Longe vão os tempos em que o hard rock liderava os tops de música. Mas quem visitasse o recinto do Rock in Rio Lisboa no primeiro dia de festival e visse os milhares que assistiram e aplaudiam a atuação dos Extreme poderia pensar que foi uma viagem no tempo, de volta ao início dos anos 90. E de certa forma foi. A banda revisitou os seus principais temas, e claro, a balada More Than Words. Mas já lá iremos..Passaram 32 anos da estreia em solo português da banda liderada pelo luso-americano Nuno Bettencourt. Foi a 6 de novembro de 1992 e no auge do lançamento do terceiro álbum de estúdio (III Sides of the Story) no pavilhão do Dramático de Cascais (entretanto demolido) que centenas viram os Extreme pela primeira vez (como mera curiosidade, o autor destas linhas esteve lá). E se já na altura, em 1996, o guitarrista fez conhecer o seu amor pelo país onde nasceu (na Praia da Vitória, Ilha Terceira, nos Açores), a tarde deste sábado no Parque Tejo foi ainda mais “portuguesa”..Leonardo Negrão / Global ImagensLeonardo Negrão / Global Imagens | Leonardo Negrão.A banda começou o seu concerto à hora marcada, 18.00h, e o público deu as boas vindas a Gary Cherone (vocalista), Pat Badger (baixista) e Kevin Figueiredo (baterista, e o único elemento que não fez parte do elenco original criado em 1985) com aplausos, mas foi quando o açoreano Nuno Bettencourt surgiu, com a sua guitarra em punho, que as palmas e gritos chegaram a um outro nível, mais elevado..Logo a abrir, a banda de Boston começou com a ritmada It's a Monster, música do segundo álbum da banda, Pornografitti (1990). Sem parar o ritmo frenético de Gary Cherone a andar de um lado ao outro do palco acompanhado pela também frenética guitarra do virtuoso Nuno Bettencourt (um dos mais aclamados guitarristas do mundo), seguiu-se Decadence Dance, do mesmo álbum..“É tão bom voltar ao país mais bonito do mundo, Portugal a minha casa, vamos partir tudo hoje!”, foram as primeiras das muitas palavras em português de Nuno Bettencourt no concerto do Rock in Rio..De seguida, #Rebel, música do album Six, lançado no ano passado e que tem recebido boas críticas da imprensa musical. Am I ever Gonna Change revistou o terceiro álbum, III Sides of Everystory (1992), com o vocalista Cherone a “espicaçar” o público para acompanharem a tarde de rock com uma versão curta de We Will Rock You, dos Queen. A fazer lembrar, pelo menos aos mais velhos entre o público, a atuação da banda no estádio de Wembley no tributo a Freddie Mercury, a 20 de abril de 1992..Pouco depois Nuno Bettencourt surge em palco com um boné com o emblema do Benfica, o que provocou de imediato a reação da público, e sem perder tempo começou a tocar a música Play With Me do primeiro, e homónimo, album da banda Extreme (1989). No final, perguntou ao público, com o seu sotaque açoreano, quem estava a ver a banda pela primeira vez e apresentou um dos maiores êxitos, Hole Harte (Pornografitti), e que parte do público (sobretudo os mais velhos) conhecia de cor..Leonardo Negrão / Global Imagens.A Portuguesa à guitarra.Com nova troca de guitarra, agora para uma acústica, Nuno Bettencourt, sentado a solo em palco, brincou com a sua idade e disse que era a sua parte preferida do concerto: “sentar-me, aos 58 anos, é tão bom como um orgasmo”. Aproveitou o “descanso” e falou da sua Ilha Terceira e explicou que é o seu “sítio feliz”. O solo na guitarra acústica foi seguido de o momento mais nacionalista (não confundir com termos políticos atualmente em voga) do concerto. Depois de dizer que os portugueses são os melhores cantores do mundo, puxou pelas vozes do público ao tocar o hino nacional, A Portuguesa, na sua guitarra..Se foi este um dos momentos de maior proximidade com o português de Boston, logo a seguir, já com o vocalista em palco, sentado ao lado de Nuno, tocaram a balada More Than Words (Pornografitti). Num anfiteatro a abarrotar de gente, a grande maioria mostrou ainda saber a letra de cor. Novos e velhos. Seguiu-se mais um solo de Nuno Bettencourt, agora com a sua guitarra elétrica, a fazer lembrar o porquê dos inúmeros prémios que ao longo da carreira tem ganho e que o nomeiam como um dos melhores guitarristas do mundo - um Cristiano Ronaldo das cordas..Seguiu-se Get The Funk Out, do álbum Pornografitti e, exatamente uma hora depois do início do concerto, a musica Rise, do mais recente album Six (2023). Na despedida, Nuno Bettencourt disse que foi um sonho voltar a tocar no seu país e que este foi "um dos dias mais felizes" da sua vida. Terminou com um “amo-vos” e, antes da vénia final, acompanhado dos restantes membros da banda, colocou a bandeira portuguesa e a da região autónoma dos Açores aos ombros..Foi um concerto de rock, mas em tempos de Europeu de futebol, mais parecia uma vitória da seleção e com golos de Ronaldo.