Em busca do paciente zero.Conhecer a origem da doença, identificando o primeiro doente que a contraiu, o chamado paciente zero, pode fazer toda a diferença no combate à doença porque permite a partir daí não apenas traçar toda a história da epidemia e identificar pacientes que haviam passado nas malhas dos rastreios, mas também compreender melhor a doença e o que a desencadeou - não se sabe ainda qual é o reservatório do vírus nem como passou a infetar humanos. Esta, porém, tem sido uma tarefa ingrata para os detetives médicos e cientistas, que estão longe ainda de saber quem foi o paciente zero na China, mas também noutros países. Um dos principais problemas é que esta infeção passa inicialmente despercebida porque o período de incubação pode durar até 14 dias e porque em muitos doentes os sintomas são leves ou impercetíveis. Não se sabe quem foi o paciente zero original (na China, onde tudo começou, no final do ano passado), nem noutros países, como a Itália ou o Irão. Poderá levar anos de investigação para se obter essa informação, e é possível que nunca se chegue sequer a saber..Sintomas de uma nova doença.Os sintomas confundem-se com os de uma uma gripe ligeira, com tosse, febre e cansaço geral. Alguns doentes têm dores de garganta, congestão nasal, dores de cabeça e diarreia. Em 80% dos casos, as pessoas recuperam naturalmente, sem problemas. Mas, numa parte dos casos (13,8%), os doentes desenvolvem sintomas severos do foro respiratório, evoluindo para uma pneumonia, acompanhada de falta ar. 4,7% dos doentes evoluem para um estado crítico, que pode incluir choque séptico, incapacidade respiratória e falha múltipla de órgãos. Em 3,4% dos casos, segundo a OMS (pessoas mais vulneráveis devido à idade avançada ou à existência de doenças crónicas), a infeção acaba por causar a morte..Contornos do contágio.Como outras doenças respiratórias, o covid-19 transmite-se através de gotículas de saliva provenientes de espirros e tosse de uma pessoa infetada que ficam no ar e se depositam nas superfícies à sua volta. Cada doente contagia em média 2,3 pessoas, um valor superior ao da gripe, que é de 1,3. O contágio, segundo a OMS, faz-se sobretudo através do contacto com estas superfícies contaminadas, quando as pessoas tocam com as mãos infetadas na própria boca, nariz e olhos. Daí a recomendação de lavagem frequente das mãos. Daí também as imagens que chegam dos países mais afetados, de brigadas sanitárias equipadas com fatos protetores pulverizando com desinfetante escadas, corrimãos, bancos e cadeiras em espaços públicos. A inalação de gotículas contaminadas é outra via de contágio, pelo que a OMS recomenda a distância de pelo menos um metro em relação a pessoas doentes. Desconhece-se ainda se pode haver contágio sexual ou através das fezes e da urina, ou se depois de curado se pode ainda transmitir a doença..Epidemia a várias velocidades no mundo.Surgida na China, onde a primeira pessoa terá sido infetada a 1 de dezembro do ano passado, segundo a estimativa mais atualizada dos cientistas chineses, o covid-19 alastrou rapidamente no país, depois de quatro semanas a infetar silenciosamente a população. O facto de ter coincidido com o Ano Novo chinês, quando milhões de chineses viajam dentro e fora do país para celebrar com os seus familiares, ajudou a dispersar o vírus e a doença. Recorrendo a medidas sem precedentes, que deixaram em isolamento nas suas cidades cerca de 50 milhões de cidadãos, a China conseguiu inverter no final de fevereiro o curso da epidemia. O contrário aconteceu, entretanto, noutros países. Itália, França e Alemanha, Irão e Coreia do Sul são agora os países com maior número de casos. A OMS confirma que, aí, a situação é de transmissão sustentada da doença na comunidade. África, onde há pelo menos 41 casos em sete países, é ainda uma incógnita. E uma preocupação, dada a fragilidade dos seus sistemas de saúde..Mortalidade deste e de outros vírus.Nesta semana, a Organização Mundial da Saúde reviu em alta a taxa de mortalidade do novo coronavírus de 2,3% para 3,4% a nível global. O valor anterior tinha sido calculado a partir de um estudo realizado na China, que tomou por base mais de 44 mil casos da doença naquele país. Por comparação, a gripe sazonal tem uma mortalidade média inferior a 1%. Já a SARS e a MERS, as outras duas infeções respiratórias agudas causadas por coronavírus aparentados àquele que agora aflige o mundo, têm respetivamente 10% e 20% a 40% de taxa de mortalidade. A doença de ébola que tem fustigado África em sucessivos surtos nos últimos anos - há um em fase final neste preciso momento na República Democrática do Congo - tem uma taxa bem mais malta, da ordem dos 80%. O covid-19, como a gripe, de resto, não afeta da mesma forma todas as pessoas. Os mais idosos e os que sofrem de doenças crónicas ou respiratórias são mais vulneráveis e estão por isso mais em risco..Máscaras e proteção.Desencadeada pelo medo e pelos equívocos sobre a sua utilidade nas diferentes circunstâncias, a corrida às máscaras por parte dos cidadãos gerou uma escassez - e também o aumento de preços - que está a preocupar a OMS. A organização das Nações Unidas para a saúde teme que, em plena expansão da epidemia, estes e outros equipamentos essenciais à proteção dos profissionais de saúde, que estão na linha de frente do combate à doença, e por isso mais expostos, venham a faltar, pondo em risco a sua segurança. A OMS, que estima que mensalmente sejam necessários 89 milhões de máscaras para a proteção dos profissionais nesta crise de saúde, apelou, por isso, à indústria e aos governos para que aumentem em 40% a produção destes equipamentos, incluindo fatos, luvas e óculos protetores). O uso de máscara por parte do público justifica-se, segundo os especialistas, no caso de uma pessoa infetada, para não contagiar outras.