Setor têxtil reclama apoios ao 'lay-off' e à formação para evitar mais encerramentos
Artur Machado / Global Imagens

Setor têxtil reclama apoios ao 'lay-off' e à formação para evitar mais encerramentos

Ana Dinis, diretora-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal avisa que aos postos de trabalho já perdidos se juntarão muitos mais “se nada for feito”.
Publicado a
Atualizado a

A Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) alerta para as dificuldades vividas no setor devido à quebra na procura, avisando que sem medidas como o ‘lay-off’ simplificado e apoios à formação encerrarão cada vez mais “empresas viáveis”.

Temos que ter algum tipo de medidas para ajudar as empresas que sejam viáveis e boas empresas a conseguirem passar esta fase”, afirmou a diretora-geral da ATP, Ana Dinis, em declarações à Lusa.

Avançando como exemplos o regresso do ‘lay-off’ simplificado e dos programas de formação em contexto de trabalho, a dirigente associativa enfatizou: “Temos de apoiar as empresas em algum tipo de medidas de apoio à tesouraria e à liquidez”.

Já quanto a “outras medidas, nomeadamente as linhas de crédito”, Ana Dinis afirma que “não resolvem nada”, porque “as empresas que estão com dificuldades não vão fazer mais investimentos e endividar-se mais”.

“Há algumas empresas – e não estou a dizer que sejam todas [as que têm fechado nos últimos meses] - que estavam muito bem e tinham feito fortes investimentos em sustentabilidade e na digitalização, e agora, com uma quebra na procura, é complicado pagar esses investimentos, porque foram feitos empréstimos e estão com muitas dificuldades em continuar a responder a todas as suas responsabilidades financeiras”, referiu.

Garantindo estarem em risco “boas empresas, muito bem organizadas, e não empresas de vão de escada”, a dirigente da ATP salienta que “os fortes investimentos que fizeram têm que ser pagos, mas quando há quebras na procura e não entra dinheiro é complicado”.

Segundo explicou, todo o setor têxtil europeu está a ressentir-se de um “acumular de circunstâncias que estão a afetar negativamente as condições de negócio desta indústria”, desde a inflação à subida dos juros e às plataformas de ‘ultra fast fashion’, que têm vindo a penalizar fortemente a procura.

“Desde o ano passado que vimos a alertar para isto e esta questão dos EUA [as tarifas impostas pela administração de Donald Trump] também não veio ajudar em nada”, salientou.

Destacando que, a nível europeu, toda a indústria “está a sentir exatamente a mesma coisa”, Ana Dinis alerta ser "realmente preciso que a Comissão Europeia e o Parlamento tomem medidas”.

Este tema da ‘ultra fast fashion’ está a ter um impacto gigantesco, quer na indústria, quer no comércio mais tradicional, incluindo até no próprio comércio de rua. Na União Europeia [UE] já andamos há dois anos a discutir este tema, mas não tem daqui saído rigorosamente nada”, lamentou.

Adicionalmente, o acordo alcançado com os EUA para aplicação de tarifas de 15% às exportações europeias “também vai ter um impacto”, porque alguns produtos têxteis era taxados abaixo desse limiar.

“Não podemos dizer que o que estamos a sofrer agora já está relacionado com isso, mas é verdade que muitos operadores, nesta inconstância sobre o que ia ou não acontecer, atrasaram encomendas ou fizeram encomendas mais pequenas, o que também tem algum impacto”, explicou a diretora-geral da ATP.

Por outro lado, antes de chegar a acordo com a UE, "os EUA impuseram taxas ainda mais elevadas a um conjunto de outras origens que consideram ainda mais penalizantes do que a Europa", nomeadamente a produtos chineses e de outros países asiáticos, levando-os a tentar escoar alternativamente as vendas para a Europa e inundando este mercado com materiais "produzidos, muitas vezes, em condições de concorrência desleal".

Assumidamente “apreensiva” quanto ao desenrolar da situação nos próximos meses, sobretudo face à “inação total quer a nível dos Estados-membros, quer a nível das próprias instituições comunitárias”, Ana Dinis avisa que aos postos de trabalho já perdidos se juntarão muitos mais “se nada for feito”.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt