Álvaro Santos Pereira, governador do Banco de Portugal.
Álvaro Santos Pereira, governador do Banco de Portugal.Paulo Spranger

Banco de Portugal alinha com governo no crescimento, mas confirma regresso aos défices em 2026

Boletim económico. Álvaro Santos Pereira suaviza previsão de défice para o ano que face à que foi deixada por Centeno, mas continua a contrariar o governo, que acredita num pequeno excedente.
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A economia portuguesa deve crescer 2% este ano e 2,3% no próximo, prevê o Banco de Portugal (BdP), no novo boletim económico, que assim alinha exatamente com as previsões do governo e das Finanças no Orçamento do Estado para 2026 (OE 2026).

No entanto, no documento divulgado esta sexta-feira, a autoridade governada por Álvaro Santos Pereira diz que o País vai regressar aos défices públicos a partir do ano que vem, inclusive. Em 2026, prevê um défice equivalente a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), ao passo que o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, aposta em alcançar um excedente de 0,1%.

É uma confirmação no regresso aos défices, um cenário que havia sido avançado em junho pelo então governador Mário Centeno. Em todo o caso, Santos Pereira está menos pessimista: vê um défice de 0,4% em 2026, bem inferior aos 1,3% previstos por Centeno.

Este ano, diz o BdP, as contas públicas devem encerrar em equilíbrio (saldo de 0% do PIB), ao passo que o governo estima ser possível entregar um excedente de 0,3%, tendo até dado sinais recentes de que este saldo pode ser superior.

"A economia portuguesa deverá crescer 2% em 2025, prevendo-se uma aceleração para 2,3% em 2026, seguida de um abrandamento para 1,7% e 1,8% em 2027 e 2028, respetivamente", diz o banco central, em comunicado.

"Num enquadramento internacional marcado por tensões comerciais, apreciação do euro e incerteza elevada, a economia portuguesa mantém um crescimento robusto".

Neste ambiente externo mais conturbado e imprevisível, a economia tem sido ajudada pelo ambiente de taxas de juro baixas e pelas verbas da Europa, por exemplo. "O alívio das condições financeiras, o reforço dos fundos europeus e uma política orçamental expansionista têm atenuado o impacto dos choques externos", refere o Banco.

"No horizonte da projeção, o PIB cresce a um ritmo médio próximo do observado em 2020-24, com maior protagonismo da procura interna e menor contributo das exportações".

Barreiras à imigração limitam o emprego

Para o BdP, o mercado de trabalho "permanece sólido, com uma taxa de desemprego baixa e um nível de emprego em máximos históricos".

No entanto, o Banco avisa que "a redução dos fluxos imigratórios limitará a evolução do emprego e da atividade ao longo dos próximos anos".

Quanto à inflação, esta parece domada e acompanha a trajetória prevista pelo BCE para a Zona Euro. A inflação portuguesa "deverá recuar para 2,2% em 2025 e 2,1% em 2026, estabilizando em 2% nos dois anos seguintes, em linha com as perspetivas para a área do euro", refere o banco central.

Apesar de antever um "crescimento robusto", o novo estudo sublinha que os riscos em torno deste cenário são sobretudo negativos e a maioria vem de fora.

"Os riscos para esta projeção, predominantemente negativos para a atividade e equilibrados para a inflação, são, essencialmente, de natureza externa: agravamento de tensões comerciais e geopolíticas, impacto das tarifas e correção abrupta dos mercados financeiros", mas internamente, o BdP alerta para "a possibilidade de um investimento inferior ao projetado, caso o financiamento total do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) não seja executado". Em contrapartida, "a despesa europeia em defesa e infraestruturas pode estimular o crescimento".

Contas equilibradas agora, depois já não

Como referido, o saldo orçamental deve terminar este ano "equilibrado", prevendo-se "défices nos anos seguintes: 0,4% do PIB em 2026, 0,9% em 2027 e 1% em 2028", indica o Banco de Portugal.

O BdP assinala, ainda assim, que as suas novas previsões representam "melhorias" face a junho. Há seis meses, quando Mário Centena ainda estava no comando do BdP, a previsão para este ano dava um défice de 0,1%, situação que se ampliava ainda mais em 2026 para um défice previsto de 1,3%. Na altura, estes números causaram alguma fricção entre o governador Centeno e o governo PSD-CDS.

Agora, Santos Pereira diz que as suas novas projeções para as contas públicas "refletem, entre outros fatores, novas medidas de política, a alteração das hipóteses relativas aos empréstimos do PRR e o impacto da revisão do cenário macroeconómico na receita fiscal" e "incluem apenas as medidas já aprovadas pelo Parlamento ou definidas pelo Governo com detalhe suficiente e elevada probabilidade de aprovação".

"A trajetória de deterioração do saldo orçamental é explicada, sobretudo, por descidas de impostos e pelo aumento permanente da despesa nos anos recentes. O comportamento da receita fiscal tem mitigado essa trajetória, o que poderá apresentar um desafio para as contas públicas no caso de uma desaceleração económica", alerta agora o BdP.

"A dívida pública manterá uma trajetória descendente", diminuindo para 88,2% do PIB em 2025 e 84% em 2026. Aqui, as previsões de Álvaro Santos Pereira são até melhores do que as de Miranda Sarmento que no OE 2026 apontou para um rácio de endividamento de 90,2% este ano e de 87,8% no próximo.

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