Isaac e Salomé. O casal de atletas que se mudou para Sória à procura das medalhas que faltavam
Das quatro medalhas conquistadas por Portugal nos Europeus de Atletismo de Pista Curta de Apeldoorn, nos Países Baixos, três estão em casa de Isaac Nader e Salomé Afonso, o casal de atletas que se mudou para Sória (Espanha) para trabalhar com o espanhol Enrique Pascual, uma referência do meio-fundo mundial, à procura das medalhas que lhes faltavam.
Em julho de 2022, depois de ir aos Campeonatos do Mundo de Atletismo de Oregon, já sem treinador, após Rui Silva lhe comunicar que ia deixar de ser técnico, Isaac Nader conversou com os responsáveis do atletismo do Benfica no sentido de encontrar uma solução de treino que o potenciasse. Por indicação do seu empresário, a escolha recaiu no especialista espanhol, que já tinha orientado Campeões Olímpicos e Mundiais como Fermín Cacho e Abel Antón.
Mas era preciso que o algarvio e a lisboeta se mudassem para o norte de Espanha, para Sória, um município com cerca de 40 mil habitantes, perto de Vallodolid, onde Pascual tem um grupo de trabalho. Uma mudança que Isaac aceitou em nome de uma medalha que sentia estar ao seu alcance nos 1500 metros e que agora conseguiu nos Europeus de Pista Curta.
Na altura, já namorava com Salomé Afonso, que também decidiu mudar-se para Sória e integrar o grupo de treino de Enrique Pascual, em Los Pajaritos. Ela sacrificou a inscrição no curso de Medicina, mas a progressão como atleta foi brutal, ao ponto de fazer história com as duas medalhas conquistadas em Apeldoorn. Salomé tornou-se a primeira a conseguir dois pódios numa só edição: foi medalha com prata nos 1500 metros e bronze nos 3000 metros.
Produto da formação do atletismo leonino, Salomé Afonso chegou ao clube em 2011, depois de ter praticado basquetebol e futebol. Começou nos 300 metros, mas foi nos 800, 1500 e 3000 metros que conseguiu maior sucesso. Em outubro de 2024 assinou pelo Benfica, depois de ter competido como individual. Agora divide com o namorado a casa, o clube, o treinador e o sucesso nas pistas.
Segundo Isaac Nader, a feliz coincidência da dupla conquista do casal em Apeldoorn deixou “Salomé mais contente”, porque ela foi Vice-Campeã da Europa dos 1500 metros (e bronze nos 3000), enquanto ele foi o terceiro mais rápido na final dos 1500.
Para o medalhado, hoje Portugal tem mais três medalhas “graças a dois atletas que resolveram sair da zona de conforto, mudar de país”, para serem orientados por um treinador de campeões.
Já foi sob orientação de Pascual que estabeleceu um novo Recorde Nacional dos 1500 metros, que não era batido há 15 anos, e fez a melhor marca nacional dos 10km, na São Silvestre de Lisboa, em dezembro, por exemplo.
Referência do fundo e meio-fundo, o treinador espanhol, natural de Brías (Sória), agraciado com o Prémio Castilla e León do Desporto 2024, previligia atletas maduros e aposta num processo de treino sistemático, contínuo e regulado, que é também um teste à paciência dos seus discípulos. “A ideia é simples: se o atleta tiver paciência, treinar todos os dias e criar uma rotina, vai conseguir bons resultados”. considera o treinador.
E isso nota-se nos dois atletas portugueses que vão continuar a treinar no Centro de Alto Rendimento de Sória. Tanto Salomé como Isaac estão já de olho nos Mundiais de Pista Curta, que se realizam daqui a 15 dias, entre 21 a 23 de março, em Nanjing, na China.
Algo que a outra medalhada nestes Europeus, Auriol Dongmo (bronze no lançamento do peso), também persegue.
isaura.almeida@dn.pt