A Marinha tinha um défice de 533 praças no final de junho deste ano, face ao número de 4097 vagas autorizadas. Mas com 40% desse défice (149) a incidir no Corpo de Fuzileiros, o ramo adotou medidas experimentais para o segundo curso de 2018 (setembro). Embora provisórios, os resultados mostram que, pela primeira vez desde 2015, se inverteu uma taxa de desistências que chegou aos 77% - e logo para os 44% (ver infografia)..Uma das soluções adotadas foi a de receber os potenciais candidatos nas unidades de Fuzileiros para "um batismo até três dias" - o que "permite evitar que os incorporados venham depois a sentir-se enganados ou, então, frustrados face às altas expectativas com que entraram", explica o porta-voz da Marinha, comandante Pereira da Fonseca..O 2.º comandante do Corpo de Fuzileiros e diretor da escola, comandante Martins Brito, destaca ao DN outra medida: acabar com os tempos mortos dos primeiros dois ou três dias, em que os recrutas acabavam por estar cerca de "oito horas parados em formatura" - ou, como comenta Pereira da Fonseca com uma nota de humor, "a pensar na morte da bezerra" e no que acabavam de perder na vida civil..Essa inação nas formaturas era motivada por razões diversas: corte do cabelo, instalarem-se nas camaratas, receberem uniformes e livros, tirarem fotografias, irem ao refeitório... "Ao estarem à espera, os recrutas começavam a pensar sobre "o que estou a aqui a fazer" e isso não era bom para a sua estabilidade e para superarem o choque da mudança da vida civil para a condição militar", observa Martins Brito. Daí que, no último curso iniciado em setembro de 2018, os jovens "antes de irem cortar o cabelo já estavam a ter atividades de ordem unida" - leia-se aprender a marchar, conhecer as ordens de comando, ficar em sentido ou em descanso, segurar e apresentar a espingarda G3... enfim, "disciplina, rigor, cumprimento de horários", sintetiza o líder da Escola de Fuzileiros..Um "dia da família".Um dado importante no problema das elevadas desistências de candidatos a fuzileiros residia no momento em que ocorriam - nas primeiras cinco semanas da recruta comum a todas as classes de Marinha, em que também se verificava a mesma tendência de elevadas desistências motivadas pela "privação dos telemóveis, por terem tarefas a cumprir ou estarem em regime de prontidão" para desempenharem alguma tarefa, conta o comandante Pereira da Fonseca..No caso concreto dos candidatos para os fuzileiros, esse facto contrariava a ideia generalizada de que desistiam maioritariamente nos dez meses posteriores do curso de operações especiais (de grande exigência física e psicológica). "Mais de 90% dos candidatos fuzileiros desistem nas primeiras cinco semanas", diz o porta-voz. Daí a opção por uma "integração mais lenta e progressiva" dos recrutas à dureza da vida militar, adianta Martins Brito..Outro pilar desta estratégia de incorporação, revela o porta-voz, passou pela criação do "dia da família" em que, no primeiro fim de semana após o início da recruta, "os familiares são convidados a ir à Escola [em Vale de Zebro] para contactarem com os alunos, conhecerem os instrutores e verificarem as condições em que vivem os recrutas".