Jaime Costa é CEO da Parkalgar, sociedade que gere o Autódromo Internacional do Algarve.
Jaime Costa é CEO da Parkalgar, sociedade que gere o Autódromo Internacional do Algarve.Gerardo Santos

Jaime Costa: “Espetáculo de abertura do GP de Portugal em MotoGP terá uma homenagem ao Miguel Oliveira”

CEO do Autódromo Internacional do Algarve revela ao DN que Miguel Oliveira vai ser homenageado na corrida de dia 9 de novembro, em Portimão, e que a Fórmula 1 em Portugal é uma possibilidade.
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Como vai ser o Grande Prémio de Portugal 2025, o último de Miguel Oliveira, que, em 2026 vai deixar a Yamaha e o MotoGP e correr o Mundial de Superbike pela BMW?

Vai ser uma grande festa, sobretudo para quem estiver a assistir. Este ano temos um conjunto de novidades na área de entretenimento, porque cada vez mais, estes grandes eventos desportivos, têm uma parte muito relevante de entretenimento. Vamos ter uma fanzone muito reforçada, com espetáculos, animação, bares, etc., para que as pessoas dêem por bem empregue o dinheiro que gastam. Vamos ter um espetáculo de abertura com mais dinamismo, mais cor, mais som e uma homenagem ao Miguel Oliveira. É surpresa, também para ele, mas é uma homenagem que lhe queremos prestar, porque deverá ser a última corrida em MotoGP que ele faz em Portugal. Tem sido um sucesso esta parceria, entre um grande piloto português no Mundial de MotoGP e um grande circuito no Mundial de MotoGP, e queremos assinalar isso com um momento especial. E vai haver um pré-evento com o Miguel Oliveira ele, na zona ribeirinha, em Portimão, logo na quinta-feira (dia 6).

Ser a última corrida em Portugal, do único português no MotoGP, mexeu com a bilhética?

Mexeu... quer dizer, há aqui dois fatores que se contrabalançam um pouco. O campeonato já está decidido [Marc Márquez foi campeão e não corre no Algarve devido a lesão], e isso gera menor apetite em alguns segmentos do mercado. Por outro lado, ser a despedida do Miguel Oliveira gera um apetite maior. Estamos à espera de cerca de 170 mil pessoas no autódromo nos quatro dias do evento. A última semana é sempre muito forte em vendas, portanto há sempre aqui uma incógnita, mas estamos à espera de ter valores parecidos com os do ano passado.

E o preço dos bilhetes sofreu alguma inflação?

Pouco. Tivemos a preocupação de ter uma gama de preços que permita a qualquer pessoa ir ao Grande Prémio. Não será pelo preço, digo eu, que a moldura humana não será boa. Existem todas as condições para qualquer pessoa, ou quase toda a gente, possa assistir a este grande espetáculo. Reforçamos a rede de autocarros e temos três parques onde as pessoas podem deixar o carro gratuitamente - em Portimão, Lagos e na Figueira (localidade na freguesia do autódromo). Podem deixar o carro nesses parques e têm autocarros em permanência a fazer o transporte para o circuito e garantir o regresso aos parques.

Desportivamente, o novo campeão, Marc Márquez, e o antigo, Jorge Martín, não irão competir.

O ideal seria que Portimão fosse uma prova decisiva. Infelizmente, não é. Já há campeão, mas temos os nossos argumentos. A pista é considerada uma das melhores pistas do mundo, batizada pelos pilotos de montanha russa dos desportos motorizados e, portanto, vai haver grande competitividade. E espero que o Miguel Oliveira tenha uma grande performance neste grande prémio. Ele conhece bem a pista, vai ter milhares de pessoas a torcer por ele e terá todas as condições, ou quase todas, para ter uma boa performance.

Quanto custa organizar o Grande Prémio de Portugal em MotoGP?

Custa entre 9,5 e 10 milhões de euros. Eu não lhe chamaria custo, mas sim investimento, porque tem o outro lado da balança, há retorno, mas é das mais caras a nível mundial e exige alguma capacidade financeira.

Se custa esse valor, quanto é que Portugal paga para ter um grande prémio de MotoGP?

Essa parte é confidencial. Isso faz parte do contrato com a Dorna, que é a empresa dona do campeonato do mundo de MotoGP. Essa é das cláusulas mais confidenciais em termos de contrato, mas é claramente inferior ao valor do custo.

O ano passado, e pela primeira vez, celebraram um contrato a dois anos, até 2026.

Sem querer bajular, mas tenho que louvar a visão que houve na área do Turismo para a importância deste tipo de eventos. E pela primeira vez que sentimos estabilidade na interlocução com o Estado, quer na área política, quer na área mais técnica do turismo. Independentemente de o apoio ser maior ou menor, há compromisso e uma visão clara sobre o que fazer nesta área. Foi isso que permitiu que se fizesse o contrato por dois anos, porque as situações anteriores eram bastante precárias. É um investimento que se torna válido e a quantidade de países que luta por ter este tipo de eventos, é também um atestado, acho eu, de que não estamos errados ao lutar por estes eventos.

Mas, não tendo Miguel Oliveira a competir, pode ser um grande encargo...

Não acho que se vá tornar um encargo. O Miguel Oliveira tem importância, mas há muita gente que vai a MotoGP, independentemente do piloto A ou B. Vai-nos criar um desafio adicional, teremos de ser mais ativos na captação de ainda mais espectadores internacionais. Admito que em termos nacionais a procura e o interesse reduza, mas acho que conseguiremos compensar isso internacionalmente. Temos é de ser mais ativos, se calhar começar a promoção da corrida mais cedo, ter outras estratégias de pricing e de venda e de canais de distribuição de bilhetes, mas estaremos à altura do desafio. E o Miguel vai correr o Mundial em Superbike, que é uma prova que também passa por Portimão e vai gerar procura adicional de bilhetes nessa corrida, hospitality e compras de corporate de empresas portuguesas.

