Valdis Dombrovskis, comissário europeu da Economia. Bruxelas, 17 de novembro de 2025.
Valdis Dombrovskis, comissário europeu da Economia. Bruxelas, 17 de novembro de 2025.Foto: EPA / OLIVIER HOSLET

Comissão Europeia. Défice é baixo mas pode emagrecer mais quando o governo acabar com desconto no ISP

Fim integral do apoio aos combustíveis daria um impulso enorme às contas públicas no ano que vem, na ordem dos 1,1 mil milhões de euros. Défice de 0,3% passaria a excedente de 0,1%.
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Portugal deve regressar a uma situação de défice público no ano que vem, equivalente a 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB), mas o comissário europeu da Economia sinalizou que essa previsão não é uma fatalidade ou um dado adquirido já que esse valor final para o saldo orçamental ainda incorpora a despesa fiscal muito elevada, que decorre das medidas de apoio às famílias e empresas ao nível do ISP e da taxa de carbono, que continuam a manter os preços dos combustíveis em valores mais baixos do que seriam normais sem essa subsidiação ainda em vigor.

Valdis Dombrovskis, o comissário, disse, na conferência de imprensa sobre as novas previsões económicas, em Bruxelas, que está à espera que o governo apresente um plano para acabar com o referido apoio ao nível do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos (ISP) e da taxa de carbono.

Há anos que a CE insiste com Portugal e outros países para terminarem essa subsidiação, que, argumenta, distorce o mercado e acaba por ser um incentivo ao consumo de gasolina e gasóleo (poluentes).

"Estamos a pedir ao governo português que remova as medidas de apoio à energia que vêm sendo aplicadas desde a crise energética, na sequência do início da guerra da Ucrânia, mas até ao fecho destas previsões da Comissão, o governo de Portugal ainda não tinha anunciado a eliminação dessa medida e, por isso, ela continua a ser levada em conta nas nossas previsões”, explicou Dombrovskis.

Na semana passada, o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, disse, à margem de uma reunião do conselho europeu sobre as Finanças, em Bruxelas, que a Comissão Europeia “não impôs nenhuma data” no que respeita ao fim do apoio aos combustíveis e que esse plano de desmame, quando o governo avançar, "será gradual".

Nas novas previsões, a CE espera um saldo orçamental nulo em Portugal este ano, que no próximo ano passa a défice de 0,3%.

"A nossa projeção difere da previsão do Governo que é de excedentes de 0,3% este ano e de 0,1% do PIB no próximo”, observou o comissário europeu.

No entanto, o fim completo do apoio aos combustíveis daria um impulso enorme às contas públicas, pois pode representar um aumento anual na receita superior a 1,1 mil milhões de euros.

Segundo a análise do Conselho das Finanças Públicas (CFP) ao OE 2026, o acréscimo de receita fiscal decorrente da extinção do desconto de ISP, da atualização da taxa de carbono e da maior coleta de IVA respetiva em 2026, "resultaria num ganho adicional de receita de 1.132 milhões de euros (0,4% do PIB), caso a reversão destas medidas avançasse no início do próximo ano e de forma integral".

Segundo as contas do CFP, divulgadas há menos de um mês, o impacto anual direto do aumento de receita esperada com a atualização integral das taxas de ISP podia ascender a 873 milhões de euros.

A atualização da taxa de carbono em 2026 daria uma coleta adicional de 47 milhões de euros por via do consumo de combustíveis e "a acrescer a estas duas componentes, que constituem parte integrante do preço dos produtos petrolíferos, estaria ainda uma receita adicional de IVA, no valor de 212 milhões de euros”, explicou o mesmo Conselho das Finanças.

Ou seja, tudo considerado, e só por esta via (aumento de 0,4% do PIB em receita), o défice público de 0,3% da CE desapareceria e o país ficaria com um excedente de 0,1%, valor que, por acaso, é exatamente igual à meta de Miranda Sarmento para 2026.

Recorde-se que os descontos no ISP da gasolina e do gasóleo foram introduzidos em 2022 e 2023, na sequência da crise energética espoletada pela guerra na Ucrânia e pela inflação anormalmente elevada que a guerra gerou, bem como pelo aumento agudo dos preços dos alimentos.

Na conferência de imprensa, o comissário Dombrovskis explicou ainda que as suas previsões menos abonatórias para as Finanças portuguesas (saldo nulo este ano e défice no próximo) tem ainda a ver com "as nossas estimativas mais prudentes sobre o crescimento da despesa, nomeadamente a despesa corrente".

O responsável da CE aproveitou para desdramatizar estas novas previsões, recordando que "vale a pena salientar que a previsão da Comissão para o próximo ano é, ainda assim, mais otimista do que a previsão do Conselho de Finanças Públicas, que prevê um défice de 0,6% do PIB, e também do Banco de Portugal, que aponta para um défice de 1,3%".

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