A Ryanair vai encerrar todos os voos para os Açores a partir de março de 2026, alegando as elevadas taxas aeroportuárias e "a inação do Governo", anunciou esta qinta-feira, 20 de novembro, a companhia aérea de baixo custo.A Ryanair anunciou “que irá cancelar todos os voos de/para os Açores a partir de 29 de março de 2026, devido às elevadas taxas aeroportuárias (definidas pelo monopólio aeroportuário francês ANA) e à inação do Governo português, que aumentou as taxas de navegação aérea em +120% após a Covid e introduziu uma taxa de viagem de dois euros, numa altura em que outros Estados da União Europeia (UE) estão a abolir taxas de viagem para garantir o crescimento de capacidade, que é escasso".A ANA - Aeroportos de Portugal, empresa que gere as infraestruturas aeroportuárias em Portugal, é detida pelo grupo francês Vinci.A companhia argumenta que "infelizmente, o monopólio da ANA não tem qualquer plano para aumentar a conectividade de baixo custo com os Açores", acrescentando que a ANA "não enfrenta concorrência em Portugal – o que lhe permitiu obter lucros monopolistas, aumentando as taxas aeroportuárias portuguesas sem qualquer penalização – numa altura em que aeroportos concorrentes noutros países da UE estão a reduzir taxas para estimular o crescimento".A Ryanair defende que o Governo "deve intervir e garantir" que os aeroportos nacionais – "uma parte crítica da infraestrutura nacional, especialmente numa região insular como os Açores – sirvam para beneficiar o povo português e não um monopólio aeroportuário francês".Anúncio recebido com surpresa pela ANAA ANA – Aeroportos de Portugal disse que o anúncio da Ryanair é uma “surpresa”, revelando que “as recentes conversas” estavam “orientadas no sentido de aumentar, e não reduzir” a oferta.Fonte oficial da ANA destacou à Lusa que “a declaração da Ryanair constitui uma surpresa, sendo as recentes conversas com a companhia irlandesa orientadas no sentido de aumentar, e não reduzir a sua oferta de voos para Ponta Delgada”.O grupo, detido pela francesa Vinci, disse que “as taxas aeroportuárias em vigor nos Açores, as mais baixas da rede” ficaram inalteradas em 2025, “não tendo a ANA proposto qualquer aumento para 2026”.Governo “surpreendido” com argumento da Ryanair já que taxa nos Açores é a mais baixa da EuropaO Governo já veio manifestar a “surpresa” com argumentos da Ryanair sobre fim da operação nos Açores, lembrando que a taxa desta rota é a mais baixa da Europa e que a companhia recebeu dezenas de milhões de euros em incentivos.Em resposta escrita à Lusa, fonte oficial do Ministério das Infraestruturas afirmou que, na sequência do comunicado da Ryanair sobre o alegado impacto das taxas aeroportuárias no encerramento da sua operação nos Açores a partir de março de 2026, não podem “deixar de expressar surpresa face às afirmações transmitidas pela companhia aérea”.O ministério liderado por Miguel Pinto Luz contrapôs que “a taxa de rota aplicada aos Açores é a mais baixa da Europa e que a taxa de terminal se situa entre as mais reduzidas”.Segundo a mesma fonte, “as taxas de navegação aérea, cobradas pela NAV e que incluem a taxa de rota e de terminal, são calculadas de acordo com um mecanismo definido pela EUROCONTROL, comum a todos os Estados-Membros, e resultam diretamente dos custos operacionais e, de forma geral, do volume de tráfego”.A tutela acrescentou que “a taxa de terminal tem registado uma trajetória descendente desde 2023, passando de aproximadamente 180 euros para os atuais 163 euros”.Quanto às taxas cobradas pela ANA – Aeroportos de Portugal, o Governo sublinhou que “a proposta de taxas reguladas para 2026 não prevê qualquer aumento face a 2025, mantendo-se nos 8,14 euros por passageiro desde 2024, o que coloca Portugal entre os países com taxas aeroportuárias mais competitivas da Europa”. .ANA diz que “conversas recentes” com Ryanair indiciavam reforço da operação nos Açores . De acordo com a concessionária, “essa redução de custo em termos reais (isto é, retirando o efeito da inflação) não pode assim justificar a mudança de posição da companhia”. Governo Regional considera comunicado extemporâneo A Secretaria Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas dos Açores, por seu lado, manifestou-se “surpresa” perante o comunicado da Ryanair, que considera “extemporâneo” e que contraria declarações do seu CEO.Segundo uma nota de imprensa daquela Secretaria Regional, “de acordo com a informação disponível à data, a Visit Azores está ativamente empenhada e a manter contactos diretos e regulares com a Ryanair, pelo que o comunicado emitido hoje é entendido como extemporâneo”.O presidente da Visit Azores, responsável pela promoção turística dos Açores, considerou o anúncio da saída da Ryanair da região como uma “forma de pressão negocial”, alertando que o processo não está “completamente fechado”.Com “este tipo de comunicado da Ryanair, nós, infelizmente, já estamos habituados. É a forma como fazem a sua pressão negocial dentro das conversações que vão fazendo nas regiões onde atuam”, afirmou Luís Capdeville Botelho à agência Lusa, cnsiderando que não será inocente o ‘timing’ da comunicação. "Acho que não é motivo, neste momento, de real preocupação. É apenas uma forma de fazer pressão num momento específico do ano”, reforçou..Visit Azores diz que Ryanair está a fazer “pressão” e que saída não está fechada .CEO da Ryanair acusa ANA de aumentar taxas para pagar novo aeroporto.Ryanair pede reforços nas fronteiras e intervenção do Governo. “A reputação de Portugal está a ser afetada”