Game, set, match. Foi assim, com um ás, que Jaime Faria, o tenista português do serviço canhão, entrou nesta quinta-feira no quadro principal do Open da Austrália (arranca na madrugada de segunda-feira), depois de triunfar frente a Mark Lajal (6-4, 2-6, 6-4). Fã de futebol e adepto do Sporting, festejou o feito à Gyökeres. É a primeira vez que o jovem de 21 anos consegue marcar presença num Grand Slam. E não é coisa pouca para um novato do circuito ATP, que olha para o ténis “de uma maneira divertida” e talvez por isso seja mais feliz em court e tenha progredido sem pressão. Integrado no grupo de treino que a Federação montou no Centro de Alto Rendimento, no Jamor, entrou no ranking ATP em 2024 no 411.º lugar e jogando quase sempre em solo nacional escalou de forma impressionante 288 lugares num ano, terminando no 123.º posto. Um ano depois qualificou-se pela primeira vez para um Grand Slam, o Open da Austrália, onde também está garantida a presença de Nuno Borges - o 36.º do ranking que está a brilhar no ATP de Auckland e que, em Melbourne, vai defrontar o francês Alexandre Muller, número 56 mundial.Jaime é o 10.º português a jogar um quadro principal de singulares masculinos numa das quatro principais provas do ténis mundial, depois de João Sousa (38 jogos), Frederico Gil (14), Nuno Marques (13), Nuno Borges (12), Rui Machado (9), Gastão Elias (8), João Cunha e Silva (7), Pedro Sousa (4) e Frederico Silva (1). O lisboeta vai encontrar o russo Pavel Kotov (99.º) na primeira ronda, e, em caso de vitória, pode enfrentar Novak Djokovic, se o sérvio também vencer na eliminatória inicial o norte-americano Nishesh Basavareddy (133.º). Já o amigo Henrique Rocha foi travado na ronda de acesso por Matteo Gigante, que assim impediu Portugal de ter três portugueses no quadro principal em Melbourne pela primeira vez.Quatro troféus em quatro semanasNatural de Lisboa (6 de agosto de 2003), herdou do pai, um professor de História da Arte e curador de museu, o fascínio pelo ténis. “O meu pai comprou bilhetes para jogos de exibição no Algarve mas ainda não tínhamos idade suficiente para entrar. Então deixaram-nos num local para miúdos. Perguntámos se podíamos ver os jogos e ficámos a ver dias e dias. Esse foi o início, depois perguntei se podia experimentar o ténis e adorei desde aí”, recordou.Foi assim, a observar velhas glórias como Goran Ivanisevic ou Stefan Edgberg no tradicional torneio de Vale do Lobo, que Jaime pediu para começar a praticar ténis. Tinha seis anos. Aos 16 começou a treinar no centro de treinos do Jamor e aos 18 conquistou o primeiro torneio, em Castelo Branco, em 2022. Treinado por dois ex-tenistas, Pedro Sousa e Rui Machado, em 2024 teve um ano de sonho. Venceu 27 dos 33 encontros que disputou na temporada e depois dos torneios Future e Challenger estreou-se em torneios ATP no último Estoril Open, prova onde bateu umas bolas com um dos seus ídolos, Gael Monfils. Depois de brilhar no circuito ITF e vencer quatro torneios em quatro semanas seguidas no Algarve - Vila Real de Santo António, Faro, Quinta do Lago e Vale do Lobo - , o tenista conquistou o Oeiras Open e aquele que é o maior título da carreira até agora: o ATP Challenger 100 de Curitiba. Foi ainda finalista do Challenger 125 de Valência.isaura.almeida@dn.pt