Sexismo, plásticas e um Jonas Brother. Biografia aos 38 anos de Priyanka Chopra

O título surgiu muito antes do livro. Incompleta, a biografia de Priyanka Chopra, já está nas bancas. Um livro em que a atriz e ex-miss Mundo conta a infância na Índia, a adolescência com a tia nos EUA e as pressões para ser perfeita. Ah!, e o casamento com Nick Jonas.

Ainda estava longe de pensar em escrever uma biografia e Priyanka Chora já tinha escolhido o título. Em 2017, quando respondia às 73 perguntas da Vogue, a atriz garantiu que se a sua vida fosse um livro se chamaria "Incompleta". A própria o recordou agora que a ideia se tornou realidade e Incompleta já está nas bancas. Afinal que melhor título para um livro de memórias de alguém com apenas 38 anos. Mas a atriz que muitos em Portugal conhecem da série Quantico é muito mais do que isso e no livro conta não só a infância na Índia, a saltitar de cidade em cidade ao sabor das colocações dos pais, médicos das forças armadas indianas, a adolescência nos EUA, onde viveu com uma tia, o sonho de ser engenheira aeronáutica, a vitória no concurso Miss Mundo 2000, mas também todas as pressões de Bollywood e Hollywood para ter a imagem perfeita. Ah, e o casamento com o cantor Nick Jonas - ou não estivesse o livro assinado Priyanka Chopra Jonas.

"Sendo uma personalidade pública há mais de 20 anos mas tendo tanta coisa para viver e fazer tanto em termos pessoais como profissionais, estou bastante Incompleta. Mas a parte mais interessante de escrever estas memórias foi que me forçou a olhar para as coisas de forma diferente, fazer as pazes com tantas coisas que achava que tinha ultrapassado. Ao fazê-lo percebi que ser "incompleta" tem um significado mais profundo para mim e é a característica mais constante ao longo da minha vida", explica Chopra num vídeo que partilhou no Instagram.

Nascida em 1982 em Jamshedpur, no estado indiano de Jarcanda, Priyanka recorda com sentido de humor alguns episódios de infância que para a criança que ela era na altura não terão sido assim tão divertidos. Como a decisão dos pais, Ashok e Madhu Chopra, de a mandarem para um colégio interno. Priyanka tinha 7 anos quando o pai achou que a filha precisava de "aprender disciplina" e a mandou para o colégio de raparigas La Martiniere em Lucknow, no estado do Uttar Pradesh. Em lágrimas de cada vez que a mãe a ia ver, Chopra acabou por ver as visitas suspensas, porque os responsáveis do colégio consideraram que a perturbavam. Mas depois de seis meses a questionar a "injustiça" dos pais, acabou por se integrar, e no livro recorda como foi ali que aprendeu a ser independente - um valor que levou para o resto da vida.

Mas nem só de drama se fez a história de Priyanka. A atriz que sonhou estudar Engenharia Aeronáutica mas acabou por trocar a universidade na Austrália pelo circuito dos concursos de beleza conta alguns momentos anedóticos em Incompleta. Como o dia em que, aos 14 anos, teve de esconder o primeiro namorado - a quem chama Bob no livro - dentro do armário para não ser apanhado pela tia Kiran. Um ano antes, Priyanka mudara-se para os EUA para estudar, tendo vivido nos estados do Massachusetts, Iowa e Nova Iorque. Mas foi em Indianapolis, Indiana, que esta história aconteceu. Claro que Kiran depressa percebeu que a sobrinha a estava a enganar ao fingir estudar para Biologia e mandou-a abrir o armário, de onde Bob saiu a tremer. O episódio valeu um castigo a Priyanka e um rol de queixas à sua mãe.

Dos tempos passados nos EUA, Chopra conta ainda outro momento embaraçoso. O dia em que foi com os tios e primos ao MoMA, o museu de arte moderna de Nova Iorque, e ficou tão fascinada com A Noite Estrelada de Van Gogh que não resistiu a tocar-lhe. Claro que foi logo repreendida por um segurança e acabaram todos expulsos do museu. "Estava mortificada por ser eu a razão pela qual estávamos a ser escoltados até à porta. Mas, no fundo, também estava radiante por o ter feito", confessa Chopra.

Depois de três anos nos EUA, Chopra voltou para a Índia. A adolescente complexada, que não gostava das manchas brancas nas pernas, tornara-se uma jovem atraente que depressa ganhou o seu primeiro concurso de beleza. E os pretendentes começaram a chover. Primeiro seguiram de bicicleta o riquexó que Priyanka e as amigas apanhavam para ir até casa do explicador, mas no dia em que um dos rapazes decidiu saltar o muro e entrar na propriedade dos Chopra, Ashok disse basta e mandou instalar barras de ferro em todas as janelas.

Do Miss Mundo para... o mundo

O salto de Priyanka para o mundo deu-se quando venceu o concurso de Miss Índia e depois o Miss Mundo, cuja gala decorreu no Millennium Dome em Londres, em novembro de 2000. Com o seu rosto em tudo o que era meio de comunicação, as propostas para entrar em filmes não demoraram.

O primeiro papel devia ter sido em Humraaz, de Abbas-Mustan. Mas problemas de agenda acabaram por inviabilizar a sua participação, adiando a sua estreia no grande ecrã, que acabaria por se dar em 2002 com o filme em língua tamil Thamizhan. As críticas no jornal The Hindu foram positivas para a jovem atriz que no ano seguinte se estreava em Bollywood com The Hero: Love Story of a Spy, uma história de espionagem, amor e luta contra o terrorismo em Caxemira, de Anil Sharma. Contração de "Bombaim" e "Hollywood", Bollywood refere-se ao cinema indiano em língua hindi - uma megaindústria que todos os anos produz milhares de filmes caracterizados por guarda-roupas coloridos e danças de coreografia complexa.

Com a fama, chegaram também as pressões para ter a aparência perfeita. E nas suas memórias, Priyanka recorda como uma das primeiras coisas que um realizador lhe disse foi que devia fazer um implante mamário. "Passados uns minutos de conversa, o realizador e produtor disse-me para me levantar e dar uma volta para ele. Foi o que fiz. Ele olhou para mim fixamente, a avaliar-me, e depois sugeriu que fizesse um implante mamário, arranjasse o maxilar e fosse operada para ficar com o rabo mais empinado. Se queria ser atriz, disse, tinha de melhorar as minhas proporções. E ainda me disse que conhecia um excelente médico em Los Angeles. O meu agente concordou", escreve.

A atriz decidiu não seguir os conselhos do tal realizador, que não identifica, mas isso não a poupou à alcunha de "plastic Chopra". Tudo, garante, porque quando tinha 20 e poucos anos lhe descobriram um pólipo na cavidade nasal que obrigou a uma intervenção cirúrgica. Que correu mal: ao remover o pólipo, o médico fez colapsar o septo nasal da atriz. "Quando tiraram o penso, a minha mãe e eu ficámos horrorizadas. O meu nariz tinha desaparecido e o meu rosto estava completamente diferente. Já não era eu", conta no livro. Apesar das muitas cirurgias, o rosto da atriz não voltou ao que era, multiplicando os rumores de que se submetera a operações plásticas para mudar o aspeto. Ela garante que só o fez por razões médicas.

O regresso aos Estados Unidos - desta vez como atriz - deu-se em 2015, quando se estreou a série Quantico. Nela, interpreta a recruta, e depois agente, do FBI Alex Parrish. Um papel pelo qual recebeu os elogios dos críticos - o Los Angeles Times saudou a sua "presença dinâmica no ecrã, o The New York Times considerou-a "o ativo humano mais valioso" da série - e também o People"s Choice Award para melhor atriz numa nova série televisiva: o primeiro para uma asiática.

Cancelada em 2018, Quantico abriu as portas de Hollywood a Chopra, que participou em filmes como o muito criticado Baywatch, ao lado de Dwayne Johnson e Zac Efron, ou A Kid Like Jake, com Claire Danes e Jim Parsons. Mas não deixou de alternar com atuações em filmes indianos. Em 2019, produziu e protagonizou The Sky Is Pink, de Shonali Bose, em que interpreta a mãe de uma adolescente que sofre de uma doença terminal. Está neste momento a promover O Tigre Branco, de Ramin Bahrani e inspirado no romance de Aravind Adiga, do qual é também produtora.

Da mensagem no Twitter ao duplo casamento com Nick Jonas

Embaixadora da Boa Vontade da UNICEF, ativista dos direitos das mulheres e da igualdade salarial, Chopra não podia deixar de falar da vida amorosa nas suas memórias. Conta, por exemplo, como, ainda a recuperar da morte do pai, em 2013, se sentiu "triste e isolada" após terminar um namoro. E conclui que muitas relações que teve antes de Nick Jonas, um dos Jonas Brothers, foram "tóxicas".

Chopra e Jonas "conheceram-se" em setembro de 2016 quando Nick deixou uma mensagem no Twitter de Priyanka. Ela pediu-lhe para lhe mandar antes um sms e assim o cantor ficou com o seu número de telefone. O primeiro encontro deu-se numa festa pós-Óscares em 2017, mas se Nick lhe fez uma declaração, Priyanka tinha um avião para apanhar e foi por sms que continuaram a flirtar. Apesar de terem aparecido juntos na Met Gala, o primeiro encontro a sério só se deu em maio de 2018. Dois meses depois estavam noivos e em dezembro casavam-se na Índia numa dupla cerimónia cheia de luxo que refletiu as crenças dos noivos - primeiro uma união cristã, depois um casamento hindu.

Nick e Priyanka têm passado o confinamento em Londres, onde a atriz se encontra em gravações. Foi de lá que, numa intervenção em vídeo do programa The Late Show de Stephen Colbert, comentou a eleição de Kamala Harris, filha de uma indiana e a primeira asiática (e mulher e afro-americana) eleita vice-presidente dos EUA. "Bem-vinda ao clube, América", comentou a atriz, lembrando que "um país como a Índia já teve várias mulheres em cargos de liderança, seja presidente ou primeira-ministra". Mas se Indira Gandhi (a única mulher a chefiar um governo indiano; o cargo de presidente é apenas cerimonial) com certeza será uma referência, é Mahatma Gandhi (que lutou com o pai de Indira, Jawaharlal Nehru, pela independência da Índia, mas sem parentesco) que a mulher que gerou polémica ao aparecer de vestido acima do joelho numa foto com o primeiro-ministro Narendra Modi garante ser a sua maior inspiração.

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