O regime jurídico da cibersegurança, que resulta da transposição da diretiva comunitária NIS2 para a legislação nacional, carece ainda de melhorias em várias matérias, nomeadamente no que se refere às medidas destinadas ao desenvolvimento económico e competitividade do país, defende um grupo de trabalho independente liderado pela Sedes - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social. Como o articulado ainda não foi transposto para a lei portuguesa devido à queda do anterior executivo, o grupo entrega esta segunda-feira, 23 de junho, ao governo um conjunto de propostas para melhorar a futura legislação.Entre as principais recomendações, estão a alteração da designação do responsável de cibersegurança, o alargar as “medidas de cibersegurança” para “medidas de segurança da informação” e o reforço das matérias destinadas ao desenvolvimento económico e da competitividade do país, através da Estratégia Nacional de Segurança do Ciberespaço, soube o Diário de Notícias. Recorde-se que a proposta legislativa do regime jurídico de cibersegurança foi alvo de consulta pública em dezembro de 2024, na qual a Sedes participou, e esteve quase para para ser aprovada pelo anterior governo. Mas a queda do executivo e as eleições legislativas que se seguiram ditaram o adiamento. Agora, que voltou à mesa de trabalhos, a Sedes “considerou oportuna esta contribuição proativa deste grupo de trabalho”, que se constituiu informalmente no final do ano passado. O reforço das contribuições deve-se, também, ao facto de a transposição da diretiva NIS2 “ir afetar milhares de entidades que atuam em Portugal em setores essenciais como a energia, os transportes, a saúde ou as infraestruturas digitais e respetivos fornecedores, categoria onde se enquadra a grande maioria das PME portuguesas”. A proposta de lei deverá ser aprovada em breve pelo governo e depois seguir para discussão no Parlamento, que este grupo de trabalho promete monitorizar. O grupo é constituído por elementos da Sedes que, em conjunto com a Ordem dos Economistas e da recém criada Apecsys - Associação para a Promoção do Ecossistema Digital Sustentável, elaboraram um conjunto de recomendações, algumas inspiradas na lei espanhola. “Este contributo vai além das questões técnicas, que são muito relevantes, e alerta para a necessidade de o governo transformar esta legislação num instrumento de alavanca da competitividade da economia portuguesa à escala internacional, num sector decisivo como é o da cibersegurança e da segurança da informação”, realça João Annes, membro da Sedes.Para este especialista em cibersegurança, as novas propostas que vão chegar ao governo “podem transformar Portugal num polo de atração de talento e investimento em cibersegurança, e não apenas um exportador de talento que é construído nas nossas universidades”.Já Luís Rosendo, secretário-geral da Apecsys, frisa que “as recomendações feitas agora ao governo para o novo regime de cibersegurança têm uma pertinência acrescida, desde logo pelo facto de sublinharem a necessidade de substituir a designação de 'Responsável de Cibersegurança' por 'Responsável de Segurança da Informação' e garantir que a função assegura uma abordagem holística que abrange não apenas a vertente tecnológica, mas também os aspetos organizativos, humanos e processuais”. Além da mudança semântica, “é uma opção estratégica para posicionar Portugal no panorama internacional de cibersegurança e que concorre com aquilo que os espanhóis puseram na sua proposta de legislação”, defende. Na sua opinião, reflete também “as melhores práticas a nível mundial.”A Apecsys foi constituída formalmente há pouco mais de um mês com o objetivo de participar na organização institucional do ecossistema digital em Portugal. A associação, que reúne membros da Sedes e da Ordem dos Economistas, promove hoje a sua primeira sessão de trabalho sobre resiliência digital e o novo regime jurídico da cibersegurança, num evento que decorrerá em Matosinhos. Para esta nova entidade, os maiores desafios do ecossistema digital são a cibersegurança, a proteção de dados, a Inteligência Artificial e a computação quântica. São matérias que “vão muito além das questões técnicas, envolvendo a mobilização de recursos financeiros e humanos para transformar o conhecimento, o enquadramento normativo, os processos de negócio e as infraestruturas de suporte”, defende..Cibersegurança. “Não ter, pelo menos, um plano de resiliência, é o mesmo que jogar à roleta russa”.Novo regime de cibersegurança aprovado sem “fardo excessivo” para as entidades.Cibersegurança: "Estamos na III Guerra Mundial" e a tecnologia "está em todos os aspetos da nossa vida"