Para matar (e ressuscitar) os filmes de super-heróis
Os filmes da MCU (Marvel Cinematic Universe) andam pelas ruas da miséria. Era preciso um novo Messias. Pois bem, a viragem da Fox para a Disney colocou Kevin Feige, o patrão da Marvel, com uma batata quente: o que fazer com os filmes bem-sucedidos de Deadpool? Foi inteligente: deu liberdade criativa total a Ryan Reynolds e aos seus argumentistas e o Messias da Marvel é mesmo este super-herói de fato demasiado justinho. O resultado é uma divertida comédia insolente, em que a própria crise da Marvel é o grande tema - pode estar aqui o filme que salva ou danifica os filmes de super-heróis, mesmo sendo propositadamente vulgar, sangrento e excessivo.
Desta vez, o herói em questão é capturado pela polícia das viagens ao multiverso e, para salvar o seu mundo, é obrigado a procurar o seu antigo colega, o infame Wolverine, entretanto já morto. Mas como dá para entrar em diversos universos, Deadpool alia-se supostamente ao pior Logan que há nessas realidades do multiverso.
A intriga é tão patética que o próprio argumento goza com isso. Aliás, tudo nesta sequela é gozo puro, talvez com um high concept cinematográfico mais próximo da sátira pura do que mais alguma outra coisa. Uma espécie de levar ao extremos mais radicais a Quarta Parede: não só as personagens falam com a câmara, como também se prestam ao escárnio das suas perceções (Reynolds alude a Blake Lively, Jennifer Garner a Ben Affleck). Tanto causa gargalhada como em seguida tem um efeito de repetição…
Mesmo sem estar ao nível do primeiro Deadpool, esta nova parceria com a personagem Wolverine é bem-sucedida ao funcionar como uma homenagem pop ao legado da Fox - chegamos, inclusive, a ver o logo da 20th Century Fox em ruínas no Void, o local onde os super-heróis gastos vão. É a tal lógica de dinamitar os próprios clichés das opções da Disney e da Marvel.
Nesse sentido, Deadpool & Wolverine é cinema extremo de autossabotagem, feito com um fulgor pop de cenas de ação e nas quais Madonna é jogada como trunfo genial. Sim, genial é a palavra. E no festival de farsa spoof com apelo de humor sexual o próprio tratamento dos cameos parece ganhar um novo significado, mesmo quando há subtilezas que arrasam o conceito Avengers (obrigado Chris Evans!).
Shawn Levy, o realizador, não tem um currículo limpo de filmes fraquinhos, mas aqui filma ação coreografada como um musical de uma maneira que é capaz de deixar com inveja um Zack Snyder…