Em causa está a venda do edifício localizado na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa.
Em causa está a venda do edifício localizado na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa.

PJ faz buscas na FPF por suspeitas de corrupção. Ex-deputado do PS foi um dos visados

Há suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio e fraude fiscal qualificada. Um ex-deputado do PS, um empresário e um advogado entre os suspeitos.
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A Polícia Judiciária está a fazer buscas na Federação Portuguesa de Futebol (FPF), avançou a SIC Notícias e confirmou o DN. Uma informação entretanto confirmada por Luís Neves, diretor da PJ, e posteriormente através de um comunicado, que refere que houve 20 mandados de busca e apreensão em domicílios, instituição bancária, estabelecimentos e sociedades de advogados, nos distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém.

O DN já confirmou também que haverá, pelo menos, três suspeitos: José António Alves Inácio, sócio gerente da sociedade Excelent Dimension, um ex-deputado do PS, António Ribeiro Gameiro e Paulo Lourenço, advogado e ex-secretário geral da FPF.

Há suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio e fraude fiscal qualificada.

Em causa estarão negócios imobiliários realizados durante os mandatos de Fernando Gomes relacionados com a venda da antiga sede da FPF na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, cuja escritura foi assinada em abril de 2018.

Quem comprou a antiga sede da FPF foi a sociedade de José Inácio, e ao que o DN soube, o intermediário terá sido António Gameiro. Da parte da Federação Portuguesa de Futebol terá participado no negócio Paulo Lourenço, advogado e ex-secretário geral deste organismo.

Recorde-se que António Gameiro constituiu a empresa a 19 de outubro de 2017, ou seja, poucos meses antes da escritura da compra do edifício.

A empresa identifica, no Portal da Justiça, como a sua atividade a compra e venda de imóveis e revenda dos adquiridos para esse fim; subdivisão de terrenos com introdução de melhoramentos; arrendamento de bens imobiliários e de terrenos; construção de edifícios residenciais e não residenciais, executados por conta própria ou em regime de empreitada ou subempreitada, de parte ou de todo o processo de construção, incluindo a ampliação, reparação, transformação e restauro de edifícios, assim como a montagem de edifícios pré-fabricados.

António Gameiro esteve na mira, em 2021, do Ministério Público anteriormente como um dos suspeitos da designada "Operação Triângulo", onde foram investigadas suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem na intermediação de um negócio imobiliário em Monte Gordo, no âmbito da qual foram detidos, entre outros, a então presidente da câmara Conceição Cabrita (PSD).

Refira-se que o agora ex-presidente da FPF toma posse esta terça-feira como novo presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), numa cerimónia onde estão Luís Montenegro e Marcelo Rebelo de Sousa. Antes da cerimónia , e com o diretor da PJ Luís Neves ao lado, este responsável pela polícia fez questão de revelar que esta "operação já estava marcada há vários dias" e adiantou que "Fernando Gomes e Tiago Craveiro não são visados neste processo, não há qualquer indício". "A investigação já tem anos, tem um objeto bem delimitado. Temos os suspeitos bem identificados", acrescentou Luís Neves.

"Isto tem que ver com a venda da antiga sede da FPF, que envolve suspeitas de corrupção, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio e fraude fiscal. Cumprimos hoje cerca de 20 buscas a pessoas individuais e coletivas e sociedades de advogados", revelou esta terça-feira o diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, ainda antes de chegar ao CCB, onde decorreu a tomada de posse de Fernando Gomes como presidente do COP, e para a qual o diretor da PJ estava convidado.

Num comunicado enviado às redações, a PJ detalha que "através da Unidade Nacional de Combate à Corrupção, desencadeou uma operação policial para dar cumprimento a 20 mandados de busca e apreensão em domicílios, instituição bancária, estabelecimentos e sociedades de advogados, nos distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém".

"No decurso da investigação foram identificadas um conjunto de situações passíveis de integrarem condutas ilícitas relacionadas, sobretudo, com a intermediação da venda da antiga sede pertencente à Federação Portuguesa de Futebol, na Rua Alexandre Herculano, n.º 58, Lisboa. O imóvel foi vendido por onze milhões duzentos e cinquenta mil euros", adianta a nota.

"As diligências foram executadas por 65 Inspetores e 15 Especialistas de Polícia Científica da PJ, contando ainda com a participação de cinco juízes de instrução criminal, seis magistrados do Ministério Público e quatro representantes da Ordem dos Advogados. A investigação prosseguirá com a análise à prova agora recolhida e com os competentes exames e perícias, visando o cabal apuramento da verdade e a sua célere conclusão", pode ler-se.

A investigação começou em 2021.

FPF "surpreendida" e diz que "será totalmente inflexível na defesa dos interesses da instituição"

A Federação Portuguesa de Futebol reagiu esta terça-feira às buscas em comunicado, salientando que a sua direção "foi surpreendida com a realização de buscas na sua sede por parte de elementos da Polícia Judiciária, no âmbito de um processo que envolve a investigação de negócios relativos a anteriores mandatos, nomeadamente aos anos entre 2016 e 2020".

"A Federação Portuguesa de Futebol será totalmente inflexível na defesa dos interesses da instituição e intensificará as medidas de auditoria entretanto iniciadas pela consultora internacional PWC no passado dia 17 de março e constituir-se-á assistente em todo e qualquer processos que lesem os interesses patrimoniais e/ou reputacionais da FPF", indica a nota publicada no site oficial da FPF.

"A Federação Portuguesa de Futebol irá até às últimas consequências face a qualquer prática ilícita ou criminal que venha a ser apurada e agirá de forma absolutamente intransigente relativamente a todas e quaisquer pessoas que tenham lesado os seus interesses", conclui o comunicado.

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