“Há condições para o novo aeroporto de Lisboa estar a funcionar em 2031, se não está a acontecer é porque alguém não quer”, afiançou esta quarta-feira, 22, Maria do Rosário Partidário. A professora catedrática, que coordenou a Comissão Técnica Independente (CTI) para a escolha do novo aeroporto da região de Lisboa, deixou duras críticas ao calendário apresentado pela ANA para a execução da nova infraestrutura em Alcochete, durante a sua intervenção na conferência Mobi Summit.“O aeroporto irá perder competitividade se não se despachar, Madrid não está a olhar para o lado. O que mais me confunde é a posição do Governo: se o aeroporto em Portugal deixar de dar lucro a Vinci vai-se embora e quem perde a oportunidade é Portugal”, assegurou.Recorde-se que na no relatório inicial sobre o desenvolvimento da capacidade aeroportuária de Lisboa (High Level Assumption Report), entregue ao Governo em dezembro do ano passado, a ANA propôs um prazo de seis anos para a construção do novo aeroporto. No cronograma da concessionária, a previsão é de que a nova infraestrutura esteja operacional em 2037.Também Rosário Macário, que falava no mesmo painel dedicado à nova cidade aeroportuária, garantiu que é possível encurtar os prazos para a construção do Luís de Camões. “Tecnicamente é possível ter um aeroporto a funcionar em 2031 com duas pistas, não com uma cidade aeroportuária completamente amadurecida, mas é possível. Não há nenhuma razão para pensar que não seria possível fazê-lo. A alternativa de Alcochete é fácil se houver vontade política e se a concessionária assumir as responsabilidades. É possível ter um aeroporto a funcionar em 2031 e quanto mais depressa for feito, melhor”, corroborou.Para a professora catedrática que ficou responsável pela coordenação da planificação aeroportuária na CTI, os atrasos na concretização do projeto e a manutenção da operação na Portela estão a gerar prejuízos. “A manutenção do aeroporto Humberto Delgado tem hoje um prejuízo enorme, temos hoje mais prejuízo por ter o aeroporto a funcionar do que o investimento necessário para acelerar o processo do Luís de Camões”, defendeu.“Os prazos podem ser reduzidos se o projeto for tratado em termos de conceção e construção em conjunto, se forem peças separadas atrasará”, acrescentou.A especialista defendeu ainda, conforme sugerido no relatório final da CTI, que a Portela feche portas “o mais depressa possível” assim que a nova infraestrutura em Alcochete estiver operacional. “É preciso que haja uma transferência de um aeroporto para o outro. Numa transferência há sempre muita coisa que pode correr mal, é verdade, mas a operação dual gera um grande conflito entre o aeroporto e as companhias aéreas. Há a questão de quem é que vai para o grande aeroporto e de quem fica no pequeno bem como a diferença de qualidade entre um e outro”, elucidou.Rosário Macário assegurou que manter uma estratégia de hub numa infraestrutura dual “é desastroso”. “Tende a arrastar-se, a não se conseguir consolidar e gera um enorme conflito entre os utilizadores do aeroporto. É desejável que se feche um aeroporto e que se abra o outro de seguida. Não nos faltam competências para fazer esta operação”, frisou..Alterações ao território serão positivas e alta velocidade é essencial.A Área Metropolitana de Lisboa (AML) será alvo de uma reconfiguração com a construção do novo aeroporto, desde logo, pela criação das acessibilidades como a Terceira Travessia do Tejo ou a nova linha de alta velocidade. “A AML vai mexer bastante, e não só o município de Benavente, vários outros territórios terão alterações. Estas alterações, de uma perspetiva alargada, só podem ser boas porque a AML tem estado a crescer mal e uma das razões é que está a crescer na ausência de planeamento. Não se vai fazer um novo aeroporto para destruir território, mas para criar território”, apontou Maria do Rosário Partidário.O planeamento, defendeu ainda Rosário Macário, é uma peça fulcral no processo. “A cidade aeroportuária um conceito muito atraente e que muita gente gosta de falar, mas não aparece por milagre. É preciso haver um planeamento estratégico de toda a região onde está inserida. Esta é uma das principais vantagens de Alcochete: tem uma densidade e potencial de desenvolvimento que permite ter um impacto económico superior às outras opções que foram estudadas”, recorda.A professora sustenta que é “preocupante” que a tónica atual da discussão esteja apenas assente no aeroporto e não no planeamento da região. “É preciso discutir para que possa tirar benefício da infraestrutura. Caso contrário, perdemos a oportunidade de todos os benefícios que estão associados e que revertem a favor da região e do país, como o turismo, os empregos e os serviços”, enumerou.Também Nuno Marques da Costa, professor do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, afinou pelo mesmo diapasão. “O plano regional de ordenamento do território tem de ser realizado. Com o aeroporto vem toda uma transformação não só de atividades económicas, mas de vários setores que têm de ser reorganizados. Temos de intervir a tempo neste território para evitar erros que podem surgir agora e que depois têm grande dificuldade de, no futuro, serem resolvidos”, alertou. Já Bernardo Trindade, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), lamentou que se estejam a discutir os prazos do novo aeroporto sem atentar aos constrangimentos atuais da Portela. “Temos de olhar para a realidade atual e não estamos a entregar aos turistas a qualidade a que nos habituamos. O Estado está a falhar e custa-me estarmos a falar num prazo de 12 anos e que nos esqueçamos do que é fundamental que é fazer face às necessidades atuais. Queremos respostas hoje”, pediu.O empresário apontou o dedo às longas filas na fronteira que têm deixado os passageiros retidos durante várias horas na última semana por causa dos problemas de implementação do novo sistema europeu de controlo automatizado de fronteiras externas, o Entry/Exit System (EES). “O controlo de acesso de pessoas a Portugal é a imagem que estamos a transportar para todo o mundo. Cada vez que falhamos, o que estamos a mostrar como país que somos incapazes de nos organizar”, reiterou.“O que se passa atualmente no aeroporto de Lisboa é a demonstração clara de como o Estado falhou e falha diariamente. Setores de monopólio, como os aeroportos, não devem ser concessionados”, reforçou.O Mobi Summit é uma iniciativa organizada pelo Diário de Notícias, Dinheiro Vivo, Jornal de Notícias, Motor24 e TSF..Ryanair pede reforços nas fronteiras e intervenção do Governo. “A reputação de Portugal está a ser afetada”