Christine Lagarde, presidente do BCE.
Christine Lagarde, presidente do BCE.Foto: RONALD WITTEK / EPA

Lagarde. Salários estão a crescer "acima do esperado" e BCE está "particularmente atento" a isso

Remunerações por trabalhador estão a subir 4%, valor superior ao esperado "e isso deveu-se a pagamentos acima dos salários negociados [como na contratação coletiva]", avisou a chefe do BCE.
Publicado a
Atualizado a

"Estaremos particularmente atentos aos salários" e "falámos bastante sobre a questão dos salários" na reunião do Banco Central Europeu (BCE), que decorreu esta quarta e quinta-feira, em Frankfurt, revelou a presidente da autoridade monetária.

"Os custos unitários do trabalho cresceram a uma taxa ligeiramente superior à do segundo trimestre" e "a remuneração por trabalhador aumentou 4% em termos anuais, um valor superior ao esperado nas projeções [dos especialistas do Eurossistema] de setembro e isso deveu-se a pagamentos acima dos salários negociados [como na contratação coletiva]", avisou Christine Lagarde, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), esta quinta-feira, na conferência de imprensa que se seguiu aos dois dias de reunião de política monetária e de taxas de juro.

Este aviso não é novo, mas no encontro desta quinta em Frankfurt, o BCE sobe ligeiramente o tom, dizendo até que a incerteza pode estar a piorar.

Recentemente, o BCE reforçou a tónica de que a evolução dos salários é crítica para poder manter a inflação e os juros estáveis nos 2% atuais.

A ideia é que a evolução dos salários deve abrandar e ser muito mais moderada, sobretudo no setor dos serviços, porque está a afetar a evolução prevista da inflação.

Há pouco mais de uma semana, no Parlamento Europeu, na comissão de economia e finanças, Lagarde explicou que "a redução da inflação em direção à nossa meta de médio prazo [2%] foi sustentada por uma moderação gradual do crescimento dos salários, que passou de um pico de 5,7% no segundo trimestre de 2023 para 3,9% no mesmo trimestre deste ano".

"Falámos bastante" sobre salários

Mas, volvido pouco mais de uma semana, a mesma Lagarde indica que a incerteza sobre a questão salarial pode ter aumentado.

Na sala do Conselho de Governadores, que fica no 41º andar do arranha -céus e sede do BCE, "falámos bastante sobre a questão dos salários" na reunião desta quinta dia 18, em Frankfurt, disse a chefe do BCE aos jornalistas.

Segundo Lagarde, "o aumento da inflação dos serviços está relacionado com os salários".

Embora "os indicadores prospetivos, como o indicador salarial do BCE e os inquéritos sobre as expectativas salariais, sugiram que o crescimento dos salários irá abrandar nos próximos trimestres, antes de estabilizar ligeiramente abaixo dos 3% no final de 2026", notamos também que "as perspetivas para a inflação continuam a ser mais incertas do que o habitual, devido à persistência da volatilidade do ambiente internacional".

O desvio nos indicadores de incerteza face ao habitual "não mudou muito, pode até ter piorado", atirou.

Lagarde insistiu que "uma redução mais lenta das pressões salariais pode atrasar o declínio da inflação dos serviços", ou seja, vai continuar a ser uma fonte de risco e de maior preocupação para o BCE.

Se a inflação descola outra vez dos 2% e começa a subir, o BCE terá de voltar a subir taxas de juro, é essa a mensagem de fundo,

Além disso, "um aumento das despesas com a defesa e as infra-estruturas poderá também elevar a inflação a médio prazo" e "os eventos climáticos extremos e as crises climáticas e ambientais em curso podem aumentar os preços dos alimentos mais do que o previsto", explicou a banqueira central.

Christine Lagarde, presidente do BCE.
BCE mantém taxa de juro em mínimo de 2% pelo sexto mês consecutivo

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt