Quais são as novidades do NOS Alive deste ano?A novidade é sempre o cartaz. Já vamos na 17ª edição com 19 cartazes diferentes. No entanto, aumentámos o tamanho da tenda do palco Heineken. A Galp é agora a energia oficial do festival e, portanto, demos o nome de Galp Fado Café ao palco de fado. Um dos cabeças de cartaz era a banda King of Lion, que acabou por cancelar. Porquê a escolha dos Muse?Quando acontece um cancelamento, vamos sempre à procura de uma substituição. Aqui, deu-se a feliz coincidência dos Muse estarem na estrada até 15 dias antes da nossa data e. portanto, eles acharam por bem aceitar a nossa proposta. E também é uma forma de solidariedade entre os artistas, e também para o setor, neste caso, dos festivais. Foi um motivo de força maior. Eles cancelaram por impossibilidade da saúde de um dos membros da banda poder atuar. O médico proibiu-o mesmo de sair de casa. Tem que estar seis meses imobilizado. E, portanto, é uma forma de solidariedade, porque o setor não pode ser afetado. Relativamente ao cartaz deste ano, como foi pensado? O cartaz é sempre construído em função dos artistas que estão disponíveis. Não é aquilo que nós queremos nunca. Nós construímos o cartaz com quem está disponível e com a logística destes artistas conseguir chegar a Lisboa. E, obviamente, respeitamos um pouco a identidade do nosso público.O cartaz é pensado consoante as faixas etárias, havendo um dia mais “jovem”? O festival tem 19 anos. Muita gente que vem ao festival não era nascida quando aconteceu a primeira edição. E, portanto, nós temos que acompanhar a evolução dos tempos. Nós não podemos fazer festivais só com as bandas que têm 50 anos de carreira. Porque os festivais começaram exatamente há 30 anos. Começaram em julho de 1995. E tem que haver também uma renovação. Artistas como Besson Boone ou Olívia Rodrigo, de facto, são artistas das novas gerações. As rádios mainstream tocam também a música atual. Não deixam de tocar os clássicos, mas tocam a música atual e nós temos que acompanhar isso.Relativamente à venda dos bilhetes, já está um dia esgotado. Como é que estão os outros dias?O dia dos Muse está quase esgotado. Depois, só falta o dia 11 de julho.O NOS Alive tem sempre uma grande percentagem da público estrangeiro. Vai manter-se? Sim, está na mesma. Em média, temos 20% do público que vem de fora do país. E 40% vem de fora da Grande Lisboa. Vêm pessoas das ilhas e de todos os distritos do continente. Também vêm portugueses que estão lá fora. E muitos estrangeiros, nomeadamente britânicos e espanhóis.Atualmente, qual é que é a maior dificuldade para organizar um festival ?Para nós é muito importante a bilheteira. A nossa maior fonte de financiamento é a bilheteira. Os patrocinadores são relevantes para duas coisas. Uma, fazer com que os preços dos bilhetes ainda sejam dos mais baratos da Europa, comparando com os outros festivais. E, em segundo lugar, para adicionarmos conteúdos. O festival quando começou tinha três palcos, agora tem sete. E só foi possível, não porque aumentámos a capacidade, não porque aumentámos enormemente o preço dos bilhetes, mas porque arranjámos parceiros para isso. Fomos o primeiro festival a conseguir ter um palco de comédia com a ajuda de patrocinadores. Hoje, felizmente, quase todos os festivais têm comédia. E cada vez mais a comédia tem mercado e tem trabalho. E isso é o contributo dos festivais. Assim como também temos palcos, como o Palco Coreto, que tem predominantemente artistas portugueses e artistas que estão na fase de lançamento.O NOS Alive dá espaço aos artistas para crescerem? Claro, e a maioria dos artistas que atuam no festival são portugueses. O cartaz conta com 112 artistas no total e mais de 60 são nacionais.É sempre uma preocupação ter artistas portugueses no cartaz? Há uma artista, Girl in Red, que atuou no palco Heineken e passou este ano para o palco principal. Como é que é feita essa escolha?Isto não quer dizer, necessariamente, que seja uma promoção. Florence and the Machine é o exemplo mais claro. Tinha um reconhecimento público e um número de fãs mais pequeno quando atuou no palco Heineken. E depois já tocou no palco NOS e tinha muito mais gente. Isso é uma situação. Mas não quer dizer nada, porque nós consideramos todos os palcos palcos principais. Relativamente ao mercado dos festivais, Portugal está saturado de festivais? Não. No entanto, todos os projetos não perduram eternamente e aparecem projetos novos. E outros descontinuam. Isso faz parte da vida. Têm aparecido festivais novos e houve outros mais antigos que descontinuaram. Mas não temos festivais a mais. Temos uma falta de hábitos culturais e como produzimos pouco, também não temos poder de compra. Ao ganhar hábitos culturais, tornamo-nos melhores, produzimos mais, criamos mais riqueza, vamos viver melhor. Isto parece-me uma equação super fácil, melhorar o nível de vida dos portugueses. É preciso ter políticas nesse sentido. Porque, independentemente dos partidos que estão nos governos, a política cultural é sempre a mesma. E o resultado é este.Relativamente à sustentabilidade no festival...Tanta coisa! Desde que começámos, em 2007, temos investido muito nessa área. Mas já dissemos uma coisa: não somos fundamentalistas. Não vamos deixar de viver como vivemos. Podemos é ser mais racionais e mais inteligentes. Substituímos os geradores por energia de rede. Por isso é que parceiros como a Galp são importantes. Ainda hoje só usamos geradores no palco NOS. Todos os outros palcos e toda a infraestrutura está ligada à rede pública. Só temos geradores para evitar o apagão. Se houver um apagão, o festival não para. Os geradores entram como fonte alternativa de energia para que o festival continue a funcionar. Isso, para nós, foi fundamental. E foi um motivo de grande ansiedade da sociedade. Temos uma política de brindes - no início houve alguma resistência dos nossos parceiros -, em que têm que ser brindes úteis e reutilizáveis. É um bom princípio na comunicação das marcas através da oferta de brindes. Incentivamos muito a utilização do transporte coletivo. Por isso é que temos esta operação deste lado do rio, em que levamos as pessoas. Temos 25 autocarros, vão e vêm, levam as pessoas para o centro da cidade de Lisboa.Uma das grandes críticas ao festival é o fecho da passagem do comboio. Há planos para uma passagem aérea?Sim, mas os portugueses são muito engraçados. Reclamam muito, mas lá fora andam quatro quilómetros sempre que fazem turismo. Não se importam de fazer 15 quilómetros a pé para visitar as cidades. Isso faz parte. E, de facto, nós temos que fazer esse caminho por questões de segurança, porque é uma massa humana que sai em simultâneo. Felizmente, e já é visível, já está a ser construída a primeira passagem pedonal aérea. Portanto, no próximo ano será diferente. Não quero dizer que não haja necessidade de encaminhar pessoas para o viaduto, mas vai haver a possibilidade das pessoas usarem a passagem pedonal, que vai ter quatro metros de largura. Portanto, passamos a ter duas vias. Vamos testar com a proteção civil, com os bombeiros e com a polícia, porque isto não é uma decisão só nossa. Nós, quando fazemos isto, é para garantir segurança às pessoas, porque na passagem que existe, como tem a entrada da estação, as pessoas chocam. Seria um perigo se deixássemos as pessoas só usarem aquela saída. .Eduardo Serra: O cinema é uma arte da luz.Valter Hugo Mãe: "A verdade é muito digna. Mas eu trocaria a verdade por um verso"