Isolado, com termómetro e telefone por perto. Como é estar em casa com covid-19
Depois de testarem positivo, mas apresentando sintomas ligeiros, os doentes de covid-19 podem fazer o período de internamento em casa, desde que tenham termómetro, telefone e condições habitacionais. É-lhes prescrito o tratamento, de acordo com os sintomas que apresentam, e recebem telefonemas diários do seu médico ou do delegado de saúde local para monitorizar a sua situação clínica.
Acontece com todos os doentes, até com os profissionais de saúde. Pedro Martins é enfermeiro no Hospital Fernando da Fonseca, mais conhecido como Amadora-Sintra, e encontrava-se a trabalhar no serviço desta unidade hospitalar que desde o primeiro dia recebe doentes suspeitos de covid-19. Começou a ter febre (o único sintoma que continua a apresentar) e fez um teste que confirmou a suspeita: é um dos 853 profissionais de saúde portugueses infetados (em que se incluem 177 enfermeiros), dados divulgados pelo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, na segunda-feira.
"Como sou profissional de saúde, tenho uma linha própria de apoio ao covid-19 e tenho de reportar sintomas mal os tenha. Contactei-a e tomei as devidas precauções, uma vez que já sabia o que tinha de fazer: isolei-me, saí de casa porque tenho filhos pequenos e agora sou seguido por essa linha e pelo delegado de saúde da minha área de residência", diz Pedro Martins. "Fazem-me um check-up diário para saber se há mais sintomas e registam a temperatura corporal, que eu tenho de ver de manhã e à noite. Se houver alguma alteração, tenho um número para o qual devo ligar", acrescenta.
Nenhuma destas indicações difere das dadas a um infetado não profissional de saúde. Estes doentes devem "permanecer em isolamento no domicílio, em cumprimento rigoroso das indicações da Direção-Geral da Saúde", informa o portal da linha SNS 24. A mesma página garante que a progressão da infeção será monitorizada através de telefonemas por uma equipa da Unidade de Saúde Familiar (USF) ou do Centro de Saúde mais próximo.
O tratamento vai sendo adaptado pelos profissionais que acompanham o caso à medida dos sintomas manifestados, uma vez que não existe um medicamento dedicado ao covid-19. D. - um dos 43 recuperados portugueses - curou-se com paracetamol, indicado para quando tinha febre. Os comprimidos foram-lhe entregues ainda no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, onde esteve três dias internado e de onde foi para casa depois de o raio-x não ter apresentado indícios de pneumonia.
Entregaram-lhe ainda um "termómetro de ouvido para medir a temperatura" e um aparelho, que o ensinaram a usar, que "mede a tensão arterial, as pulsações e o nível de oxigenação do sangue, que é o indicador mais relevante nesta situação". "Estes dados eram comunicados por intercomunicador. Quando tive alta, entregaram-me um pacote com cinco máscaras", explica.
Durante a primeira semana, D. diz que lhe ligavam uma vez por dia. "Mas com o passar do tempo, e como os meus sintomas não se agravaram, passaram a ligar a cada dois ou três dias."
Com a entrada em vigor da terceira e última fase do plano nacional de contingência para o novo coronavírus - a fase da mitigação, que prevê contágio comunitário -, ministra e diretora-geral da Saúde anunciaram que cada vez mais os infetados deveriam ser tratados em casa. As estatísticas internacionais apontam que 80% das pessoas infetadas tenham apenas sintomas ligeiros e por isso podem ser acompanhadas no seu domicílio. Percentagem que em Portugal é maior, de acordo com os dados do boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde desta terça-feira: dos 7443 casos confirmados, apenas 627 estão internados no hospital (188 nos cuidados intensivos). Ou seja, 91,6% estão a receber tratamento em casa.
Para poder ser acompanhado em casa, as autoridades de saúde devem garantir que existem condições de habitabilidade e isolamento, como ter acesso a uma casa de banho (preferencialmente individual), a saneamento básico, a telefone ou telemóvel e ter um cuidador.
No dia-a-dia, os restantes moradores da casa (se não tiverem possibilidade de ir temporariamente para outro local) devem guardar distância em relação ao doente, mantendo-se em divisões diferentes. O doente deve permanecer sozinho num quarto bem ventilado, com a porta aberta e onde exista uma janela.
Também a movimentação do paciente infetado pela casa deve ser reduzida ao indispensável e deve evitar-se os espaços partilhados, como a cozinha e a casa de banho, se houver possibilidade (que, mais uma vez, devem manter-se arejados tanto quanto possível).
É fundamental reforçar as medidas de higiene. Lavar sempre as mãos, principalmente após qualquer contacto com a pessoa doente ou com os objetos que a rodeiam. Não partilhe lençóis, toalhas, pratos, talheres e, depois da utilização, lave estes objetos bem, com água quente. O mesmo é válido para todas as superfícies, divisões da casa utilizadas pela pessoa com covid-19.
É conveniente limpar todos os dias o quarto onde a pessoa passa mais tempo, desinfetar a mobília, as maçanetas e os interruptores com detergentes, depois aplicar lixívia ou desinfetante, evitando ao máximo tocar diretamente em objetos como escovas de dentes, cigarros e esponjas do contaminado.
Em relação ao lixo feito pela pessoa infetada, este deve ser isolado, fechado dentro de um saco e depois dentro de um balde com tampa, também devidamente coberto com um saco de plástico.
Todas as pessoas que vivem com um infetado pelo novo coronavírus devem permanecer também em vigilância pelas autoridades de saúde e ficar atentas ao aparecimento de sintomas coincidentes com os deste vírus (febre acima dos 38º C, dificuldade respiratória, tosse contínua). Em caso de dúvida, ligue para a linha de SNS 24 (808 24 24 24), em vez de se dirigir a um serviço de saúde, evitando a propagação do vírus.