A exibidora NOS Lusomundo Cinemas vai dedicar três das 214 salas apenas ao cinema português, em Lisboa, Coimbra e Porto, para ajudar a subir a quota de mercado da produção portuguesa, disse hoje à Lusa o diretor-geral, Nuno Aguiar..A NOS Lusomundo Cinemas é a maior exibidora cinematográfica portuguesa, com 40,4% das 530 salas do circuito comercial no país, tendo decidido que, a partir de quarta-feira, três salas vão passar a exibir diariamente apenas cinema português: nos cinemas do Alvaláxia Shopping, em Lisboa, do Alma Shopping, em Coimbra, e do Alameda Shop & Spot, no Porto.."Com essas três salas podemos estimular a que as pessoas venham, criem um hábito e saibam que naquele espaço têm sempre cinema português. Pode ser que se consiga trabalhar um público específico e crescer esta tal quota do mercado", sublinhou..Nuno Aguiar diz que esta decisão é o contributo da NOS Lusomundo Cinemas para que o cinema português atinja "uma quota de talvez 10%" em número de espectadores e, consequentemente, em receitas de bilheteira..Segundo os dados mais recentes do Instituto do Cinema e do Audiovisual, em 2023 estrearam-se 47 filmes de produção portuguesa, que somaram 328.762 espectadores e originaram 1,5 milhões de euros de receita de bilheteira..Isto significa que o cinema português estreado em sala representou, em 2023, uma quota de 2,1% em receitas e 2,7% em audiência face ao panorama total dos filmes estreados no país, sendo das mais baixas quotas de mercado no espaço europeu..O filme português mais visto em 2023 no circuito comercial português foi a comédia "Pôr do Sol: O Mistério do Colar de São Cajó", de Manuel Pureza, com 118.671 espectadores..A título de exemplo, em França, um dos países mais fortes do espaço europeu em matéria de cinema, os filmes franceses representavam 39,8% do mercado em 2023, totalizando 71,9 milhões de espectadores, segundo dados do Centro Nacional de Cinema e Imagem Animada..Para o diretor-geral da NOS Lusomundo Cinemas, aquela opção de ter três salas de cinema retira a pressão comercial que existe noutras salas para o cinema português, pela quantidade de filmes que se estreiam em sala. Mas Nuno Aguiar rejeita que esta iniciativa se possa transformar num gueto.."Obviamente que isto não é limitador. Se houver cinema português que justifique ter muito mais salas, todos os filmes que o justificarem - aliás a maior parte dos filmes, pelo menos aqueles que tenham mais impacto nos espectadores - vão estrear em muito mais salas do que nestas três", disse..Questionado sobre o que é um filme português comercial e com "mais impacto nos espectadores", Nuno Aguiar responde como exibidor.."O cinema comercial é o cinema que faz 50.000 espectadores, 100.000. Se fizer mil ou menos, admito que os filmes sejam muito bons, mas em termos de exibição e comerciais não atraem tanto público. A perspetiva da qualidade da obra é outra. Como exibidor, é esta componente comercial, da quantidade de espectadores que consegue atrair, que tem interesse para nós", disse..Para o responsável, "o cinema português tem de se habituar a fazer pelo menos dois filmes por ano acima dos 200.000 espectadores e outros a fazer mais de 50.000". "Senão nunca chegaremos aos 10% de quota de mercado", disse..Segundo a exibidora, a partir de quarta-feira os cinemas do Alvaláxia Shopping, em Lisboa, do Alma Shopping, em Coimbra, e do Alameda Shop & Spot, no Porto, passam a ter uma sala para o cinema português..A abertura da iniciativa é marcada, na quarta-feira, em Lisboa, com uma sessão com três curtas-metragens portuguesas, sob o título "Entre Muros", reunindo os filmes "2720", de Basil da Cunha, "Corpos Cintilantes", de Inês Teixeira, e "Natureza Humana", de Mónica Lima..A sessão, às 19:30, contará com as presenças dos autores, numa conversa moderada por António Brito Guterres..Segundo a exibidora, a programação já planeada até setembro inclui filmes como "Cândido -- O espião que veio do futebol", de Jorge Paixão da Costa, as estreias de "O teu rosto será o último", de Luís Filipe Rocha, "Camarada Cunhal", de Sérgio Graciano, e "Mãos no Fogo", de Margarida Gil, e as reposições de "Pátio das Cantigas" e "O pai tirano".