O Governo quer os transportes rodoviários a consumirem entre 1% e 5% de hidrogénio verde até 2030. Para o transporte marítimo doméstico, o patamar deverá ser de 3% a 5% e, na indústria, o limiar fixado é entre 2% a 5%, a atingir nos próximos cinco anos. Estas são algumas das novas metas da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) com o objetivo de “duplicar a capacidade prevista de eletrolisadores para 5,5 GW até 2030”. Quando a estratégia foi lançada em 2020 a meta era de 2,5GW.E as empresas já começaram a responder à chamada. Só no último mês, surgiram dois projetos empresariais que se começam a posicionar neste mercado. Um deles é uma parceria 100% nacional entre o grupo Petrotec e o Grupo Salvador Caetano, que acaba de inaugurar uma estação de hidrogénio em Ovar, a única desenvolvida com tecnologia portuguesa, para abastecimento exclusivo dos autocarros a hidrogénio da Caetano Bus, num investimento de dois milhões de euros. A Caetano Bus é uma empresa líder com mais de 200 autocarros movidos a hidrogénio produzidos para exportação e a Petrotec é igualmente líder na construção de postos de abastecimento com terminais de pagamento, presente em várias geografias, que criou a marca Hellonext para o hidrogénio.O outro projeto é da HyChem, que abriu o primeiro posto de abastecimento de hidrogénio verde em Santa Iria da Azoia, a 12 kms de Lisboa, para uso público com a nova marca para a mobilidade, a Hy2Move. A estação destina-se a veículos pesados e ligeiros e é apenas um dos projetos que integra um plano de investimento superior a 40 milhões de euros da HyChem, antiga Solvey. A empresa produz mais de um milhão de toneladas de hidrogénio verde por ano para uso industrial. E aguarda a conclusão do concurso público para injetar na rede de gás natural num pipeline entre a Póvoa de Santa Iria e Freiras. Uma obra avaliada em 5 milhões de euros.Com efeito, a nova estratégia nacional prevê a injeção de 10% a 15% de hidrogénio verde nas redes de gás natural até 2030.O Governo tem afirmado que quer acelerar o desenvolvimento da economia do hidrogénio em Portugal, promover o investimento e descarbonizar a economia, através de legislação, regulamentação e incentivos ao desenvolvimento de projetos inovadores.Na frente das infraestruturas, o foco da atenção do Governo está nos projetos nas áreas de produção, armazenamento, transporte e consumo de hidrogénio, incluindo um projeto industrial em Sines.Mercado precisa de escala“O Estado tem de fazer com o mercado do hidrogénio o mesmo que fez no passado com a mobilidade elétrica. Tem de investir e de incentivar o investimento para que apareça a procura, porque a tecnologia já existe”, disse o diretor-geral da Hellonext (grupo Petrotec), Hugo Rigor, em declarações ao DN.Sem incentivos que permitam ganhar escala, “os preços do hidrogénio como ‘combstível’ ficam muito pouco competitivos face ao fóssil”, admite aquele responsável. Só para se ter uma ideia dos valores em causa, “enquanto o combustível fóssil custa três a cinco euros por quilo, o hidrogénio verde custa entre sete a 12 euros por quilo para ser competitivo no transporte pesado”.Hugo Rigor acredita que só quando o mercado ganhar escala será possível esbater este diferencial de preços, o que espera que só comece a acontecer por volta de 2030.Mesmo assim, avisa, “o hidrogénio nunca será muito competitivo para veículos ligeiros, o seu potencial está sobretudo no transporte de pesados”. Um camião ou um comboio, pela sua maior dimensão, não exige mecanismos de tão elevada compressão que acabam por consumir muita energia se forem usados num veículo ligeiro, tornando-se uma solução ineficiente.Mas tem imensa vantagem para o abastecimento de uma frota de autocarros versus a solução bateria elétrica. “Estes autocarros, da Caetano Bus por exemplo, podem ser carregados em 30 minutos ou mesmo em 15 minutos”. E têm a vantagem de desocupar espaço e peso, ao contrário do que acontece com os que são movidos a bateria elétrica.No mercado português, a produção de hidrogénio verde é ainda muito irregular, entre o grande e o muito pequeno. Um desses exemplos é no município de Cascais, para abastecimento de frota municipal de transporte rodoviário.Em junho deste ano, o Fundo Ambiental, tutelado pelo Ministério do Ambiente e Energia, aprovou a seleção final de 17 projetos no âmbito do concurso referente ao reforço de hidrogénio e gases renováveis, uma medida integrada no regulamento REPowerEU financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Entre os beneficiários estão entidades como a Mota-Engil Bioenergy, Recivalongo, Bioenergia GBP I, AGERE, Laboratórios Basi, PTSunHydrogen, Paradigma Milenar, Símbolo Exigente, Sãra Green Energy, H2Zone e La Sabina Green Energies.Na ocasião, o ministério referiu que a dotação total de 70 milhões de euros apoia projetos com elevada pontuação técnica e alinhamento com os objetivos estratégicos do país e da União Europeia em matéria de transição energética.