Os contribuintes portugueses recuperaram 3,5% das ajudas concedidas ao sector financeiro desde 2008, quando começou a grande crise bancária.De acordo com o Tribunal de Contas (TdC), nos pareceres da Conta Geral do Estado (o mais recente, sobre o exercício de 2024, foi entregue ao Parlamento no passado dia 8 de outubro), o valor máximo em apoios (valor líquido, descontando juros e capital que foram sendo recuperados) atingiu o máximo em 2021: 22,049 mil milhões de euros.Desde esse ano, a fatura com os bancos totalmente falidos (como BPN, BPP, Banif e BES) tem vindo a descer, mas o retorno é muito lento.De acordo com cálculos do DN a partir dos dados oficiais, entre 2022 e 2024, o Estado (os contribuintes) conseguiu reaver 765 milhões de euros, cerca de 3,5% do tal prejuízo máximo apurado em 2021 pelo auditor.Assim, falta ainda saldar 21,3 mil milhões de euros (96,5%), valor que, em grande parte, foi atirado pelos sucessivos governos (desde 2008) para a dívida pública, alimentando a despesa em juros, que sobrecarrega as contas públicas.Mesmo com a dívida a descer, a parcela devida em juros aos credores está a subir e ultrapassa já os seis mil milhões de euros por ano (em contas nacionais, lógica de compromisso).Em 2025, em contabilidade de caixa (a das Finanças), a fatura dos juros que tem mesmo de ser paga aos credores já vai em sete mil milhões de euros.Neste passado recente, sabe-se que, sem capacidade financeira aparente para responder às pesadas exigências dos bancos em apuros, o Estado teve de se endividar para ir amparando o descalabro.A ajuda pública foi referida como essencial, sobretudo no início da crise e até ao colapso estrondoso do BES, cuja fatura imputada aos contribuintes na conta BES/Novo Banco é a maior, ascende atualmente a um prejuízo de 8,3 mil milhões de euros que continua por saldar, segundo Tribunal.Ajuda generosa que, segundo os decisores no poder, terá evitado a derrocada do sistema financeiro português ferido que esteve, por diversas vezes, de "risco sistémico".Seja como for, passados esses anos de chumbo, a fatura que a República ainda carrega por causa dos bancos continua a ter um peso enorme.Os 21,3 mil milhões que continuam por saldar (valor apurado pelo TdC no final de 2024) equivalem a 8% da dívida pública em stock; ou a 7,4% do Produto Interno Bruto (PIB).Isto acontece num país em cujos os sucessivos governos tentam entregar défices mínimos ou excedentes orçamentais sucessivos, ano após anos, para tentar aliviar as necessidades de endividamento. Este ano, o governo quer entregar um excedente de 0,3% do PIB; no próximo, a meta é de 0,1%.O peso da dívida pública, o critério maior de avaliação sobre a sustentabilidade das finanças nacionais, ronda atualmente 90% do PIB.Sem o fardo herdado dos bancos, podia ser já muito inferior e a pressão sobre a "necessidade" de entregar orçamentos equilibrados para cumprir o Pacto de Estabilidade muito menor, eventualmente.As contas do Tribunal de ContasSegundo novo parecer da Conta Geral do Estado (CGE 2024), "os apoios ao setor financeiro, em termos líquidos [prejuízo], atingiram 21.284 milhões de euros" no final de 2024.Sobre o ano de 2024 apenas, o TdC refere que, "mantendo a tendência iniciada em 2022, o saldo entre as receitas e as despesas associadas aos apoios públicos ao setor financeiro foi favorável ao Estado (305,6 milhões de euros)".A receita encaixada pelo governo no ano passado "ascendeu a 306,1 milhões de euros (314,6 milhões de euros em 2023) e resulta de dividendos entregues pela CGD (190,9 milhões de euros) e pela Oitante (56,2 milhões de euros), bem como do pagamento de um empréstimo por parte da Parvalorem (59 milhões de euros)".A Oitante é o veículo financeiro que ficou com as sobras do Banif, intervencionado em 2015.A Parvalorem é o maior fundo, que herdou os restos do BPN, nacionalizado com estrondo em 2008.Mas, mesmo com recuperação de alguns ativos e a devolução de empréstimos por parte dos fundos 'par', neste caso de 2024 a Parvalorem, o BPN representa ainda hoje um rombo de seis mil milhões de euros nas contas públicas portuguesas.É tanto quanto a fatura que o Estado tem de pagar anualmente em juros aos credores, por exemplo.Já a despesa realizada no âmbito dos apoios aos bancos em 2024 "totalizou 500 mil euros (21 milhões de euros em 2023) e deveu-se à concessão de um empréstimo ao Fundo de Recuperação de Créditos (FRC)", diz o auditor.Uma variedade de situaçõesNa conta global dos prejuízos com a banca portuguesa há muitas e diversas situações.Por exemplo, a CGD exigiu verbas avultadas aos contribuintes nos últimos, fruto de duas recapitalizações de valor significativo, mas, em todo o caso, é um banco público que consolida nas contas públicas, e tem vindo a devolver em dividendos elevados a ajuda que recebeu.Segundo o Ministério das Finanças, na nova proposta de Orçamento do Estado para 2026, "o primeiro semestre de 2025, a CGD apresentou um resultado líquido consolidado de 893 milhões de euros, à semelhança do alcançado no período homólogo, impulsionado pelo crescimento do volume de negócios".E "assinala-se a distribuição de 850 milhões de euros em dividendos, elevando para 3.350 milhões de euros o dividendo total distribuído desde 2017".Assim, depois de em 2022 a tendência ter finalmente invertido a favor dos contribuintes, com um ligeiro alívio de 166 milhões de euros na fatura dos apoios à banca, mais uma redução de 294 milhões em 2023, em 2024, o alívio repetiu-se com menos 306 milhões.Em 2024, esta diminuição "resulta, na sua maioria, do recebimento de dividendos", em cerca de 247 milhões de euros, a maior fatia vinda da CGD.Cada caso é um casoComo referido, o prejuízo maior até à data emerge do conjunto BES/Novo Banco.Do prejuízo total imputado aos contribuintes portugueses que soma atualmente 21,3 mil milhões de euros, 8,3 mil milhões (40%) tinham a marca BES no final do ano passado, confirma o Tribunal de Contas na CGE.Os bancos de pequena dimensão destacam-se pela proporção das ajudas exigidas ao erário público.O fardo por saldar com o BPN ascendia a 5,9 mil milhões de euros. O Banif estava nos 2,9 mil milhões. O BPP ainda representava um rombo de 263 milhões de euros.Dos bancos que durante a crise tiveram a ajuda do Estado, apenas o BCP e o BPI pagaram aos contribuintes os apoios obtidos com benefícios acrescidos.O BCP gerou um 'lucro' para o erário público de 919 milhões de euros. O BPI reembolsou os apoios, devolvendo um extra de 168 milhões de euros. Contas do TdC no parecer da CGE de 2024.