O pavão é uma ave bela e de temperamento dócil cujo principal habitat fica na província de Yunnan, situada no sudoeste da China. É também nesta região que vive o povo dai, que nutre uma admiração ancestral por esta ave. Para os dai, o pavão simboliza sorte, prosperidade e felicidade.Com grande talento para a música e a dança, este povo têm especial apreço pela dança do pavão. Sempre que chegam o Festival da Água ou outras celebrações tradicionais, os dai reúnem-se ao som de tambores e gongos, dançando para pedir chuvas favoráveis, colheitas abundantes e um futuro promissor.As regiões de Xishuangbanna e Dehong, onde se concentra o povo dai, beneficiam de um clima tropical de monções. A floresta quente e húmida, que ali predomina, proporciona um habitat ideal para os pavões, que coexistem pacificamente com os seres humanos. Nos campos e florestas, essas aves caminham com leveza, brincam na água e exibem as penas em forma de leque, num verdadeiro espetáculo de cor e elegância, de tal forma que os dai as apelidam carinhosamente de “espíritos da floresta”. Inspirado pela beleza e pelos gestos dos pavões, este povo desenvolveu uma dança que reproduz os movimentos delicados e majestosos desta ave, uma forma natural de homenagear a natureza e expressar o carinho que lhe dedicam.No contexto do budismo teravada, a religião predominante entre os dai, o pavão é venerado como uma “ave sagrada”, símbolo de boa sorte, luz e nobreza. Segundo os textos budistas, o pavão ajudou o Buda a expulsar os demónios que perturbavam a harmonia natural, restaurando a paz na Terra. Outra lenda conta que a ave dançou com tamanha devoção que comoveu o Buda, que lhe concedeu uma bênção de luz, levando a sua cauda a brilhar com cores deslumbrantes. Desde então, a dança do pavão transformou-se também num ritual espiritual, uma oferenda simbólica ao Buda em dias festivos.. Um dos movimentos mais emblemáticos desta dança é a chamada “tríplice curvatura”, que consiste numa postura em que a cabeça, a cintura e os joelhos se alinham em curvas suaves que recordam a letra “S”. Este gesto não só evoca a elegância do pavão, mas também traduz a natureza flexível e fluida do povo dai, cuja identidade cultural foi moldada pela água e pela floresta.Tradicionalmente, a dança do pavão era executada por homens, que utilizavam máscaras, adereços e armações para imitar a cauda da ave. Contudo, no início do século XX, Mao Xiang - o mestre da dança - inovou, abandonando os pesados adereços e apostando numa maior liberdade expressiva do corpo. A sua abordagem valorizava menos a semelhança física com o pavão e mais a captura da sua essência, através do olhar, das mãos e da postura. Mao também desenvolveu um sistema pedagógico estruturado para o ensino da dança e foi pioneiro na criação de duetos entre dançarinos e dançarinas.Nas décadas de 1960 e 1970, Dao Meilan destacou-se como a principal herdeira desta tradição ao introduzir a dança feminina do pavão. Inspirando-se nas lendas amorosas do povo dai, criou a personagem da “Princesa Pavão”, um solo encantador que marcou a primeira vez que uma mulher dançou sem máscara, centrando a expressão no corpo, no rosto e na emoção da intérprete. . Hoje, o público conhece sobretudo a versão contemporânea criada pela renomada bailarina Yang Liping, que levou a dança do pavão a novos patamares com a sua obra “O Espírito do Pavão”. Nesta coreografia, Yang funde com mestria a tradicional linguagem corporal, a música moderna e técnicas cénicas inovadoras, interpretando o pavão como um símbolo da ligação entre a humanidade e a natureza. A sua atuação levou a beleza da dança e o afeto do povo dai por esta “ave sagrada” de Yunnan a plateias chinesas e internacionais.Se isto despertou a sua curiosidade, sugerimos que procure vídeos da dança do pavão na internet. Acreditamos que se deixará cativar pela sua espiritualidade tocante.Para descobrir mais conteúdos fascinantes sobre a história e a cultura chinesas, siga a nossa página no Instagram e no Facebook em “Vislumbres da China”..Iniciativa do "Macao Daily News"