Leitores não faltaram em 2025 e, perante as primeiras novidades que irão chegar brevemente às livrarias, também não deverão estar menos interessados na boa oferta do ano que está para começar. O ano que termina foi em muito marcado pela não-ficção e no caso português pelos protagonistas da política nacional – em boas e más memórias -, bem como um fenómeno nunca visto, cerca de uma dezena de livros sobre os candidatos presidenciais às próximas eleições para Belém. Aliás, um dos primeiros volumes a ser publicado é exatamente a análise a uma situação até agora única nas eleições presidenciais e que todos apostam que se irá repetir neste próximo ato eleitoral: uma segunda volta. Com saída marcada para dia 15 de janeiro, replica a situação mais previsível no título A Segunda Volta – 1986, as eleições que mudaram o país (Contraponto), de João Reis Alves. A história já tem quarenta anos e conta-se o duelo entre os candidatos Freitas do Amaral e Mário Soares que, ambos sem maioria, tiveram de disputar uma segunda volta. Mesmo que desta vez a disparidade das sondagens não aponte para diferenças eleitorais na primeira volta como as de 1986, respectivamente 43 a 46% e 24 a 27%, será difícil escapar a uma repetição da votação para se conhecer o sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa. Também não será fácil que os factos que destronaram o previsível vencedor se verifiquem desta vez: “Uma viagem alucinante pela política portuguesa numa altura em que a democracia era ainda uma conquista recente e o país enfrentava uma grave crise económica”. No entanto, o que fez mudar a correlação de forças poderá voltar a verificar-se sob outras formas que não a violência do ataque físico a Soares na Marinha Grande ou a moda do sobretudo verde (Loden) de Freitas do Amaral. Segundo o autor, este livro assume-se “como o testemunho essencial para recordar o país que fomos e pensar o país que temos”. Quanto ao vencedor das próximas eleições, esperemos mais uns dias…Para antecipar o resultado eleitoral das Presidenciais há um outro livro que poderia ajudar bastante: No Limite - A Arte de Arriscar Tudo, de Nate Silver (D.Quixote). O autor previu a vitória de Barack Obama e Donald Trump, propondo agora com este volume entregar um guia definitivo para lidar com a incerteza e o risco neste século com tantos acontecimentos inesperados e perigosos.Bem envolvido pela atualidade está também Refém (Guerra & Paz), a autobiografia de Eli Sharabi, um dos reféns israelitas que viveu 491 dias nos túneis de Gaza sob o cativeiro do Hamas após o ataque de 7 de outubro de 2023. Sendo o primeiro relato de um dos sobreviventes, a leitura vai mostrar tudo a que esteve sujeito e a esperança de um dia regressar a casa.Fora da política, vão ser lançados vários romances que têm tudo para surpreender. É o caso de Cânone de Câmara Escura, de Enrique Vila-Matas. Conta a história de Vidal Escabia que escolheu 71 livros sobre os quais irá escrever a partir de um fragmento. Há uma dúvida: o narrador é um andróide?Do Japão vem Tokyo Sympathy Tower, de Rie Qudan (Casa das Letras), um livro premiado com um dos mais importantes galardões daquele país. O júri aceitou que “5%” da obra tivesse sido escrita pelo Chat GPT nas partes em que a protagonista interage com a Inteligência Artificial, o que deu grande polémica. O tema também é polémico, o de tratar os criminosos com compaixão ilimitada em vez de os punir.Longe de ideias futuristas está Cristóvão Colombo, Navegador Luso-Genovês, de José Gomes Ferreira (Oficina do Livro), que retorna ao debate sobre a sua origem e que, segundo o autor, “não são conclusões, mas propostas de trabalho para analistas políticos, historiadores, genealogistas e especialistas de ADN e de outras técnicas de identificação biológica, no sentido de investigarem por si próprios e tirarem as suas próprias conclusões”.No mesmo âmbito historiográfico, Alessandro Vanoli vai ter a edição portuguesa de A Invenção do Ocidente - Portugal, Espanha e o nascimento de uma cultura (Edições 70), que conta como o nosso país e Espanha alteraram a perceção do mundo ao criarem a ideia de Ocidente, que deixou de ser um conceito geográfico para se transformar no de cultural de identidade.A chegada dos policiais também é logo assinalada no início de janeiro com Se os gatos falassem (Clube do Autor), de Piergiorgio Pulixi. O livro recebeu o mais prestigiado prémio em Itália para a ficção policial, e vários outros, como o Prix Babelio (França).Outro romance a sair é o Tango de Satanás (Elsinore) do mais recente Prémio Nobel, o escritor Lásló Krasnahorkai. É um dos seus livros mais traduzidos e uma obra de estreia que já augurava uma carreira literária famosa, em que se conta o abandono de uma localidade húngara à natureza dura e a falsos profetas que não pressagiam nada de bom para os habitantes.Entre as novidades inesperadas está o anúncio de uma nova chancela da Editorial Caminho, a Cruzeiro do Sul, que vai lançar em breve – além da já reeditada peça A Noite de José Saramago – Em Busca, de Naguib Mahfouz e Um Grão de Trigo, de Ngũgĩ wa Thiong'o.Também o próximo ano vai ser marcado pelo primeiro evento literário e cultural internacional promovido pela Fundação Livraria Lello, o Babell, no Porto. Entre os autores que estarão presentes de 14 a 30 de junho destacam-se Olga Tokarczuk, Salman Rushdie, Margaret Atwood e Byung-Chul Han. LANÇAMENTOS .RECONCILIAÇÃO. MEMÓRIASJuan Carlos IPlaneta(À venda dia 27 de janeiro). UM CASO (IR)REALUm dos livros em que o autor tem muito para contar é o do ex-rei espanhol, Juan Carlos, que abdicou e abandonou o país, indo viver para Abu Dhabi. Após uma prolongada ausência e silêncio, o antigo monarca regressa num livro memorialista, onde toda a sua vida está registada, como a infância, o papel na governação e na transição espanhola para a democracia, sem esquecer os inúmeros momentos de uma vida política e pessoal. Segundo a editora, o volume é “uma confissão sincera, de coração aberto, onde um rei procura reconciliar-se com o país que tanto ama e finalmente conta a sua própria história”. A edição espanhola saiu recentemente - a francesa há algumas semanas (é de autoria conjunta com Laurence Debray) – e nela pode ler-se sobre todos os assuntos mais sensíveis e que estão presentes neste Reconciliação: o exílio, os relacionamentos amorosos, as lembranças de infância, como as da Suíça, onde viveu com a família vários anos. Não poderia faltar a vivência em Portugal, nem quando com dez anos foi para Espanha para ser educado sob a tutela de Franco. A morte com a sua arma do irmão Alfonso na residência do Estoril também é recordada (1956), que considera ser na sua vida um momento determinante: “Houve um antes e um depois”. Outra circunstância importante foram as últimas palavras de Franco no hospital: “Como num último suspiro, disse-me: 'Alteza, só peço uma coisa: mantenha a unidade do país'”.Não fica por revelar a questão dos presentes caros que recebeu - não os charutos enviados por Fidel Castro, mas os de famílias reais árabes, situação que considera como “um ato de generosidade de uma monarquia para com outra”. Já os 100 milhões de dólares que recebeu do antigo rei Abdullah da Arábia Saudita, não evita dizer que foi “um grave erro” aceitar. Entre outros erros, está também a relação com a empresária alemã Corinna Larsen. Recorde-se que após se ter exilado, a investigação judicial a seu respeito foi arquivada.