Valdis Dombrovskis, comissário europeu da Economia. Bruxelas, 17 de novembro de 2025.
Valdis Dombrovskis, comissário europeu da Economia. Bruxelas, 17 de novembro de 2025.Foto: EPA / OLIVIER HOSLET

Bruxelas. Mercado laboral português vai continuar bom, com criação de emprego forte e desemprego baixo

Comissão Europeia prevê "que o desemprego continue a diminuir num contexto de forte criação de emprego", mesmo com a lei laboral atual. Défices públicos regressam em 2026 e 2027, ainda que ligeiros.
Publicado a
Atualizado a

As contas públicas devem terminar este ano em equilíbrio (saldo de 0%) e em 2026 e 2027 regressam os défices, ainda que ligeiros; já o mercado de trabalho, mesmo com a lei atual que o governo pretende flexibilizar, vai continuar "forte", com o emprego a bater sucessivos recordes e o desemprego a diminuir, prevê a Comissão Europeia (CE), nas novas previsões económicas, divulgadas esta segunda-feira, em Bruxelas.

De acordo com o novo estudo, apresentado pelo comissário Valdis Dombrovskis, "prevê-se que o desemprego continue a diminuir num contexto de forte criação de emprego".

"O mercado de trabalho mantém-se dinâmico à medida que o emprego atinge novos máximos", sublinha a CE.

As novas previsões indicam que o peso da população desempregada em Portugal deve terminar este ano nos 6,3% da população ativa e depois aliviar para 6,2% em 2026 e 6,1% em 2027, valores que estão colados aos mínimos históricos registados na economia portuguesa nos últimos 30 anos (desde 1995).

O emprego vai continuar a bater sucessivos máximos históricos até 2027, ainda que o seu crescimento possa ser mais moderado. A criação líquida de postos de trabalho deve acelerar para 1,7% este ano, suavizando para 1,1% no próximo e 0,9% em 2027.

Segundo a nova avaliação da conjuntura feita pela Comissão, "apesar de alguma moderação no turismo, a criação de emprego recuperou a dinâmica durante o verão de 2025, contribuindo para uma diminuição gradual da taxa de desemprego para uma média de 12 meses de 6,3% a partir de agosto de 2025, em comparação com 6,5 % em 2024".

"Tanto a procura como a oferta de mão de obra aumentaram a um ritmo acelerado, elevando a taxa de emprego a novos máximos históricos no segundo e terceiro trimestres de 2025" e "projeta-se que o crescimento do emprego registe uma ligeira moderação ao longo do horizonte de previsão, ao passo que o desemprego deverá diminuir gradualmente para uma média anual de 6,1% em 2027", indica o novo estudo.

Ainda sobre a atividade económica, a CE diz que "a procura interna deve continuar a apoiar o crescimento económico em Portugal", embora "num contexto de incerteza do comércio mundial".

Economia aguenta

Mesmo assim, o crescimento da economia aguenta-se bem.

A CE manteve inalterada a previsão de crescimento para 2026, em 2,2% (variação real do PIB, isto é, expurgando já a inflação). Está em linha com a previsão do governo, que no Orçamento do Estado para o ano que vem prevê 2,3%. Em 2027, o ritmo da economia mantêm-se em torno dos 2,1%.

Nos próximos dois anos, diz a CE, "o consumo privado continua a crescer a um ritmo constante, num contexto de aumento do rendimento das famílias e de uma diminuição gradual da elevada taxa de poupança".

O investimento cresce "ainda mais rapidamente do que o consumo privado em 2025 e 2026, quando a utilização dos fundos do Mecanismo de Resolução e Resiliência [o fundo que financia o PRR] atingir o seu pico".

As importações devem "aumentar mais rapidamente do que as exportações, embora se preveja que o diferencial de crescimento diminua a partir de 2026".

O país continuará com uma posição externa excedentária, ou seja, mesmo sendo um importador crónico, as exportações e os termos de trocam evitam o retorno dos grandes desequilíbrios macroeconómicos do passado. "Prevê-se que a balança corrente do país permaneça em território positivo, uma vez que o aumento previsto dos volumes de importação é parcialmente compensado pela descida prevista dos preços das importações de produtos energéticos em 2025 e 2026".

Da mesma forma, a inflação também parece estar sob controlo, depois da crise energética de 2022 e 2023, e dos perigos suscitados pelas guerras militares e comerciais, que ainda pairam.

Segundo a Comissão, "projeta-se que a inflação total [portuguesa] diminua novamente para 2% em 2026 e 2027, devido à recente queda dos preços dos produtos energéticos e industriais ao abrandamento marginal dos preços dos serviços", acrescenta.

Regresso dos défices (mas baixos)

Nas Finanças Públicas, Bruxelas refere que "os excedentes do saldo das administrações públicas devem desvanecer-se, com um défice estimado em 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026, enquanto a dívida pública deverá continuar a diminuir para menos de 90% do PIB até ao final do horizonte de previsão [2027]".

"Prevê-se que o crescimento das receitas públicas seja sólido em 2025, compensando apenas parcialmente a expansão sustentada das despesas públicas" e assim "prevê-se que o saldo das administrações públicas diminua para 0% do PIB em 2025, face aos 0,5% registados em 2024".

Para o executivo de Bruxelas, os impostos indiretos e as receitas das contribuições sociais vão continuar a "beneficiar da atividade económica sustentada e do mercado de trabalho dinâmico".

"No entanto, estima-se que as receitas dos impostos diretos cresçam abaixo do PIB nominal, refletindo medidas de política orçamental, como a atualização do regime do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares para os jovens e a redução das taxas do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares."

Do lado da despesa, "as atualizações dos salários da função pública e o bónus das pensões de 2025, entre outras medidas, deverão pesar sobre as despesas correntes". Além disso, "prevê-se que o investimento público financiado a nível nacional permaneça sólido em 2025, em parte devido ao investimento na defesa".

Tudo considerado, em 2026, a CE espera que "o saldo das administrações públicas se transforme num défice de 0,3 % do PIB, refletindo o impacto de medidas novas e permanentes de deterioração do saldo".

As despesas com juros vão aumentar "ligeiramente", mas em todo o caso, o défice final das administrações públicas "deverá manter-se globalmente inalterado em 2027, situando-se em 0,5% do PIB".

Fonte: Comissão Europeia (Previsões Económicas, novembro 2025)

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt