Tigre lírio. A primeira estrela de um novo teatro lisboeta
Criar peças de teatro de raiz sempre esteve no horizonte de Susana Menezes, a programadora do Lu.Ca. Disse-o na abertura, no Dia da Criança, e demonstra-o agora. Este sábado estreia Um Tigre Lírio é Difícil de Encontrar, aquela que ficará na história como a primeira de todas as obras encomendadas para o Teatro Luís de Camões, o primeiro de Lisboa totalmente dedicado à infância (e juventude).
Uma floresta verde e quatro amigos amigos que se perdem. Quatro donos de imaginações férteis que se deixam encantar pela história do Tigre Lírio, protagonista dos seus medos, não se sabe se é inimigo ou aliado. Este é o ponto de partida de Um Tigre Lírio é Difícil de Encontrar, escrita e encenada por Alex Cassal, "com os atores". São quatro: Crista Alfaiate, Alfredo Martins, Binete Undonque e Daniel Pizamiglio. Em palco, conservam os mesmos nomes próprios.
Na cabeça da programadora estava há muito uma ideia: uma peça que permitisse tirar partido de todas as possibilidades do Teatro Luís Camões. "Que se apropriasse da máquina de cena e de tudo o que tem ao seu dispor, porque esta sala tem essa possibilidade", explica Susana Menezes ao DN. Nos últimos dois meses, como raramente acontece, porque as salas estão ocupadas com outra programação, Alex Cassal e a sua equipa puderam criar no próprio teatro. "Neste momento, ele é a pessoa que melhor conhece a sala".
Alex Cassal seguiu o programa à risca. Portas, entradas escondidas, o alçapão, o pano que sobe... Tudo é usado em palco. "Mostramos todas as possibilidades e apresentamos o que fica escondido", diz. Em palco, a floresta não é apenas floresta. É também palco, uma peça de teatro dentro da peça de teatro. Sonho de Uma Noite de Verão, onde também há uma floresta para onde fogem os jovens e se ensaia uma peça de teatro, vem de imediato à cabeça. E não é por acaso. A peça de Shakespeare foi um dos pontos de partida do encenador e dramaturgo. "Talvez tenha sido uma primeira faísca", diz ao DN. "Eles estão numa encruzilhada de culturas, leis, em fuga, com seres mágicos..."
No início de julho começaram sessões de leitura e improviso. Com o texto de Shakespeare, mas também Peter Pan, entre outros, lembra Cassal. A história surgiu assim: "A jornada pelo que não se conhece funciona como processo criativo e virou a história", resume. Os atores formam um grupo de amigos que se perde e que "sente o prazer de estar perdido". E então apareceu o Tigre Lírio.
"Levantámos uma grande quantidade de material e a meio começámos a alinhavar episódios, criámos uma lógica cronológica, deixámos muita coisa de fora, talvez façamos numa última sessão de cinco horas [risos]", diz Alex Cassal, que, finalmente, compôs a versão final.
"A história que a gente está contando é o que escrevi com material de todos", refere. Não apenas os atores, que aparecem na ficha técnica como autores-intérpretes, mas também o cenógrafo, a figurinista, o iluminador...
Um Tigre Lírio é Difícil de Encontrar, para maiores de 7 anos, pode ser vista todos os fins de semana até ao final de setembro, às 16.30. Ao mesmo tempo acontece a Biblioteca de Livros Espetaculares, uma seleção de obras de Sara Amado com recomendações de leitura associadas à peça.
No próximo fim de semana, as portas do teatro abrem às 10.00 para receber os visitantes da 7.ª edição da Open House, um evento que permite conhecer obras arquitetónicas da cidade de Lisboa com comentários de especialistas e arquitetos. No Luís de Camões estarão Manuel Graça Dias e Egas José Vieiras, autores do projeto de reabilitação.
A programação, até dezembro, inclui um ciclo dedicado a Catarina Sobral entre 3 e 14 de outubro com a peça de teatro Impossível, o lançamento do livro do livro com o mesmo nome (13 de outubro, às 17.30) e a exibição do filme-concerto Vazio, a 6 de outubro (18.00). Entre 30 de outubro e 11 de novembro, as atenções voltam-se para o ilustrador João Fazenda.