Ryan Adams acusado de comportamento obsessivo e sexualmente inapropriado
O movimento #MeToo acaba de atingir o músico Ryan Adams. Um artigo do New York Times publicado na quarta-feira apresenta testemunhos de várias mulheres que denunciam um comportamento manipulador, em que aquela estrela do rock alternativo terá usado o seu poder para lançar carreiras neste ramo ao mesmo tempo que perseguia artistas com intenções sexuais, e agressivo, embora sem nunca cometer violência física. Os testemunhos vão de uma rapariga então de 14 anos à sua ex-mulher Mandy Moore.
Quando Ryan Adams, que se estreou nos discos com Heartbreaker (2000) começou a corresponder-se com Ava, identificada pelo jornal pelo seu segundo nome, esta era uma adolescente e tocava baixo. Conheceram-se no Twitter. O contacto entre os dois, que começou quando a rapariga tinha 14 anos, continuou. O New York Times teve acesso a mais de três mil mensagens que os dois trocaram quando Ava tinha 15 e 16 anos. Nelas Ryan questionava repetidamente a rapariga acerca da sua idade.
Embora ela lhe tenha dito algumas vezes ter uma idade superior à idade real, o músico não parecia convencido e chegou a escrever-lhe, em novembro de 2014: "Meter-me-ia em problemas se alguém soubesse que falamos assim." Adams pedia ainda assim à rapariga fotografias e chegou a fazer-lhe pedidos específicos, como para "tocar no mamilo". Numa conversa por Skype, surgiu nu.
O advogado do músico, Andrew B. Brettler, afirmou ao Times que Adams "nega categoricamente que alguma vez se tenha envolvido em comunicações online de cariz sexual inapropriadas com alguém que soubesse ser menor de idade".
Phoebe Bridgers tinha 20 anos quando Adams a convidou para o estúdio da sua editora, a Pax-Am. Propôs-lhe gravar as suas músicas e lançar a sua carreira. Dentro de pouco tempo, começou a enviar-lhe mensagens mais pessoais e e os dois começaram uma breve relação amorosa. Adams propôs-lhe fazer os concertos de abertura durante a sua tournée na Europa.
Contudo, semanas depois, o seu comportamento tornou-se obsessivo, com Adams a enviar-lhe repetidamente mensagens para que ela provasse onde estava, a exigir-lhe que saísse de diferentes situações para sexo por telefone, e a ameaçar suicidar-se caso ela não respondesse às suas mensagens.
Quando a relação terminou, Adams fugiu à questão do prometido lançamento da música de Bridgers e retirou a oferta para esta abrir os concertos seguintes. Adams nega ter prometido editar a sua música.
Algum tempo depois, Phoebe Bridgers acabou por ser convidada para abrir concertos de Ryan Adams em 2017 e acedeu. No primeiro dia, contou ao New York Times, "ele pediu-me para levar-lhe algo ao seu quarto de hotel. Cheguei e ele estava completamente nu." O músico nega, através do seu advogado, que tal tenha acontecido.
Além das declarações transmitidas pelo seu advogado, Ryan Adams escreveu ainda vários tuítes. Num deles escreveu: "Não sou um homem perfeito e cometi muitos erros. As minhas profundas desculpas a quem quer que eu tenha magoado, ainda que sem querer." Noutro, o músico defendia-se dizendo que aquilo que o artigo em causa transmite é "incorreto", argumentando que alguns dos detalhes "exagerados" e outros são "completamente falsos". "Nunca teria interações inapropriadas com alguém que eu soubesse que era menor. Ponto final."
Duas outras mulheres cantautoras, que não quiseram ser identificadas por temerem as consequências de uma possível vingança, segundo o jornal, descreveram um comportamento semelhante por parte de Ryan Adams, que as tentou seduzir aliciando-as com um lançamento das suas carreiras e ameaçando depois uma retaliação com implicações de carreira caso a relação não corresse como ele queria.
Mandy Moore, hoje atriz da série This is Us, foi casada com Ryan Adams entre 2009 e 2016. A música e atriz acusa-o de ter monopolizado e procurado travar a sua carreira musical. As músicas que gravavam juntos não viam a luz do dia. Quando o estúdio de gravação estava reservado, o então marido substitui-a por outras cantoras. Adams dizia-lhe que "não era de facto música", pois não tocava nenhum instrumento.
"O seu comportamento controlador bloqueou a minha capacidade para fazer novas ligações na indústria [musical] durante um período fulcral e potencialmente lucrativo", afirmou Mandy Moore, citada pelo New York Times.
A ex-noiva de Adams, Megan Butterworth, também deu conta de um comportamento abusivo por parte do músico, que acusa de a ter isolado social e profissionalmente e de a ter ameaçado fisicamente, além de chegar mesmo a partir objetos à sua frente, embora nunca lhe tenha chegado a bater, contou ao mesmo jornal.
Quando o deixou, no ano passado, Adams ter-lhe-á enviado centenas de mensagens, chamadas e emails, ameaçando suicídio e processos judiciais. O New York Times teve acesso a várias dessas mensagens. O músico, por sua vez, nega qualquer comportamento abusivo ou controlador.