Patrícia Silva com a mãe e a medalha Olímpica do pai, Rui Silva.
Patrícia Silva com a mãe e a medalha Olímpica do pai, Rui Silva.DR.

Patrícia Silva. Neta e filha de atletas campeões corre e vence em nome próprio

Atleta do Sporting conquistou a medalha de bronze nos 800m dos Mundiais de pista coberta, 24 anos depois do pai, Rui Silva, ter ganho o ouro nos 1500m. Correr está-lhe no ADN. É treinada pela mãe.
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Correr faz parte do ADN de Patrícia Silva, medalhada de bronze no último fim de semana nos Mundiais de Atletismo de Pista Coberta, que representa a terceira geração de atletas campeões na família. “É mais do que um sonho. Estou muito, muito feliz. Ganhar uma medalha 24 anos depois do meu pai... a minha família está muito orgulhosa”, confessou a atleta, que aos 25 anos está a ressuscitar o meio fundo português, enquanto estuda Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana (FMH).

Neta de Carlos Cabral, antigo campeão nacional de corta-mato, triplo salto, 800 e 1500 metros, e de Rosário Gonçalves, jogadora de andebol e praticante de atletismo, Patrícia é filha de Rui Silva, campeão nacional dos 800, 1500 e 5000 metros e dono de 12 medalhas em europeus e mundiais, incluindo um bronze Olímpico em Atenas2004. E de Susana Cabral, campeã nacional dos 1500 e 3000 metros, que é também a sua treinadora. O tio Joaquim Cabral era um especialista do decatlo e os dois irmãos também são atletas.

O avô, Carlos Cabral, 5.º nos Europeus de Estugarda1980 , 6.º em Milão1982 e campeão da Europa de corta mato pelo Sporting, fazendo equipa com Carlos Lopes, Fernando Mamede e Aniceto Simões, “estava à espera” de um dia festejar uma medalha da neta, uma “atleta com muita qualidade”, embora não esperasse “uma medalha mundial tão rápido”, por que sabe que um atleta precisa de ganhar experiência internacional, ou seja errar, antes de dar alegrias.

“Foi realmente lindo, foi lindo. Não é por ser minha neta, mas é uma menina calma, respeitadora, simpática com as pessoas. Tenho muito orgulho nela como atleta e como neta. Merece o que está a conseguir à custa de muito trabalho”, disse ao DN o antigo atleta, que desde 2005 dá nome à pista de atletismo de Lagos.

Antes de experimentar as pistas, Patrícia andou na natação, praticou ténis e ginástica acrobática. “Toda a minha vida foi vivida dentro do atletismo, os meus pais eram atletas, o meu avô também, portanto era difícil eu não vir aqui parar (...) Dizem que filho de peixe sabe nadar, não sei se é verdade ou não, mas é realmente o que eu mais gosto de fazer”, disse a meio-fundista quando assinou pelo Sporting, no final de 2022, apesar de considerar que a família não influenciou a sua escolha pelo atletismo. “Não é por ser filha do Rui Silva que consigo as minhas vitórias. É pelo esforço do meu trabalho”, disse ao jornal Mirante, quando ainda era uma jovem de 15 anos e foi questionada sobre o peso do nome e a herança desportiva do apelido.

Tudo começou no Cartaxo

No passado domingo, em Nanjing, Patrícia Silva começou a prova na cauda do pelotão, mas atacou na aproximação à meta e não se deixou afetar por uma final com um ritmo muito alto, batendo a suíça Audrey Werro por um centésimo de segundo e ficando com o bronze, numa prova ganha por Prudence Sekgodiso, da África do Sul, seguida da etíope Werkuha Getachew.

Patrícia Silva com a mãe e a medalha Olímpica do pai, Rui Silva.
Patrícia Silva conquista medalha de bronze nos 800 metros

Natural de Vila Chã de Ourique (Cartaxo), tornou-se assim a primeira portuguesa a baixar da barreira dos 2 minutos nos 800 metros. O bronze foi conseguido com um novo recorde de Portugal -1m59s80 - duas semanas depois de ter sido sétima nos 1500 metro nos Europeus em pista curta Apeldoorn2025 . Já tinha batido o recorde dos 800 metros que era de Carla Sacramento desde 1995.

Começou a correr no Ateneu Artístico Cartaxense, mas só levou o atletismo “a sério” aos 12 anos, na escola criada pelo pai - Associação Escola de Atletismo Rui Silva (AEARS) -, no Cartaxo e sagrou-se vice-campeã no Campeonato Nacional do Olímpico Jovem. Aos 15 já era atleta de alta competição. Privilegiou os 400 e os 800 metros, distância que já tinha dado alegrias ao avô e aos pais. Representou ainda o Benfica e o Grupo Desportivo do Estreito.

A família é o seu porto de abrigo e fonte de inspiração da atleta, que ainda se diverte a treinar e tem no pai e no avô os seus ídolos. A mãe e treinadora, Susana Cabral, é o seu pilar. Patrícia Silva imortalizou mesmo numa tatuagem o abraço de ambas após ter batido o recorde pessoal dos 800 metros ao ar livre, fixando-o então em 02.00,07, em junho de 2023.

Desde então, a resiliente campeã, que adora massa à bolonhesa, ouvir música e tem a mania de estar sempre a tirar selfies, engrandeceu a sua história pessoal e a de Portugal na distância, na pista coberta, com recordes nacionais e um bronze nos Mundiais indoor. E já pensa em Los Angeles2028, depois de ter ficado a a 27 centésimos de Paris2024. porque o seu maior sonho é mesmo “ganhar uma medalha Olímpica”, algo que o pai conseguiu nos 1500 metros de Atenas 2004, quando ela tinha cinco anos.

isaura.almeida@dn.pt

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