Então a estratégia passa por continuar a ter MogoGP?

O Autódromo Internacional do Algarve é um ativo de nível mundial. Eu já fui a vários autódromos em vários países e é difícil encontrar um autódromo com estas características técnicas e de interesse desportivo. O clima do Algarve é fabuloso, a região tem uma área hoteleira muito boa e o acolhimento que conseguimos dar aos espectadores, aos turistas e à organização é muito forte. É como se pudéssemos ter a casa aberta quase 365 dias por ano. O MotoGP é uma aposta ganha e gostaria de o manter por mais anos, essa será a próxima luta. Ainda temos contrato até 2026, portanto, não é urgente, mas... nas semanas a seguir ao GP de Portugal, iremos iniciar esse processo.

E, sendo o MotoGP agora propriedade da Liberty, essa conversa vai incluir o regresso da Fórmula 1 a Portugal?

Sobre a Fórmula 1 não posso dizer muito, até porque não há nada de concreto. Nós sempre quisemos ter F1 e sempre trabalhámos nesse sentido.

Colocando a pergunta de outra forma, Portimão tem o único autódromo de reserva na Europa e a única vaga que há no calendário é para um grande prémio europeu...

Como disse o próprio CEO da Fórmula 1, há vários países que estão a procurar entrar no calendário e Portugal é um deles, mas eles, normalmente, incluem a Turquia na Europa, por isso... Há interesse, mas são processos difíceis. Felizmente, existe também uma vontade política em trazer a Fórmula 1 para Portugal, todos ouvimos as declarações do primeiro-ministro, Luís Montenegro e portanto, digo que é uma possibilidade, mas não está assinado.

Certamente já fez contas ao que isso pode custar. Se organizar o MotoGP custa 10 milhões, quanto é que poderá custar a F1?

Contas fazemos desde... 2017, porque temos de estar sempre atentos a essas oportunidades. A F1 custa bem mais do que o MotoGP, mas a F1 também traz muito mais do que o MotoGP.

Fala-se muitas vezes no impacto financeiro que um evento destes tem. Qual é o valor, este ano?

A nossa estimativa é que o impacto económico mensurável do MotoGP seja entre 70 a 80 milhões de euros. Estou a falar de impacto direto, de pessoas com de reserva de hotel, a fazer despesa em restauração, compras a fornecedores locais, etc. E completamente fora da época alta, sendo que os estrangeiros são 50%. Espanha, Itália e França são mercados que trazem muita gente ao Algarve durante a prova. É evidente que Lagos e Portimão sentem mais esse efeito do que os outros municípios, mas é um impacto que se estende a toda a região. E geramos emprego. Durante a semana de evento empregamos mais de duas mil pessoas. Há dezenas de fornecedores que vão prestar serviços, nas áreas de segurança, bilhética, telecomunicações, IT, food and beverage, empresas de arruamentos para criar melhores acessos, transportes locais, etc., toda a economia na região mexe. Depois há uma quantificação que, para nós, é difícil de fazer, que é da projeção da imagem de Portugal. Os outdoors - Visite Portugal e Visite o Algarve - vão estar sempre visíveis e vão correr Mundo. Por isso, não tenho dúvida de que o MotoGP é um bom investimento para o País e é uma ferramenta para atrair turistas.

Favorecendo o impacto na região, diminuiu-se a pegada ecológica?

A sustentabilidade começa no Meio Ambiente e por isso tentamos integrar, na medida do possível, as pessoas da freguesia da Mexilhoeira Grande, a quem vamos oferecer um número considerável de bilhetes, e das zonas mais próximas. E, a não ser quando é impossível ou as condições são manifestamente pouco atrativas, tentamos que a maior parte dos fornecimentos de serviços, compras e até de staff, sejam feitos na região do Algarve. A sustentabilidade é cada vez mais importante e já é um fator de escolha. Uma Porsche ou uma Ferrari, quando escolhem um autódromo para testes ou eventos, querem saber em que medida esse autódromo contribui para que a pegada da própria Porsche ou da Ferrari diminua. O Paulo Pinheiro (antigo CEO da Parkalgar, que faleceu no ano passado) foi o grande mentor de todo este projeto e sempre teve isso em mente. O autódromo passou por uma avaliação de impacto ambiental para ser construído e conseguimos a certificação pela norma ISO 20.121. Temos milhares de painéis fotovoltaicos instalados, uma série de tecnologias embutidas na construção para reciclagem de óleos, recuperação de águas da chuva, etc.

Este ano, o evento será ainda mais sustentável e menos pesado ambientalmente?

Além da aposta no transporte coletivo, para trazer pessoas para o autódromo, vamos ter um evento com copos reutilizáveis e acabar com centenas de milhares de copos de plástico deitados para o chão ou no lixo. Vai ser um evento cashless, para simplificar e haverá recolha seletiva de resíduos e doação de bens alimentares através de um protocolo com o Banco Alimentar. E é proibido lavar camiões no paddock, porque era um desperdício de água e no Algarve isso é um tema muito sensível.

Porquê ‘Qatar Airways Grande Prémio de Portugal’?

Isso é a Dorna que negoceia. Nós somos informados sobre qual é a marca, mas acredito que as marcas escolham os grandes prémios a quem se querem associar. A Qatar Airways tem os voos diários para Portugal e é uma rota que está sempre cheia, por isso devemos ser um mercado com interesse para a Qatar Airways.

isaura.almeida@dn.pt

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