Ouro de Carlos Lopes faz 41 anos. "Nunca mais o esquecerei..."
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Ouro de Carlos Lopes faz 41 anos. "Nunca mais o esquecerei..."

Campeão Olímpico em Los Angeles1984 revelou na sua biografia os bastidores da primeira Medalha de Ouro de Portugal.
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Foi na madrugada de 12 de agosto de 1984, na maratona, até então uma disciplina sem tradição num país de fundistas, que Carlos Lopes conquistou a primeira Medalha de Ouro para Portugal em Jogos Olímpicos. Desde então apenas seis atletas repetiram esse feito: Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Nelson Évora, Pedro Pichardo, Rui Oliveira e Iúri Leitão.

“Nunca mais o esquecerei: cortei a meta e afirmei num clamor: ‘Fogooooo! Esta já ninguém ma tira!’ Aliás, não foi bem fogooooo que eu disse, foi outra palavra, palavra parecida que não posso repetir num livro! Continuei a correr, dei volta à pista a acelerar, a volta que gostaria de ter dado com Teresa, se ela tivesse conseguido chegar à minha beira a tempo. Estava assim, sem que o cansaço me tivesse estoirado porque, na verdade, não tinha sido preciso ir aos limites, não tinha sido preciso dar tudo de mim até à ponta dos cabelos - e, quando já tinha a Teresa à minha beira, ainda me saltou à ideia fazer, então, mais uma volta de honra, com ela. Não a fiz por respeito aos meus adversários.”

Este desabafo de Carlos Lopes consta do livre de memórias contadas na primeira pessoa ao jornalista António Simões que o DN pré-publicou no ano passado e onde o antigo atleta explica como a mulher Teresa foi vital na conquista da medalha, entre as zangas com Moniz Pereira e como a Nike lhe fez uns ténis personalizados, antecipando o ouro que iria conquistar com Recorde Olímpico (2.09.21 horas), e a ajuda do massagista de John McEnroe.

Antes da glória, houve sofrimento, superação e entrega familiar. “Grande parte da preparação para a maratona dos Jogos, fi-la entre a Malveira e a Coutada, por caminhos quase sem bermas. Não, nunca achei perigoso treinar nesse percurso, até porque tinha sempre a cobertura de um carro, com o meu cunhado e a minha mulher. O percurso era muito idêntico ao que teria em Los Angeles e, para treinar os 36 graus e os 80% de humidade que me esperavam, começava a correr às 11 e tal da manhã para acabar perto das duas tarde. Tinha a minha mulher e o meu cunhado de cinco em cinco quilómetros com os abastecimentos, os abastecimentos postos em cima do capot  do carro - ou, então, mais à frente, de forma a apanhar água com a mão. Sim, treinei todas essas coisas ao pormenor, por minha iniciativa e sensibilidade, líquido que utilizava o XL1, que eu comprava e adaptava. De Torres Vedras à minha casa na Coutada eram 10 quilómetros certinhos. Era sagrado: teria de fazê-los em 29 minutos, por julgar que para ganhar Los Angeles teria de fazer os últimos 10 quilómetros em 29 minutos - e fazendo, como fiz, os últimos cinco em 14.30 foi aí que eu comecei a deitar a mão ao ouro.”

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Memórias de Carlos Lopes: O massagista de McEnroe, os ténis Nike e o papel da mulher

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