico Nacional (CEN), por Coimbra..O "arrojo" foi elogiado dentro e fora do partido, mesmo pelos adversários políticos como Pedro Duarte. Tal como o facto de ter marcado a agenda política com o cenário macroeconómico que enquadra o seu programa eleitoral, seguido das propostas eleitorais para o sistema fiscal, que prevê uma redução de 3,7 mil milhões de euros na próxima legislatura.