Um musical produzido em 2025? Mais do que isso: um musical francês? É verdade: Partir, um Dia (Partir, un Jour), primeira longa-metragem de Amélie Bonnin, aposta na possibilidade de contar uma história típica da chamada comédia dramática, não apenas através da ironia das peripécias que o género impõe, mas também “temperando” a narrativa com música e canções - aliás, o projeto retoma personagens e situações de uma curta-metragem com o mesmo título que Bonnin realizou em 2021.A estas singularidades de Partir, um Dia será forçoso acrescentar o protagonismo que o filme obteve no passado mês de maio, em Cannes, quando serviu de abertura oficial (extracompetição) ao festival - nunca uma primeira obra tinha sido escolhida para inaugurar o certame. Se a tudo isto acrescentarmos que Bonnin se assume como herdeira do musical de Jacques Demy, ele próprio uma ilha criativa na história da Nova Vaga francesa, o menos que se pode dizer é que Partir, um Dia ecoa os valores plurais de uma tradição que, como é óbvio, deixou de ter um lugar de evidência em qualquer mercado (francês ou internacional). . Não se trata de colocar o trabalho de Bonnin no mesmo plano artístico ou simbólico da filmografia de Demy (Os Chapéus de Chuva de Cherburgo, As Donzelas de Rochefort, etc.). Partir, um Dia surge num contexto de produção e difusão totalmente distinto da década de 1960. O que importa reter é o facto de Bonnin arriscar num registo, afinal clássico, que se distancia das regras atuais de utilização das canções, quer nos telediscos, quer em algumas variantes da produção publicitária.Tudo começa com uma linha dramática típica, precisamente, da comédia dramática: Cécile (Juliette Armanet), vedeta de televisão graças ao seu programa de gastronomia, prepara-se, com o seu companheiro, para abrir um restaurante; ao receber notícias dos problemas de saúde do pai, decide visitá-lo, reencontrando Raphaël (Bastien Bouillon), um namorado da juventude...Se é verdade que esta geometria de personagens se vai desenvolvendo através de sobressaltos mais ou menos previsíveis, não é menos verdade que Bonnin sabe tirar partido de um contraste narrativo gerido com especial cuidado. A saber: por um lado, a pontuação dos elementos musicais favorece um artifício de espetáculo que os dois intérpretes principais assumem com contagiante energia; ao mesmo tempo, por outro lado, nada disso impede que Partir, um Dia trate os seus ambientes com um gosto realista pouco comum em projetos deste género. Não será a promessa de um regresso triunfante do musical (em França ou onde quer quer seja), mas não deixa de ser uma experiência cinematográfica de envolvente alegria formal. .'Gato Fantasma Anzu'. Desenhos animados em tom japonês.'Depois da Caçada'. O cinema é também uma arte da palavra