Pela primeira vez em três décadas, não haverá, pelo menos, uma treinadora no comando técnico de nenhuma das dez equipas participantes da Liga BPI, que começa no domingo. Desde 1995/96, que tal não acontecia e com a agravante do campeonato estar agora reduzido a dez equipas. A temporada passada iniciou com quatro treinadoras no cargo Filipa Patão, no Benfica, Mariana Cabral, no Sporting, Rita Castro e Silva, no Famalicão e Joana Silva, no Clube de Albergaria, com o Estoril Praia a integrar Liliana Dinis durante a época. De cinco em 2024/25, o principal campeonato de futebol feminino nacional desceu para zero treinadoras. Nenhuma das dez equipas terá uma técnica principal no banco. Algo que deixa Alfredina Silva, que venceu quatro campeonatos e uma Taça de Portugal pelo Boavista, triste. “Há muitas mulheres competentes para treinar na Liga BPI e os clubes têm de também estar atentos a essas treinadoras e à qualidade. Há muitas mulheres já qualificadas, com 2.º e com 3.º nível. E 4.º nível também. A treinadora de futebol é treinadora e ponto, não é treinadora de e para o futebol feminino”, diz a antiga internacional portuguesa.Foi uma das pioneiras do futebol feminino, primeiro como jogadora, depois como treinadora e agora, também como vice-presidência da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF), diz que “é preciso os dirigentes abrirem a mentalidade e recrutar profissionais competentes, seja homem ou mulher”.A Liga BPI é uma campeonato semi-profissional, sob a égide da Federação Portuguesa de Futebol, que, já na presidência de Pedro Proença, constituiu um grupo de trabalho para a modalidade e Alfredina pede que se estudem medidas para bem da igualdade de oportunidade e de direitos dos treinadores. Porque “a treinadora portuguesa é qualificada e considerada internacionalmente”. Recorde-se que Filipa Patão deixou o pentacampeão Benfica para treinar os Boston Legacy da liga americana.“Medidas de discriminação positiva" podem ser soluçãoUma das solução, segundo Alfredina, poderá passar por “medidas de discriminação positiva para se tentar colocar mais treinadoras nos espaços de maior competitividade ou de um quadro competitivo mais alto, neste caso no futebol feminino”.A FPF já dá alguns apoios, dependendo do número de mulheres na ficha técnica de um jogo, mas não determina que sejam treinadoras, podem ser diretoras, massagistas, médicas... Apesar de a modalidade ter evoluído bastante em Portugal e a sociedade dar um passo em frente no Direito da Mulher, segundo a treinadora, “continua a ser muito difícil as mulheres terem acesso a serem treinadoras de futebol, quer no futebol masculino, quer no feminino, nos quadros competitivos de maior competitividade”.E a tantas vezes mencionada “mudança de mentalidades” está longe de ser efetivada. “É uma opinião que pode ser polémica, mas à medida que subimos patamares e se abrem espaços mais profissionalizados, as mulheres têm menos oportunidades e tendem a desaparecer da elite”, desabafa a jogadora que fez parte da primeira seleção nacional, em 1982.Alfredina Silva espera ser voz ativa também como vice-presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol. “Institucionalmente tenho essa oportunidade de ser ouvida e dar voz àquilo que são e querem as treinadoras. E não, não lutamos para que as mulheres estejam no futebol feminino, porque parece que elas não têm qualidade ou competência para estar no futebol masculino. Somos treinadoras de futebol, ponto, não somos treinadoras de futebol feminino”, disse Alfredina.Benfica favorito num campeonato mais curto e polémico O Benfica arranca como favorito num campeonato reduzido a dez equipas (eram 12) e 18 jornadas. O pentacampeão nacional começa por receber o Racing Power e o primeiro duelo com o Sporting está marcado para a oitava jornada.O rival da 2.ª Circular promoveu uma grande revolução no plantel para dar luta no campeonato, mas acabou por perder atletas icónicas como a capitã Ana Borges e Diana Silva ... precisamente para o Benfica, que se reforçou ainda com Diana Gomes. O Sporting, tal como o Sp. Braga, o Racing Power e o Torreense, que venceu as águias na final da Taça de Portugal e na Supertaça, é a equipa mais bem posicionada para dar luta ao Benfica nesta liga BPI, que começa sob ameaça de impugnação.A direção do Famalicão está a ponderar impugnar os campeonatos de futebol feminino da I e II divisões. O clube famalicense tinha sido convidado pela Federação Portuguesa de Futebol para integrar a Liga BPI e ocupar o lugar do Damiense, que tinha sido despromovido por falhar o licenciamento, mas foi reintegrado por decisão do Tribunal Arbitral do Desporto. Este não é o único caso a abalar o arranque do campeonato. O Rio Ave-Marítimo, da primeira jornada inicialmente marcado para este domingo foi adiado para 26 de outubro devido à “indisponibilidade de viagens”, para a equipa madeirense se deslocar até Vila do Conde. Também o Sporting teve o jogo da primeira jornada adiado, devido à presença na pré-eliminatória da Liga dos Campeões (jogou ontem com a AS Roma).isaura.almeida@dn.pt