Chegou à idade maior o LEFFEST, também conhecido como o festival de Paulo Branco. Nesta edição número 18 saltam à vista uma série de tradições: algum do melhor cinema internacional vindo dos maiores festivais, a aposta numa plataforma de debate e a habitual multidisciplinaridade das artes, expressada em espetáculos e exposições.E é também aos 18 anos que o festival que já teve affaires com o Estoril e Sintra, volta ao Cinema São Jorge, a sala nobre dos festivais em Lisboa, apostando-se também no Teatro do Bairro, Auditório do Liceu Camões, na Biblioteca e Ginásio do Liceu Camões, no MUDE e nos habitais Tivoli e Nimas. .Uma competição que mistura Cronenberg com Laura Carreira.Da competição destacam-se alguns títulos, como por exemplo Crónicas Chinesas, de Lou Ye, uma inventiva tapeçaria entre ficção e documentário sobre um filme interrompido pela covid. Passou em Cannes, fora-de-competição. Do mesmo festival chega, o divisório The Shrouds, de David Cronenberg, obra tocada por um bafo de morte absolutamente inaudito e com um Vincent Cassel a sugerir uma variação do próprio realizador.Ainda de Cannes, The Seed of the Sacred Fig, de Mohammad Rasoulof, uma história sobre os limites da verdade de cada um e uma denúncia contra o atual regime do Irão. Chegou a ser o favorito à Palma de Ouro e percebe-se a razão..De Portugal, com a ajuda do Reino Unido, concorre ao prémio máximo Laura Carreira com On Falling, já premiado em San Sebastián (Melhor Realização) e no Festival BFI de Londres (Melhor Primeira Obra), um brutal olhar sobre a condição da precariedade dos trabalhadores em armazéns de vendas do género Amazon, no Reino Unido. Será dos bilhetes mais requisitados do festival, por certo.Com boas possibilidades de sair de Lisboa com o prémio criado por Julião Sarmento está Vermiglio, de Maura Delpero, este descoberto no Festival de Veneza, cinema de um outro tempo, uma cineasta a esmerar-se numa odisseia familiar nas montanhas italianas.Mas é claro que o LEFFEST faz-se com o impacto dos grandes convidados. Ao longo destas duas décadas, nomes como David Lynch, Juliette Binoche, Pedro Almodóvar, Francis Ford Cop- pola, Robert Pattinson, Peter Handke, Wim Wenders ou Isabelle Huppert prestigiaram o certame e este ano não vai ser exceção. Por exemplo, Brady Corbet, ex-ator e agora cineasta consagrado, vai estar na abertura para O Brutalista, Grande Prémio em Veneza, um épico de fulgor apaixonante sobre um arquiteto que chega à América depois de escapar dos Campos de Concentração nazis. Será com toda a certeza um dos filmes a jogar cartada forte na temporada dos prémios, mas há que salientar outro regresso, o de Viggo Mortensen. O ator e cineasta estará em Lisboa para apresentar Até ao Fim do Mundo, onde ele é o protagonista juntamente com a maravilhosa Vicky Krieps. Trata-se de um western situado durante a Guerra Civil americana. .Urgente voar com Bird.Do pacote dos filmes mostrados fora-de-competição, impossível não salientar um dos mais belos e arriscados filmes do ano, Bird, de Andrea Arnold, acabado de ser nomeado aos prémios da Academia de Cinema Europeia, uma fábula sobre homens-pássaro no inferno da habitação social da Grã-Bretanha.Importante também não deixar fugir um objeto como Os Enforcados, de Fernando Coimbra, cinema brasileiro com um carimbo de thriller carioca notável ou o Leão de Ouro de Veneza, O Quarto ao Lado, de Almodóvar, que, juntamente com O Brutalista, abrem sexta-feira o festival. Outro dos filmes que nos faz enfrentar a morte sem filtros, um grande, grande acontecimento..Deste rol de antestreias apenas reticências para Parthenope, de Paolo Sorrentino, desilusão extrema da competição de Cannes e Small Things Like These, de Tim Mielants, escolhido para abrir a Berlinale, mas que acaba por ser exemplo de um cinema irlandês formatado pelas boas intenções. .Colman Domingo escondido nas Descobertas.Na secção Descobertas chamada de atenção para Sing Sing, de Greg Kewdar, um cineasta que encena um processo de criação teatral na famosa prisão americana. Uma obra particularmente tocante com o imenso Colman Domingo..E como é agora moda em muitos festivais, as séries de televisão também têm o seu espaço. Curiosidade para ver O Americano, de Ivo Ferreira, produção de Ana Pinhão Moura que se foca no caso dos Cavaco, os fora-da-lei no Algarve nos Anos 1980 que fizeram manchete.