A gestão da TAP espera ultrapassar o número de passageiros transportados em 2019, último ano completo pré-pandemia, daqui a dois anos, em 2026, mas com receitas em média mais altas nesse ano recorde. A informação consta nas análises feitas pela EY e pelo Banco Finantia para a Parpública, às quais o DN teve acesso..De acordo com o documento, de acesso restrito, da EY - intitulado Projeto Wright (uma referência aos irmãos Orville e Wilbur Wright, pioneiros da aviação?) - a TAP transportou em 2019 cerca de 17,05 milhões de passageiros, seguido dos dois anos mais impactados pela pandemia, 2020 e 2021, em que a companhia de bandeira portuguesa registou, respetivamente, 4,65 milhões e 5,82 milhões de passageiros..No ano completo de 2022, a realidade da TAP regressou para números mais perto do ano recorde de 2019, com 13,75 milhões de passageiros transportados. E fechou o ano passado, 2023, ainda melhor: com 15,82 milhões de passageiros. As duas principais concorrentes nos aeroportos portugueses, a easyJet e a Ryanair, deram a volta à pandemia logo em 2023, com mais passageiros transportados em 2023 do que em 2019, tanto a nível global (169 milhões para a Ryanair e 83 milhões para a easyJet), como no mercado português..Luís Rodrigues, CEO da TAP. FOTO: Reinaldo Rodrigues / Arquivo - Global Imagens.Para já, a gestão da TAP espera fechar este ano e o próximo ainda abaixo de 2019. Em 2024, a TAP espera transportar 16,83 milhões de passageiros e, em 2025, um pouco abaixo do recorde, nos 17,04 milhões. Apenas em 2026 antevê ultrapassar os números de 2019, com um total de 17,35 milhões de clientes transportados..No entanto, as receitas com passageiros têm vindo a subir e a TAP espera fechar este ano com um total de 3,9 mil milhões de euros em receitas com passagens, acima dos 3,5 mil milhões com que fechou 2023, indica o documento Projeto Zeus, do Banco Finantia, também para a Parpública no âmbito da privatização..Para 2024, a gestão da TAP, citada no documento, espera ultrapassar os quatro mil milhões de receita com passagens. O documento não indica no mesmo quadro a diferença entre o custo e a receita com cada passageiro (normalmente em cêntimos)..Ainda assim, ambos os documentos indicam que a TAP conta transportar menos ou o mesmo número de passageiros, mas com maiores receitas por cada passagem vendida, sobretudo no longo curso. A tarifa média implícita da TAP no longo curso passa dos 309 euros em 2019 para 511 euros no final de 2023, subindo depois para uma estimativa de 512 euros este ano e 519 euros em 2028. No médio curso e nas curtas distâncias as diferenças são menores: os 117 euros da tarifa média implícita no médio curso em 2019 dá lugar a 135 euros de média este ano e 139 em 2028. Na curta distância a curva é semelhante, mas estas são rotas que terão cada vez menos peso nas contas da TAP..Ao DN, Pedro Castro, especialista em aviação da Skyexpert, diz que os investidores interessados na TAP (para já a Lufthansa, a IAG e a Air France) vão estar a olhar mais para as receitas das passagens e não apenas para o número de passageiros transportados, isto apesar de a aviação ser um negócio de volume..“Em termos de investimento aeronáutico a questão mais interessante é avaliar a evolução das receitas globais, da receita unitária, a margem operacional e os compromissos contratuais (liabilities), incluindo os acordos de empresa. Na parte das receitas, a TAP tem surpreendido pela positiva. Mas isso está totalmente ligado ao facto de a TAP concentrar as suas operações num aeroporto esgotado onde tem 50% dos movimentos”, diz Pedro Castro. A questão quantitativa do número de passageiros, acrescenta o especialista, “num cenário em que a TAP dispõe de 10 aviões menos do que em 2019 não é um tema tão central em termos de investidor. Com 10 aviões a menos, isso até é expectável e está justificado”..Para Pedro Castro, os investidores poderão fazer “um teste de stress” que assenta na seguinte pergunta: como é que a TAP se comportaria num aeroporto não-esgotado? “No passado, em aeroportos nacionais não-sgotados - como Porto, Faro e Funchal - a TAP falhou e abandonou esses aeroportos”, complementa..As duas análises da EY e do Banco Finantia para a Parpública, datados de setembro de 2023, avaliam a TAP entre cerca de 750 e 1145 milhões de euros.