Marcelo Rebelo de Sousa continuar a levar ao Conselho de Estado as principais figuras de referência na organização e regulação da economia mundial..Hoje, especificamente por causa de um convite do Presidente, estará na reunião a mulher francesa que preside ao todo-poderoso FMI (Fundo Monetário Internacional)..Christine Lagarde tem carta-branca do Presidente da República para "falar do quiser", mas o centro da sua intervenção deverá ser a economia internacional - e em particular as consequências do Brexit. A sua intervenção inicial deverá ser divulgada pelo FMI e pela Presidência..Pelo Conselho de Estado já passaram, a convite do Presidente, personalidades como o responsável da UE pelo dossiê do Brexit, Michel Barnier (em 17 de janeiro passado), o secretário-geral da ONU António Guterres (em maio de 2018), o presidente da Comissão Europeia Jean Claude Juncker (outubro de 2017), ou o presidente do Banco Central Europeu Mário Draghi (abril de 2016)..Mas também responsáveis nacionais, como o ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva (em 7 de novembro do ano passado) ou o governador do Banco de Portugal Carlos Costa (março de 2016)..A relação entre Portugal e o FMI começou em março de 1961 e nem sempre foi pacífica. Depois de três intervenções, FMI é sinónimo de austeridade..Ainda as negociações estavam a aquecer e o então diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, dizia que "um país não pode gastar mais do que tem por muito tempo", referindo-se ao estado a que as contas públicas portuguesas tinham chegado..Strauss-Kahn caiu em desgraça, envolvido num escândalo sexual, e foi substituído por Christine Lagarde. A antiga ministra francesa das Finanças chegou a admitir que a receita imposta a Portugal poderia ter ido longe de mais, contrariando os técnicos que, de três em três meses, ao longo de três anos, visitaram Lisboa para avaliar a implementação das reformas e ajustar o programa, ou "calibrar", uma palavra muitas vezes utilizada pelo então ministro das Finanças, Vítor Gaspar, e pelo secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas..As avaliações trimestrais por parte do FMI terminaram quando Portugal pagou, no final do ano passado, a totalidade da dívida contraída junto da instituição, no valor de 28,5 mil milhões de euros e que era cara para o Tesouro. Agora as avaliações passam a ser anuais ao abrigo do chamado Artigo IV, tal como os restantes membros do Fundo..Os rasgados elogios.Depois da chamada "saída limpa", ou seja, sem qualquer mecanismo transitório de acesso aos mercados, Portugal tem sido, por diversas vezes, apresentado como um exemplo de recuperação. O último grande elogio de Christine Lagarde a Portugal ocorreu no passado dia 14 de fevereiro, Dia dos Namorados..A diretora-geral do FMI dirigiu-se a uma plateia de políticos, empresários e gestores de topo na Alemanha afirmando que, "em Portugal, por exemplo, as recentes reformas do mercado de trabalho deram maior flexibilidade às empresas. Como resultado, as empresas estão agora mais dispostas a arriscar em fazer novas contratações e a oferecer contratos permanentes em vez de temporários"..E os elogios não ficaram por aqui. Na opinião de Lagarde, em Portugal "as reformas estão a funcionar". "A maior parte do forte crescimento do emprego nos últimos anos é impulsionado por empregos com contratos permanentes."."Não será tão bom como antes".A líder do FMI está em Lisboa para discutir o Brexit. Christine Lagarde foi convidada pelo Presidente da República depois de ter feito o mesmo com o negociador-chefe da União Europeia para o Brexit, Michel Barnier..Lagarde tem apontado o pior dos cenários para o divórcio entre o Reino Unido e a UE, seja ele amigável ou "litigioso". A diretora-geral do FMI tem repetido os perigos da separação, sobretudo para o lado de lá da Mancha. Ainda no início deste mês afirmou que "nada será tão bom quanto é agora" para a economia do país, com o FMI a prever uma penalização de 6% no PIB britânico. O maior receio prende-se com as tarifas que poderão ser impostas aos produtos, havendo já grandes fabricantes de automóveis a deslocalizarem a produção para fora do Reino Unido..A guerra em que todos perdem.Noutra frente, o FMI tem alertado para os perigos de uma guerra comercial desencadeada pelos Estados Unidos, com ramificações em todo o mundo..Numa recente entrevista ao diário espanhol El País, Christine Lagarde afirmou que "as guerras comerciais não são jogos que possam ser ganhos. Ninguém ganha. Haverá antes menor crescimento, menor inovação, maior custo de vida e os primeiros a perder serão os pobres, os menos privilegiados", rematou a diretora-geral do FMI..A economia a arrefecer.A visita de Christine Lagarde ocorre num momento de arrefecimento da economia mundial. A Europa e a zona euro não escapam ao abrandamento. No final do ano passado, o Banco Central Europeu reconheceu que "a atividade económica mundial deverá desacelerar em 2019 e manter-se estável nos anos seguintes"..E a zona euro não escapa. A instituição liderada por Mario Draghi estima que o crescimento do produto interno bruto dos países da moeda única abrande neste ano e nos próximos..Também Portugal dá sinais de "cansaço" da economia. Em 2018 o crescimento foi de 2,1% e todas as previsões apontam para uma variação em 2019 inferior a 2%. Apenas o Ministério das Finanças e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos (OCDE) mantêm uma projeção de 2,2% e 2,1%, respetivamente.