Emanuel Sousa, recordista nacional do lançamento do disco.
Emanuel Sousa, recordista nacional do lançamento do disco.FPA

Emanuel 'Best' Sousa. O recordista nacional do disco que deve a entrada no atletismo ao primo e rival

Lançador do Benfica acrescentou quase cinco metros ao recorde, que é agora de 67,51 metros. Nascido em São Tomé, começou a treinar quando Edujose Lima, do Sporting, o levou a um treino.
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67,51 metros! Desde que, em março de 2024, superou a marca de Francisco Belo ao lançar o disco a 62,94 metros, Emanuel Sousa já melhorou o recorde nacional por quatro vezes, aumentando quase cinco metros ao novo máximo nacional. A última foi no dia 10 de abril, quando bateu o recorde por duas vezes na mesma prova ao lançar a 67,51m. É uma marca que lhe teria valido o 6.º lugar nos Jogos Olímpicos Paris2024.

O recordista nacional garantiu assim, por um centímetro, a qualificação para os Campeonatos Mundiais de Atletismo, que este ano se realizam em Tóquio, entre 13 e 21 de setembro. Aos 26 anos, o atleta nascido em São Tomé e Príncipe assume-se como o grande nome da disciplina em Portugal, onde o principal rival é o primo Edujose Lima, atleta do Sporting, que o convenceu a ir para o atletismo quando chegou a Lisboa com 15 anos para viver com o pai.

"Eu estudava e tinha muito tempo livre, sentia que precisava de fazer alguma coisa, uma atividade qualquer. Em São Tomé tinha sempre o que fazer, não tinha essa rotina de não fazer nada, então o meu primo Edujose, que andava no atletismo, desafiou-me a ir a um treino na pista do Lumiar que era perto das Galinheiras [bairro social junto ao aeroporto de Lisboa já demolido]. Foi esse o meu primeiro contato com o atletismo", contou ao DN o atleta, que começou por lançar o peso e depois mudou de disciplina e especializou-se no lançamento do disco.

Na pista do Lumiar, que agora tem o nome de Moniz Pereira, encontrou Maria Costa, uma treinadora que viu nele um potencial atleta e o levou para o Benfica. Ainda hoje representa as águias: "Nunca mudei, o Benfica, a nível de formação, tem feito um excelente trabalho, pelo menos comigo fez um excelente trabalho."

Ainda adolescente, via no atletismo e nas competições uma oportunidade para conhecer Portugal e o Mundo, fazendo o que gostava, mas sempre exigiu de si mesmo mais do que apenas participar:

"Se faço uma coisa, tem de ser bem feita, então comecei a levar o atletismo muito a sério. Adorava ver os Jogos Olímpicos pela televisão e um dia vi o Christoph Harting lançar o disco e fiquei maravilhado. Pensei -'é isto que eu quero experimentar, quero competir nos Jogos Olímpicos'- e foi mais ou menos assim que me motivei para ser atleta e lançador do disco."

A frustração da progressão lenta

Já naturalizado começou a representar as cores nacionais em 2018, ano em que foi ao Mundial de júniores e bateu o recorde nacional júnior. Era o início de um percurso de sucesso, mas a um ritmo frustrante para quem sabia que conseguia mais e melhor.

"Até aos sub-23 a progressão estava a ser muito lenta. Melhorava apenas mais uns centímetros, uns centímetros, centímetros, centímetros... A nível técnico estava bastante bem, mas a nível de condição física, de força e nível de tamanho corporal, ainda estava em desenvolvimento. Sentia-me capaz de chegar aos 61 ou 62 metros, mas a marca não estava a sair. A partir de 2021, deu-se o clique a nível físico e a nível mental. Foi preciso dizer a mim mesmo - 'mano, relaxa, tens de parar de meter pressão em ti mesmo'. Sonhava ir aos Jogos Olímpicos, via Paris2024 a aproximar-se e eu sempre perto da marca de qualificação, aí comecei a desbloquear", contou ao DN o lançador, que acabou por não conseguir ir a Paris.

Emanuel gosta de imaginar três, quatro dias à frente. Essa forma de pensar não o estava a ajudar a tirar o devido rendimento do treino. Na altura, não sabia como lidar com tanta frustração.

A relação com a treinadora também começou a ser problemática ao ponto de cada um seguir o seu caminho. Hoje treina com o brasileiro Rodrigo Dario Diniz e mudou de estratégia. Começou a encarar cada dia e cada treino como uma forma de se preparar para "o momento" que sabia que ia acontecer: "Precisava do dia certo, do sítio certo e do feeling certo. Lancei 62 em março, 64 em maio, e pronto, agora eu estou com 67 metros"

O novo recorde foi conseguido em Throw Town Ramona, Oklahoma, nos Estados Unidos da América, no primeiro dia da competição anual de lançamentos. Logo no primeiro ensaio, Emanuel Sousa chegou aos 64,45 metros, depois fez um ensaio nulo, e conseguiu mais dois lançamentos válidos (59,16m e 63,62m), antes de estabelecer o novo máximo nacional, com um lançamento de 67,51 metros - o sexto e último ensaio foi nulo, mas a missão estava garantida. Apesar de ter terminado em 8.º e aquém do vencedor, o australiano Matthew Denny, com 74,25m.

E agora? Há um novo máximo no lançamento do disco em mente? "Ainda não disse a ninguém e acho que o estou a dizer alto pela primeira vez... Depois de bater o recorde nacional fiz mais uma prova nos Estados Unidos e só tive dois lançamentos válidos, um na casa dos 63m e um... Dos outros quatro, dois deles eram entre os 68 e 70 metros. Essa é marca que vou perseguir e que acho que consigo", respondeu o lançador, que continua à procura de cumprir o sonho de ir aos Jogos Olímpicos: "Los Angeles2028 tem que ser. Estou no nível que mereço estar e agora é continuar a ter esta performance e em 2028 estar aqui nos EUA de novo."

O primo Edujose é rival apenas quando está dentro do círculo a lançar

Fora das pistas, Emanuel é um homem caseiro: "Gosto bastante de estar em casa. Não sei porquê. Adoro os meus passeiozinhos, uma tarde de domingo, uns amigos, ver um filme, uma série, passear com a namorada. Uma boa conversa, no meio de amigos, normalmente. Mas não sou muito de sair e correr e para cima e para baixo."

Chamam-lhe Emanuel 'Best' Sousa. (risos) O Sousa é da parte da mãe e como havia muitos Sousa, para se distinguir, dizia que era o melhor de todos os Sousa e assim ficou o Emanuel 'Best' Sousa. Ainda tem a mãe uma irmã em São Tomé, a outra irmã está em Inglaterra.

E depois há o primo Edujose Lima, que é hoje o principal rival nas provas e... que está no Sporting. "Esse é o verdadeiro brilho do atletismo. Somos primos, somos rivais, mas isso só acontece quando estamos dentro do círculo a lançar, fora somos amigos, colegas de treino, somos o que devemos ser no momento. É uma das coisas muito bonitas que eu sempre agradeci e apreciei no atletismo. Existe aquela rivalidade dentro do círculo, depois, independentemente de quem ganha, somos amigos e família na mesma", conta Emanuel Sousa, o recordista low profile.

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