Um produtor de cinema que se tornou diretor da primeira Academia de cinema em Portugal. Imagino que tenha sido uma grande mudança na sua vida… Sim, em 2009 tive esta ideia: não entendia como estávamos sem uma Academia, quando todos os outros países tinham. Sabe, entendi isso como uma missão pessoal. Falei com uma série de colegas na nossa área e, no começo, éramos poucos. Mas foi aí que começámos a fazer as primeiras reuniões para fazer os estatutos. De repente, já éramos uns 30… Hoje somos 1300! Foi a pouco e pouco. Mas a minha entrega foi mesmo num espírito de missão! Isto absorveu-me por completo, deixei de produzir. No começo, ainda estava ligado ao Comboio Noturno Para Lisboa, de Bille August, mas depois não quis mais nada. Por outro lado, queria dar uma ideia de distância ética e nem concorri a mais nenhum financiamento - como se sabe, em Portugal, as freguesias do cinema são muito desconfiadas. E a grande ideia da Academia era aproximar todos no nosso cinema! Criar a Academia foi a minha maior produção… Uma produção que eventualmente deixo com muito gosto no fim deste meu último de cinco mandatos.Para voltar à área de produção? Sim, mas também à de realização. Sinto algumas saudades de um plateau e acho que a missão da Academia está cumprida. Trata-se de uma Academia que já tem a sua solidez para prosseguir o seu caminho. Temos gente jovem para continuar esta missão!Quais foram as grandes conquistas? Na área da premiação, os Prémios Sophia! De certa maneira, tornaram-se uma instituição. Foi também importante a criação dos Prémios Sophia Estudante, que hoje já não é só um dia - são uma série de dias, em Albufeira, e nos quais se juntam as escolas todas de cinema do país com projeções e masterclasses, bem como o Prémio Feminino Bárbara Virgínia, o da interpretação de promessa, os Nico. Além de que fazemos projetos de formação como as Oficinas, o Pitching, o 4 Mãos, etc. Estamos ainda a desenvolver a ideia de um museu, da sede e até de um cinema..Sendo que a Academia também é a responsável por escolher o filme português proposto para a Academia de Hollywood…A propósito, como explicar que Portugal é um dos poucos países que nunca teve uma longa nomeada para um Óscar? Há de chegar! Sobretudo se mantivermos esta pedalada - o nosso cinema é muito interessante. É sempre muito difícil, e cada vez mais o será! Trata-se de um luta tremenda, mas é preciso haver divulgação e ter distribuidor nos EUA. Mas temos tido umas aproximações.A Academia tem tido um apoio forte de Marcelo Rebelo de Sousa… Sim, o professor Marcelo Rebelo de Sousa tem sido um amigo da Academia. Ele, no jantar da semana passada com os nossos vencedores, contava que na Cerimónia da Abertura das Olimpíadas a ministra da Cultura francesa dizia que a principal área de cultura portuguesa mais reconhecida em França é o cinema. Como é que o presidente da Academia reage a este contínuo declínio dos números nas bilheteiras do cinema português? De certa maneira isso ultrapassa-nos, mas temos de fazer uma ação conjunta com os distribuidores e encontrar novas maneira de se lançar um filme. Como parceiros do setor, estamos prontos para ajudar. Todos nós temos de fazer mais.. Há pouco falava de freguesias, mas a verdade é que 13 anos depois há menos distâncias entre os profissionais de cinema. Na última cerimónia dos Sophia vi muita gente na mesma sala que supostamente são de capelinhas distintas. Será que a Academia conseguiu uma ideia de união? Por outro lado, um Pedro Costa ou os filmes da Terratreme nunca venceram o Sophia… É a democracia do votos dos membros… Mas recordo que o filme do Costa foi o escolhido para ir aos Óscares. Sinto que a Academia é um território sagrado, onde estão todos e permite uma confraternização única durante a cerimónia..Não está demasiado centralizada em Lisboa, a Academia? Isso é uma preocupação, mas não é por acaso que estamos em Albufeira com os Sophia Estudante.