Confinamento. Governo tenta sacudir pressão para reabrir escolas
Os políticos e os técnicos voltaram a encontrar-se em mais uma reunião do Infarmed, a 16ª desde que a pandemia começou. O primeiro-ministro e a ministra da Saúde usam os números dos internados em cuidados intensivos para travar expectativas quanto às escolas
Na próxima quinta-feira o Parlamento vai renovar por mais quinze dias o estado de emergência (o que está em vigor terminará às 23.59 de 1 de março).
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O Presidente da República e o Governo já vão começando a preparar os novos decretos e a curiosidade vai-se centrando num único ponto: a reabertura das escolas.
O Executivo tenta, por todos os meios, argumentar que ainda é cedo. E assenta todo o seu argumentário num número: o das pessoas internadas em Unidades de Cuidados Intensivos. Pelo meio, vai-se recordando que o Presidente da República estabeleceu uma fasquia, neste índice, para desconfinar: 200 doentes internados. Ontem a DGS revelava que ainda são atualmente 627.
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"Na última semana, o índice de mobilidade aumentou ligeiramente e este é um aspeto que deve suscitar atenção, na medida em que sabemos que os valores a que chegámos são valores que resultam de um esforço e, se esse esforço se inverter, voltaremos a atingir números de incidência e números de risco de transmissão que não são compatíveis com o que precisamos de garantir."
Ontem à tarde a elite da classe política portuguesa - começando pelo Presidente da República - voltou a reunir com a elite dos médicos que vão monitorizando a evolução da pandemia em Portugal - a 16ª reunião do Infarmed. E no final a ministra da Saúde, Marta Temido, tentou de novo arrefecer todas as expectativas no sentido de uma reabertura a curto prazo do sistema de ensino (eventualmente começando pelo pré-escolar e pelo 1º ciclo do ensino básico.
"Este não é o tempo de falar do tempo e de falar do modo", disse Temido - reconhecendo no entanto que será pelo sistema de ensino que o desconfinamento começará.
"O nível de incidência é ainda muito elevado, nomeadamente na utilização dos serviços de saúde."
A ministra, aliás, até foi mais longe. Disse que "na última semana, o índice de mobilidade aumentou ligeiramente e este é um aspeto que deve suscitar atenção, na medida em que sabemos que os valores a que chegámos são valores que resultam de um esforço e, se esse esforço se inverter, voltaremos a atingir números de incidência e números de risco de transmissão que não são compatíveis com o que precisamos de garantir". Ou, em síntese: sente-se "algum relaxamento sem nenhuma alternação legislativa". Segundo a Lusa, o primeiro-ministro fez na reunião uma intervenção semelhante: "O nível de incidência é ainda muito elevado, nomeadamente na utilização dos serviços de saúde."
Transmissibilidade baixa
O tom geral das intervenções dos técnicos foi no sentido de salientar a evolução positiva da pandemia em Portugal.
Baltazar Nunes, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSRJ), referiu, por exemplo, que o Índice de Transmissibilidade - o famoso "R" - é agora de 0,67, o valor mais baixo da Europa e o mais baixo em Portugal desde o início da pandemia.
Contudo, o mesmo Baltazar Nunes acrescentou que o número de doentes nos cuidados intensivos é ainda "muito elevado", só se podendo esperar que desça até aos 200 no final de março.
Um outro especialista do mesmo instituto, João Paulo Gomes, sublinhou que o poder da variante britânica é preocupante - afetando já cerca de metade dos infetados ativos (cerca de 40 mil pessoas).
Segundo disse, esta variante cresce atualmente muito menos do que no princípio, devendo-se isso ao confinamento. Antes, no princípio de dezembro, a incidência desta variante duplicava todas as semana e atualmente já só cresce a valores entre 4% e 10%. Dito isto, ficou um aviso: a variante britânica terá tendência, com um futuro desconfinamento, a "crescer exponencialmente".
Imunidade em agosto
Intervenção importante foi também a do vice-almirante Gouveia e Melo.
Trajando a sua farda de camuflado, o novo chefe da task force da vacinação disse que a imunidade de grupo poderá ser atingida no verão. "Há uma expectativa mais positiva relativamente ao segundo trimestre e muito mais positiva relativamente ao terceiro e quarto trimestres".
Ou seja; "Se estas expectativas de disponibilidades de vacinas se mantiverem e materializarem num futuro próximo, o período em que se pode atingir a imunidade de grupo - 70% - pode eventualmente reduzir-se relativamente ao fim do verão para passar para meados do verão, em volta de meados ou início de agosto."