Bruno Lage: "Um estádio tão bonito sem adeptos é quase como faltar a alma do que é o Benfica"
Bruno Lage sentiu saudades do trabalho diário com os jogadores durante os quase três meses de ausência do campeonato, suspenso a 12 de março devido à pandemia do covid-19. "Vejo-me como um treinador de treino e o que eu senti mais falta foi o trabalho diário com os jogadores. É difícil de se explicar quando se tem esta vida já há 20 anos. Aquilo que é projetar a equipa e aquilo que pode melhorar. O facto de não poder fazer isso foi o que senti mais falta", confessou o técnico encarnado, na antevisão do jogo com o Tondela da 25.ª jornada da I Liga (19.15, BTV).
O futebol português está de volta aos relvados, mas sem adeptos, por imposição da Direção Geral da Saúde. Assim a receção ao Tondela ficará para a história pelas bancadas do Estádio da Luz vazias. "Vou contar esta história. Um destes dias cruzei-me com um adepto e trocámos duas ou três palavras. Estar a treinar uma equipa da grandeza do Benfica depois jogar sem uma massa adepta tão grande. Ir a jogos sem adeptos, não há como preparar-nos para isso. O que ele me disse é a resposta a isto: 'nós não vamos estar lá fisicamente, mas vamos estar de coração'", contou o treinador do Benfica elogiando a ideia do clube de colocar cachecóis dos adeptos nas cadeiras.
Jogar num estádio vazio "é uma situação nova" e faz doar a alma: "Um estádio tão bonito sem adeptos é quase como faltar a alma do que é o Benfica." Mas é preciso que não afete a equipa no jogo com o Tondela. "O importante é uma entrada forte e fazermos um grande jogo de acordo com a nossa qualidade e potencia. Preparamos todos os cenários, até simular jogar no Estádio da Luz, jogos-treinos, até como camisolas de jogo. Os adeptos não estão lá, mas vão estar a ver-nos", avisou.
Suspensão do campeonato benéfica para o Benfica? "Esta paragem nunca pode ser benéfica em nenhum aspeto. Mas sim, deu para alguns jogadores ficarem disponíveis. Mas podemos fazer a questão de outra forma, que é o que podemos tirar de positivo de tudo isto. O facto de eu poder privar com o meu filho. Viagens, estágios, a minha vida profissional não me permite isso e esse é o único ponto positivo que eu posso tirar de tudo isto. Uma doença que em janeiro ninguém pensava que nos ia afetar e até brincávamos com o que se passava do outro lado do Mundo e de repente temos de estar isolados durante três meses e vermos pessoas a morrer", respondeu.
Antes da paragem o Benfica atravessava uma série de três jogos sem vencer, mas nem por isso o técnico achou a paragem benéfica. "Sinto que a equipa estava preparada para somar vitórias até ao final do campeonato. Não tivemos bem em janeiro, é um facto. Queremos dar uma resposta muito boa amanhã [diante do Tondela]. Neste momento difícil, queremos dar aos nossos adeptos uma boa alegria com uma vitória", revelou.
Bruno Lage sabia que o regresso seria contra "um adversário competente que tanto pode jogar com uma linha de cinco ou em 4x3x3". E por isso preparou a equipa para esse cenário: "É importante começar bem, ter sequência, mas não apenas nos primeiros dois, três jogos. Depois vem a fadiga acumulada, após tanto tempo de paragem, menos tempo de recuperação. Por isso, o quinto, sexto, sétimo jogo também são importantes. E há ainda as lesões, a possibilidade de perder jogadores por infeção."
Como treinador manifestou-se ainda a favor das cinco substituições. "Concordo com as cinco. As equipas mais fortes têm mais recursos para colocar, mas os que não têm um plantel tão forte também podem refrescar a equipa e saírem beneficiados. Há pontos a favor e contra. Vi a série The English Game e há cem anos nem havia substituições. Depois passou para três. E nos tempos modernos sinto que o jogador que fica de fora dos convocados sente o mesmo que os adeptos. O sentimento de quer jogar e não poder. Eu tendo mais gente no banco tenho a possibilidade de dar mais minutos a outros jogadores. Portanto, concordo com as cinco substituições com três paragens. Para ter mais gente a participar e ter a possibilidade de mexer mais na equipa."
O técnico do Benfica recebeu há dias um voto de confiança do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que garantiu a continuidade do treinador na próxima época. Questionado sobre se se sente mais seguro por isso e porque Jorge Jesus renovou com o Flamengo, Bruno Lage respondeu assim: "O que tem a ver o voto de confiança do presidente com a renovação de Jorge Jesus? Também diziam que o Jorge Jesus ia substituir o Rui Vitória e aconteceu? O que eu controlo e me deixa tranquilo é o reconhecimento das pessoas que trabalham comigo. Depois disso, quando deixar de ser eu o treinador, não é preocupação minha. Pode ser o Jorge Jesus ou outro qualquer."