O uso da Inteligência Artificial como ferramenta preponderante para o futuro do turismo esteve no centro da discussão no primeiro dia do Tourise 2025, conferência global que ocorre em Riade, na Arábia Saudita, e teve início na manhã desta terça-feira, 11 de novembro. A cerimónia de abertura foi conduzida por Ahmed Al-Khateeb, ministro do turismo saudita, que afirmou que o Tourise chegou para ser um evento anual na capital de seu país, visando moldar os próximos cinquenta anos do turismo global.Segundo o ministro, o fórum pretende “conectar o setor público, o setor privado e as ONGs para debater desafios e oportunidades em torno da tecnologia, da inteligência artificial, da conectividade e do investimento”. Ao concluir, deixou claro o espírito do encontro: “Esta é uma conferência diferente. Não queremos ser demasiado formais, queremos refletir, mas também nos divertir.”“Com o turismo, cidades e países, especialmente na África, América Latina, Caribe e Pacífico, terão a oportunidade de trabalhar, de ganhar dinheiro e de viver bem”, afirmou Al-Khateeb, ao destacar que o setor representa cerca de 10% do PIB mundial, o equivalente a 11 mil milhões de dólares e 10% dos empregos globais. O ministro salientou ainda que o turismo emprega atualmente 357 milhões de pessoas e deverá criar 90 milhões de novos postos até 2034: “Há um défice de 40 milhões de profissionais que precisa de soluções urgentes”, sublinhou um dos homens de confiança de Mohammed bin Salman. O príncipe herdeiro lidera o ambicioso programa Visão 2030, que pretende diversificar a economia saudita e reduzir a dependência do petróleo, colocando o turismo, o desporto e a inovação tecnológica no centro da nova identidade do país. A inédita conferência em Riade, que decorre até quinta-feira (13), surge no âmbito dessa visão e recebeu milhares de participantes nesta manhã de abertura. .Após a intervenção de Ahmed Al-Khateeb, que é também o presidente do Tourise 2025, Jordi Hereu Boher, ministro da Indústria e do Turismo em Espanha, foi convidado a palco para dissertar sobre o sucesso de seu país no setor. O catalão destacou os 96 milhões de visitantes que passaram por Espanha no último ano, gerando uma receita de 1,6 mil milhões de euros.À intervenção de Boher, seguiu-se o primeiro painel, intitulado “Tourism Rising: A New Era of Influence & Impact”, que reuniu líderes mundiais como Faisal bin Fadhil Alibrahim, ministro da Economia e Planeamento da Arábia Saudita; Daniela Santanchè, ministra do Turismo de Itália; Gabriel Escarrer Jaume, presidente do grupo Meliá; e Thomas Woldbye, CEO do aeroporto de Heathrow.Referindo-se à experiência do grupo Meliá em destinos como Caribe e Sudeste Asiático, Escarrer afirmou que a empresa quer “ajudar a desenvolver um modelo turístico pioneiro na Arábia Saudita”, baseado em padrões elevados de governança, responsabilidade social e ambiental. “O maior desafio da indústria hoje é atrair e reter talentos, especialmente jovens. As novas gerações procuram propósito e valores e é isso que temos de oferecer”, completou.Para o espanhol, o turismo “já não é apenas um motor económico, mas uma força estratégica capaz de reposicionar países no cenário global”. O executivo espanhol sublinhou que a sustentabilidade é hoje uma exigência e não um luxo: “A preocupação ambiental antes era algo ‘bom de ter’. Agora é uma necessidade. Ou se tem, ou está fora do negócio”.No mesmo painel, o ministro Alibrahim destacou o papel do turismo como vetor de desenvolvimento urbano e inclusão para os próprios sauditas. “Quando melhoramos uma cidade para o turista, melhoramos também para quem vive nela. O turismo cria valor intergeracional, empregos sustentáveis e novas capacidades institucionais”, afirmou Alibrahim que, nos últimos cinco anos, viu 147 mil cidadãos sauditas (homens e mulheres) entraram formalmente no setor do Turismo no país.Na sequência, a mesa “Trade Winds & Travel Flows: A Shifting Economic Order” colocou em debate os impactos das transformações geopolíticas e tecnológicas sobre o turismo. O ministro de Investimento saudita, Khalid A. Al-Falih, sublinhou o momento de "efervescência positiva”, que o setor vive no seu país, impulsionado por infraestrutura de ponta e pela combinação entre cultura, espiritualidade e hospitalidade.“Temos o dever e a oportunidade de desenvolver essa rede de valor. A Arábia Saudita é abençoada com história, património e diversidade natural. Queremos que isso seja o coração do novo turismo global”, afirmou Al-Falih.IA e o futuro do turismoA inteligência artificial, tema central do Tourise 2025, foi tratada como aliada indispensável para enfrentar os desafios de um setor em expansão acelerada. No painel “Digitizing the Expected, Humanizing the Unexpected”, especialistas de tecnologia, hospitalidade e aviação analisaram o papel dos algoritmos na personalização das viagens e na eficiência das operações turísticas, mas sem abrir mão da dimensão humana.“O que os viajantes recordam não é o processo tecnológico, mas as emoções que viveram”, afirmou Luis Maroto, CEO da Amadeus, destacando que a IA deve atuar “de forma invisível”, simplificando tarefas e libertando tempo para experiências significativas. Para Paul Griffiths, diretor do Aeroporto Internacional do Dubai, “a inteligência artificial é um facilitador, não o produto final. O produto é a conexão emocional entre pessoas”.A mesma ideia foi reforçada por Yaser Al-Onaizan, especialista saudita em dados e IA, que defendeu uma integração ética da tecnologia: “A inteligência artificial deve compreender-nos nos nossos próprios termos. Quanto mais natural e intuitiva for a interação, mais humana será a experiência de viagem.”Mesmo com a visão humanizada dos oradores, os números divulgados pela organização do evento dão o mote de que o futuro do turismo passa pela IA. O mercado de soluções baseadas em inteligência artificial voltadas para o turismo deve crescer de 3,37 mil milhões de dólares, em 2024, para 13,86 mil milhões até 2030, evidenciando que a tecnologia deixará de ser um complemento operacional para se tornar pilar essencial da experiência turística e da competitividade global do setor.Entre os exemplos apresentados, destacaram-se projetos de destinos inteligentes e aeroportos que utilizam reconhecimento facial, tradução em tempo real e predição de fluxos de visitantes. Gao Zheng, vice-ministro da Cultura e Turismo da China, revelou que sistemas baseados em IA que calculam o movimento reduziram, de uma hora para 20 minutos, o tempo médio de transporte entre cidades turísticas chinesas.Findadas as mesas de debate do evento, a programação do primeiro dia do fórum ainda contará com a gala dos Tourise Awards, que distinguirá os melhores destinos do mundo em categorias como Cultura e Artes, Aventura, Gastronomia, Compras e Entretenimento e pretende ser um marco anual do fórum. Entre os finalistas estão Paris, Quioto, São Paulo, Marraquexe, Dubai e Al-Ula, esta última uma das apostas centrais do turismo saudita, símbolo da Visão 2030 e um dos destinos favoritos de Cristiano Ronaldo. O craque português também esteve presente no primeiro dia do evento, falou sobre a sua influência no turismo do país e sobre sua paixão pela Arábia Saudita. nuno.tibirica@dn.pt.Cristiano Ronaldo diz ter Arábia Saudita no coração e elogia Mohammad bin Salman: "Big boss".Arábia Saudita recebe Tourise 2025. Cimeira global promete moldar o futuro do turismo