Web Summit volta com quase 110 mil ligados online e 800 oradores
Da FIL, em Lisboa, para os ecrãs de mais de cem mil pessoas espalhadas pelo mundo. Em tempos de pandemia, a Web Summit decorre neste ano em formato totalmente digital, graças "a uma plataforma que permite, mais do que assistir a conversas online, manter a interatividade e o mais importante para o evento desde que começou, o networking", diz ao DN/Dinheiro Vivo Paddy Cosgrave, fundador da cimeira.
O líder da maior conferência tecnológica da Europa, que começou há dez anos numa sala para cem pessoas, em Dublin, e se mudou em 2016 para Lisboa, prefere evitar polémicas sobre o valor recebido pelo Estado para se fixar na capital (11 milhões de euros) e focar-se no que tentaram criar para substituir a experiência presencial em Lisboa, que nos últimos dois anos reuniu 70 mil pessoas e, neste ano, online, deverá chegar às 110 mil. Este pode ser o maior evento do género a decorrer na internet já que, pelo menos neste ano, as maiores conferências online foram as da Microsoft e a do Financial Times, que reuniram à volta de 50 mil pessoas.
Mais do que destacar a presença de oradores como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o criador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, o autor Deepak Chopra, a atriz Gwyneth Paltrow, o empreendedor Mark Cuban ou José Mourinho, Cosgrave destaca as funcionalidades da plataforma criada para o evento, como o Mingle. "É um encontro ao acaso por videochamada em que durante três minutos podemos falar com uma das mais de cem mil pessoas que estão no evento e tentar recriar aqueles encontros ao acaso entre palcos", indica o irlandês de 37 anos.
Certo é que cimeira começa já nesta quarta-feira, 2 de dezembro, com horário mais tardio do que o habitual (tem início ao meio-dia, por ser online) e abre com António Costa e Fernando Medina, terminando às 20.40 com a atriz e empreendedora Gwyneth Paltrow.
Em destaque também estão áreas como o Q&A, onde os participantes podem fazer perguntas diretamente aos oradores famosos - onde não falta o diretor da Organização Mundial da Saúde, Tedros Ghebreyesus -, masterclasses, salas de conversação várias e um canal (ou palco) dedicado só a Portugal. Sempre presente pela plataforma está a hipótese de interagir e combinar encontros entre startups, investidores, analistas e especialistas.
Já sobre as críticas aos 11 milhões de euros pagos pelo Estado (três milhões da Câmara de Lisboa e o resto do Ministério da Economia), mesmo perante uma versão do evento online, Cosgrave lembra que esse é o valor-base contratado e a fatura total da iniciativa presencial costuma ser superior a 24 milhões (algo que não se verificou neste ano). "É legítimo questionar, claro, mas estou confiante no que fizemos e o que peço é que usufruam primeiro e tirem conclusões depois", admite, indicando que este foi o evento mais caro para a sua empresa (entre receitas e despesas) e que se fosse cancelado havia a hipótese de partir para a Ásia e o direito legal de pedir uma indemnização a Portugal.
Para compensar o país pelo facto de não haver receitas de viagens, hotelaria e restauração, Cosgrave admite que fizeram algo inédito "ao dar 50 mil bilhetes a estudantes portugueses" (os preços das entradas estão agora a 219 euros), além de Lisboa estar presente por todo o evento, de existir agora um palco/canal só dedicado ao país e de haver mais oradores nacionais do que nunca, "que podem mostrar o que de melhor Portugal tem para oferecer".
Pedro Rocha Vieira, CEO da consultora portuguesa de inovação Beta-i, admite que a presença da Web Summit tem dado bem mais retorno ao país do que o valor pago e que o evento online em tempos de pandemia também pode ser aproveitado. "Está a haver uma mudança no modelo de trabalho e podemos captar mais trabalhadores remotos de todo o mundo, altamente qualificados." Rocha Vieira admite que isso não irá substituir o turismo que havia antes, "mas pode ser uma alternativa relevante para o reforço de Portugal como hub de talento global". O que lamenta é a falta de estratégia nacional de inovação do Governo, o que não permite aproveitar melhor a presença da Web Summit.
Já sobre o futuro, Cosgrave espera que em 2021 Lisboa volte a receber 70 mil pessoas e acredita que Portugal vai cumprir com a duplicação da dimensão da FIL já em 2022. "É o que está no contrato assinado e confio que vai acontecer, é fundamental que o evento cresça para termos mais pessoas de países asiáticos e da América do Sul." O objetivo é chegar aos 140 mil participantes na capital, começando já no próximo ano, expandindo o evento à noite para outras zonas da cidade e, eventualmente, do país. Visitas prévias à cimeira tecnológica, com alguns participantes, ao Douro é um dos objetivos.
Como é habitual, nem só de tecnologia vive a Web Summit. São mais de 25 áreas abordadas nas palestras, sessões de perguntas e respostas e conferências de imprensa. Cosgrave destaca o "assunto mais urgente, a pandemia", mas também algo mais duradouro e com hipótese de "mudar a vida no planeta, a digitalização da saúde e do dinheiro".
O ambiente e a sustentabilidade, tal como as soluções tecnológicas que podem ajudar nesse combate, continuam a ser áreas relevantes, mas o líder do evento destaca ainda os impostos às grandes tecnológicas. "França está a implementar um novo imposto às tecnológicas e países europeus como Portugal podem seguir o mesmo caminho, o que poderá fazer toda a diferença, com novas receitas importantes", explica. É precisamente por isso que o ministro da Economia francês vai estar presente na iniciativa, incluindo numa sessão ao lado de Siza Vieira, o ministro da Economia português.
Em destaque também estará o impacto mundial de um novo inquilino na Casa Branca (Joe Biden toma posse a 20 de janeiro), incluindo os efeitos sobre a relação dos EUA com a Europa, e a aposta da China nas criptomoedas. "Estão a lançar a primeira criptomoeda apoiada por um Estado e pode ser um desafio sério à hegemonia do dólar", admite. Todas as áreas da evolução "frenética" da tecnologia estarão igualmente presentes, incluindo a inteligência artificial ligada à biologia.
Entre os 800 oradores do evento, há alguns dos melhores representantes da tecnologia portuguesa, como José Neves da Farfetch, Daniela Braga da DefinedCrowd, Paulo Rosado da Outsystems e Vasco Pedro, da Unbabel.
A Web Summit contará ainda com várias outras celebridades e especialistas de diversas áreas:
<p>- Eric Yuan, fundador e CEO da Zoom Communications
<p>- Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia
<p>- Gwyneth Paltrow, atriz e fundadora da Goop
<p>- Mark Cuban, dono dos Dallas Mavericks e investidor do programa Shark Tank
<p>- José Mourinho, treinador de futebol
<p>- Deepak Chopra, autor
<p>- Philippe Cousteau, CEO da EarthEcho e o filho Jacques Cousteau
<p>- Serena Williams, tenista
<p>- Kevin Hart, comediante
<p>- Pedro Sánchez, primeiro-ministro de Espanha
<p>- Tedros Ghebreyesus, diretor da Organização Mundial da Saúde
<p>- Chris Evans, ator e cofundador de A Starting Point
<p>- Lisa Jackson, vice-presidente da Apple
<p>- Arianna Huffington, fundadora da Thrive Global
João Tomé é jornalista no Dinheiro Vivo