Thriller e problemas sociais: o sucesso literário de Faridah Àbíké-Íyímídé
A britânica Faridah Àbíké-Íyímídé sempre quis escrever histórias sobre heróis negros e já conseguiu realizar esse sonho - não uma, mas duas vezes.
Faridah Àbíké-Íyímídé lançou o seu primeiro livro Ás de Espadas em 2021 e este rapidamente se tornou um sucesso nas redes sociais, principalmente no TikTok, na hashtag #booktok. Foi graças a esta obra, traduzida em mais de dez línguas, que Faridah Àbíké-Íyímídé se tornou uma escritora bestseller do New York Times aos 22 anos.
“As reuniões do primeiro dia de aulas são a prática mais inútil de sempre. E isso é dizer muito, tendo em conta que a premissa da Niveus assenta em inutilidades”, começa assim o livro Ás de Espadas que conta a história de Devon Richards e Chiamaka Adebayo, dois alunos negros da escola privada Niveus que foram escolhidos para serem delegados de turma. No entanto, as mensagens de alguém chamado Ases a ameaçar revelar segredos viram o ano letivo destes dois alunos do avesso. Um livro que retrata a problemática do racismo e homofobia na sociedade atual.
A autora descreve a história do livro como o encontro entre o filme Foge de Jordan Peel e a série Gossip Girl. “A única coisa que une estes dois alunos é o facto de serem negros porque eles são completamente diferentes”, explica a autora em conversa com o DN, depois de ter marcado presença na feira do livro para uma sessão de autógrafos com os fãs.
A história surgiu quando Faridah precisava de um lugar seguro para escrever sobre o que sentia. “Sou de uma zona em Londres [Croydon] que é muito diversa e muito africana. Cresci a achar tudo isso normal, mas quando fui para a universidade na Escócia a demografia mudou completamente. Passei de uma área muito diversa para ser apenas eu e mais algumas pessoas de cor”, sublinha a autora, acrescentando que pela primeira vez experienciou coisas “estranhas na escola”.
Ao longo do livro, o leitor pode deparar-se com partes mais gráficas com sangue e violência. “Acho que o terror e o thriller num livro acabam por servir para falar da sociedade. Há muito horror na sociedade. Então, é um ótimo meio para explorar essas questões. Escolhi escrever um livro sombrio porque queria refletir sobre a sociedade atual”, menciona.
Ás de Espadas intercala entre o ponto vista de Devon Richards e Chiamaka Adebayo, saltando de um para o outro em cada capítulo. No entanto, escrever dessa forma não foi um desafio para a autora. “Acho que porque são diferentes personagens, foi muito fácil. Eles são opostos e têm vidas diferentes. Mas se eles fossem muito parecidos, eu acho que seria difícil”, explicou Faridah Àbíké-Íyímídé.
A escritora sempre gostou da forma como ler a fazia sentir e foi esse sentimento que a fez começar a escrever. “Queria escrever para fazer outras pessoas sentirem o mesmo que eu. Eu gosto de entreter as pessoas através dos meus livros”.
Os seus livros são muitas vezes inspirados em programas de televisão e filmes. “Quando gosto muito de um programa ou filme, dá-me vontade de escrever algo parecido, mas com o meu próprio estilo. Então, começo a tirar notas durante meses sobre a história que quero criar e a fazer um plano”, explica Faridah Àbíké-Íyímídé, acrescentando que para Às de Espadas tinha um plano de 30 páginas.
Em março passado, a escritora lançou A Cama Onde Elas Se Deitam. Uma história que a autora descreve como herdeira do filme Lindas e Terríveis (Mean Girls) mas com um homicídio.
Este livro conta a história de uma rapariga órfã, Sade Hussein, que depois de estudar em casa toda a sua vida, vai pela primeira vez para um colégio - Alfred Nobel. Na primeira noite na nova escola, a sua colega de quarto, Elizabeth, desaparece, levantando a rumores de que Sade estava envolvida no desaparecimento. É uma história que retrata a importância das mulheres e o poder feminino. “Sade tem vários traumas que está a tentar deixar para trás. É basicamente como o Harry Potter. Eu queria que fosse um livro muito divertido, mas tem também imenso trauma”, explica.
Ao longo do livro estão espalhados códigos e puzzles como mensagens em código morse. Isto era algo que Faridah Àbíké-Íyímídé queria muito experimentar, devido à sua paixão por enigmas. “Foi uma parte complicada. A tradutora em português disse-me que foi muito difícil para ela traduzir isso em português, mas ela fez um bom trabalho”, conta.
Neste momento, a escritora está a preparar o seu terceiro livro e revelou ao DN que será desta vez sobre vampiros e fantasia. “Este livro ainda não está terminado mas estou muito ansiosa”, disse.
Faridah Àbíké-Íyímídé quer dar voz às pessoas marginalizadas pela sociedade com as suas histórias. “Durante muito tempo, houve vários tipos de pessoas que foram marginalizadas por serem diferentes no Ocidente e foram muito mal tratadas. Mas quase não se fala sobre o que aconteceu. Então, acho que é muito importante dar voz a essas pessoas”.
Nas suas histórias, os heróis são pessoas negras, mas autora quer escrever um dia sobre vilões. “Nas minhas histórias são heróis. Acho que assim nos dá poder de voltar a ser a personagem principal de uma história. Mas também adoro a ideia de escrever sobre vilões negros um dia”.