Venda de antiga sede da FPF sob suspeita, atinge ex-deputado do PS e abala Fernando Gomes no COP
Paulo Spranger

Venda de antiga sede da FPF sob suspeita, atinge ex-deputado do PS e abala Fernando Gomes no COP

Ex-secretário geral da FPF, Paulo Lourenço, é um dos dois arguidos já constituídos. O ex-deputado do PS, António Gameiro, e dois empresários envolvidos no negócio estão sob suspeita.
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A venda da antiga sede da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), na Rua Alexandre Herculano, está sob investigação da Polícia Judiciária (PJ) e promete abalar ainda a principal instituição desportiva do país, uma vez que remonta ao mandato de Fernando Gomes, que esta terça-feira tomou posse como presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), no Centro Cultural de Belém. Em causa estão suspeitas da prática de crimes de corrupção, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio e fraude fiscal, segundo o comunicado da PJ, que fez buscas na Cidade do Futebol, nova sede da FPF, e mais 19 locais.

A investigação está a cargo do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) de Lisboa, foi aberta em 2021 e deu origem à Operação Mais-Valia, depois de serem “identificadas um conjunto de situações passíveis de integrarem condutas ilícitas relacionadas, sobretudo, com a intermediação da venda” do edifício em questão, por mais de 11 milhões de euros, segundo se pode ler no comunicado da PJ.

Segundo o Relatório e Contas da FPF, “em abril de 2018, foi alienada a antiga sede localizada na Rua Alexandre Herculano, Lisboa, pelo montante de 11.250.000€, o que originou uma mais-valia contabilística de 2.765.790,24€, que inclui os gastos com intermediação. A FPF decidiu que os ativos que se encontravam no edifício (mobiliário), não seriam transferidos para a Cidade do Futebol, tendo sido abatidos a 30 de junho de 2018, originando uma perda de 12.288,46€”.

Segundo Luís Neves, diretor da PJ, há “dois arguidos constituídos, mas nenhum detido”. Um deles é o advogado e ex-secretário-geral da FPF, Paulo Lourenço. O outro, segundo soube o DN, é um empresário ligado a José António Alves Inácio, sócio-gerente da sociedade Excelent Dimension, que adquiriu o imóvel cuja venda está sob suspeita. Visado nesta operação esteve também o antigo deputado do PS, António Gameiro, que terá sido intermediário do negócio e que já esteve na mira da Justiça em 2021, como um dos suspeitos da designada Operação Triângulo, onde foram investigadas suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem na intermediação de um negócio imobiliário em Monte Gordo.

José Inácio constituiu a empresa, que iria intermediar o negócio de compra e venda da sede da FPF, a 19 de outubro de 2017, ou seja, poucos meses antes da escritura da compra do edifício.

Nessa altura, Fernando Gomes liderava o organismo, daí que a tomada de posse como presidente do COP tenha sido marcada pelas buscas da PJ, na instituição que dirigiu durante quase 14 anos. Também por isso, o diretor da PJ, que tinha previsto ir à tomada de posse, sentiu que tinha de esclarecer que, nem o novo diretor do COP nem Tiago Craveiro eram visados nesta investigação, ao contrário do que começou a ser avançado em alguma comunicação social durante a tarde. “Não há quaisquer indícios (...) Estou aqui a dar a cara para que fique esclarecido e para que Fernando Gomes não se sinta diminuído por esta nossa ação”, disse Luís Neves, ao lado do presidente do COP, que ouviu e se manteve em silêncio, deixando escapar, quando questionado se não se sentia fragilizado: “De todo...”

O timing das buscas deu que falar e o diretor da PJ explicou: “Uma operação desta natureza, com tantos envolvidos, com magistrados do Ministério Público e representantes da Ordem dos Advogados, não se marca de um dia para o outro. Esta ação já estava programada há variadíssimas semanas. Já tinha sido convidado e estou aqui para dar-lhe um abraço e desejar-lhe as melhores felicidades no seu mandato.”

Proença avança com auditoria interna

Já a Federação, agora liderada por Pedro Proença, admitiu, em comunicado, que a organização foi “surpreendida” com a realização de buscas no âmbito de um processo que envolveu a investigação de negócios relativos a anteriores mandatos, nomeadamente aos anos entre 2016 e 2020, prometendo ser “totalmente inflexível na defesa dos interesses da instituição”.

Por isso vai intensificar as medidas de auditoria iniciadas em 17 de março e constituir-se assistente em quaisquer processos judiciais que sejam desencadeados pela investigação da Operação Mais-Valia. “A FPF irá até às últimas consequências face a qualquer prática ilícita ou criminal que venha a ser apurada e agirá de forma absolutamente intransigente relativamente a todas e quaisquer pessoas que tenham lesado os seus interesses”, acrescenta Pedro Proença.

isaura.almeida@dn.pt

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