A economia portuguesa deve crescer 2% este ano e 2,3% no próximo, prevê o Banco de Portugal (BdP), no novo boletim económico, que assim alinha exatamente com as previsões do governo e das Finanças no Orçamento do Estado para 2026 (OE 2026).No entanto, no documento divulgado esta sexta-feira, a autoridade governada por Álvaro Santos Pereira diz que o País vai regressar aos défices públicos a partir do ano que vem, inclusive. Em 2026, prevê um défice equivalente a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), ao passo que o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, aposta em alcançar um excedente de 0,1%.É uma confirmação no regresso aos défices, um cenário que havia sido avançado em junho pelo então governador Mário Centeno. Em todo o caso, Santos Pereira está menos pessimista: vê um défice de 0,4% em 2026, bem inferior aos 1,3% previstos por Centeno.Este ano, diz o BdP, as contas públicas devem encerrar em equilíbrio (saldo de 0% do PIB), ao passo que o governo estima ser possível entregar um excedente de 0,3%, tendo até dado sinais recentes de que este saldo pode ser superior."A economia portuguesa deverá crescer 2% em 2025, prevendo-se uma aceleração para 2,3% em 2026, seguida de um abrandamento para 1,7% e 1,8% em 2027 e 2028, respetivamente", diz o banco central, em comunicado."Num enquadramento internacional marcado por tensões comerciais, apreciação do euro e incerteza elevada, a economia portuguesa mantém um crescimento robusto".Neste ambiente externo mais conturbado e imprevisível, a economia tem sido ajudada pelo ambiente de taxas de juro baixas e pelas verbas da Europa, por exemplo. "O alívio das condições financeiras, o reforço dos fundos europeus e uma política orçamental expansionista têm atenuado o impacto dos choques externos", refere o Banco."No horizonte da projeção, o PIB cresce a um ritmo médio próximo do observado em 2020-24, com maior protagonismo da procura interna e menor contributo das exportações".Barreiras à imigração limitam o empregoPara o BdP, o mercado de trabalho "permanece sólido, com uma taxa de desemprego baixa e um nível de emprego em máximos históricos".No entanto, o Banco avisa que "a redução dos fluxos imigratórios limitará a evolução do emprego e da atividade ao longo dos próximos anos".Quanto à inflação, esta parece domada e acompanha a trajetória prevista pelo BCE para a Zona Euro. A inflação portuguesa "deverá recuar para 2,2% em 2025 e 2,1% em 2026, estabilizando em 2% nos dois anos seguintes, em linha com as perspetivas para a área do euro", refere o banco central.Apesar de antever um "crescimento robusto", o novo estudo sublinha que os riscos em torno deste cenário são sobretudo negativos e a maioria vem de fora."Os riscos para esta projeção, predominantemente negativos para a atividade e equilibrados para a inflação, são, essencialmente, de natureza externa: agravamento de tensões comerciais e geopolíticas, impacto das tarifas e correção abrupta dos mercados financeiros", mas internamente, o BdP alerta para "a possibilidade de um investimento inferior ao projetado, caso o financiamento total do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) não seja executado". Em contrapartida, "a despesa europeia em defesa e infraestruturas pode estimular o crescimento".Contas equilibradas agora, depois já nãoComo referido, o saldo orçamental deve terminar este ano "equilibrado", prevendo-se "défices nos anos seguintes: 0,4% do PIB em 2026, 0,9% em 2027 e 1% em 2028", indica o Banco de Portugal.O BdP assinala, ainda assim, que as suas novas previsões representam "melhorias" face a junho. Há seis meses, quando Mário Centena ainda estava no comando do BdP, a previsão para este ano dava um défice de 0,1%, situação que se ampliava ainda mais em 2026 para um défice previsto de 1,3%. Na altura, estes números causaram alguma fricção entre o governador Centeno e o governo PSD-CDS.Agora, Santos Pereira diz que as suas novas projeções para as contas públicas "refletem, entre outros fatores, novas medidas de política, a alteração das hipóteses relativas aos empréstimos do PRR e o impacto da revisão do cenário macroeconómico na receita fiscal" e "incluem apenas as medidas já aprovadas pelo Parlamento ou definidas pelo Governo com detalhe suficiente e elevada probabilidade de aprovação"."A trajetória de deterioração do saldo orçamental é explicada, sobretudo, por descidas de impostos e pelo aumento permanente da despesa nos anos recentes. O comportamento da receita fiscal tem mitigado essa trajetória, o que poderá apresentar um desafio para as contas públicas no caso de uma desaceleração económica", alerta agora o BdP."A dívida pública manterá uma trajetória descendente", diminuindo para 88,2% do PIB em 2025 e 84% em 2026. Aqui, as previsões de Álvaro Santos Pereira são até melhores do que as de Miranda Sarmento que no OE 2026 apontou para um rácio de endividamento de 90,2% este ano e de 87,8% no próximo.