A crise no setor da restauração está a adensar-se à boleia do aumento dos custos e da quebra na procura, o que motivou já o encerramento de mil estabelecimentos nos últimos meses. Depois de um ano adverso para os negócios, também a época festiva do mês de dezembro ficou aquém das expectativas, pressionada por um recuo de 20% nas reservas face a 2024.“No Natal e na passagem de ano os restaurantes têm casa cheia, contudo, a procura caiu cerca de 20%, cenário que tem pautado o último trimestre, e as festas não chegam para compor as contas”, refere ao DN Daniel Serra, presidente da ProVar, Associação Nacional de Restaurantes. O responsável justifica que as famílias e os grupos de amigos estão a optar, cada vez mais, por se reunirem em quintas de eventos e hotéis em detrimento dos restaurantes. “Estes espaços geralmente oferecem o jantar com animação a um preço fechado, que são opções que não estão disponíveis nos restaurantes e as pessoas acabam por preferir estes locais”, afirma. Esta é a machadada final num 2025 que foi “dramático para o setor”, diz, desde logo porque também a operação durante os meses de época alta se revelou insuficiente para reforçar a tesouraria.“Este ano os empresários não tiveram este balão de oxigénio que é o verão e que ajuda sempre a restauração a resistir aos restantes meses. O verão foi anémico, ao contrário do que é normal. Normalmente, nas zonas turísticas e balneares, o verão é muito forte e isso não se verificou”, aponta. São vários os fatores que têm contribuído para manter os clientes longe dos restaurantes e a fatura mais pesada a pagar no final de uma refeição é um deles. “Os preços continuam a subir muito devido à elevada inflação das matérias-primas o que impacta os valores praticados e, aliando isto a uma perda do poder de compra, resulta em menos idas aos restaurantes”, indica. A alteração nos hábitos é outra das variáveis que tem retirado rentabilidade à restauração. “Quem vai aos restaurantes faz um consumo cada vez mais moderado. Evita entradas, sobremesas e vinhos, pede um prato a dividir por três ou quatro pessoas e, no fim, o ticket médio é muito baixo e o restaurante tem um encaixe medíocre”, salienta o presidente da ProVar. Por fim, também a forte concorrência dos supermercados, que têm apostado na abertura de zonas de restauração, tem criado mossa nas contas. “Nas zonas turísticas estes espaços estão completamente cheios. É verdade que o turismo está em alta no país, mas quem viaja gasta no avião e no hotel, deixando a restauração para terceiro plano porque o dinheiro não dá para tudo. E obviamente que os turistas notam os preços mais altos nos restaurantes, acabando por fazer apenas uma ou duas refeições e depois optam por alternativas mais baratas como estes supermercados”, retrata. Para Daniel Serra, o atual quadro no setor é “bastante preocupante” e nem nos tempos da covid-19, que levou ao encerramento dos estabelecimentos, a corda apertou tanto os proprietários dos negócios. “Muitos empresários têm-me dito que têm saudades da pandemia. Nessa altura as salas estavam fechadas, mas vendia-se comida para fora e havia apoios, a operação não era tão preocupante. Agora vivemos a tempestade perfeita”, lamenta..Mais de mil restaurantes fecharam portas este ano.Os dados de 2025 ainda não estão fechados, mas a ProVar tem já contabilizados mais de mil restaurantes que encerraram desde janeiro. A tendência é a de que os números continuem a aumentar, principalmente depois deste final de ano que massacrou ainda mais as tesourarias depauperadas após um verão atípico. “A situação torna-se insustentável e a única saída é fechar portas. Há muitos empresários a querer abandonar o negócio e a querer desistir. Nunca se viram tantos restaurantes à venda, basta consultar os sites de imobiliário para confirmar os números, é a consequência desta crise”, elucida o representante da Associação Nacional de Restaurantes. Daniel Serra explica que os restaurantes que estão a fechar são, sobretudo, de gastronomia portuguesa. Por outro lado, destaca, o saldo entre aberturas e encerramentos é positivo, mas alerta que os espaços que estão a abrir são de cozinha internacional o que considera ser “extremamente preocupante” por colocar em causa o “património imaterial que é a gastronomia portuguesa”. “ A cozinha tradicional portuguesa está a desaparecer. A nossa restauração está a ser substituída por negócios vindos de outros países como a cozinha italiana ou oriental. Estas cozinhas têm maior rentabilidade porque as matérias-primas são mais baratas e menos nobres e conseguem resistir melhor às crises. É preocupante porque se começarmos a substituir a gastronomia nacional, começamos a importar em detrimento de consumirmos produtos nacionais e acabamos com uma importante parte da economia local”, justifica. Daniel Serra diz que a restauração não vislumbra, atualmente, nenhuma luz ao fundo do túnel e pede a intervenção do Governo, nomeadamente através da redução do IVA, dos atuais 13% para os 6%, nas categorias dos produtos alimentares sujeitos a transformação, de forma a permitir “ mitigar uma parte dos problemas e também estagnar a subida de preços”.“Não gosto de ser pessimista, mas a perspetiva é a de que a situação piore no próximo ano com mais encerramentos. Não vemos uma luz ao fundo do túnel a não ser que o Governo esteja atento e vá ao nosso encontro nas soluções que apresentamos e aí sim, a esperança volta”, apela..Crise na restauração. Empresas não estão a conseguir pagar os empréstimos covid