Um festival que aos 18 anos faz jus à ideia do filme para “maiores de 18 anos”. Coincidência feliz esta a do MOTELX, o Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. E nesta edição coisa que não faltam são alguns dos filmes de género mais esperados do ano, a maioria deles com bom cadastro em festivais como os de Berlim ou Cannes..Ao longo de uma semana, o Cinema São Jorge é o palco para um desfile de sustos, monstros e todas as emoções fortes com cinema escolhido com critério e um certo sentido de visão do mundo. Pedro Souto e João Monteiro, diretores do festival, falam ao DN de barriga cheia após uma curadoria que, no plano teórico, promete um dos cardápios mais estimulantes dos últimos anos, onde a presença de um filme como Não Fales do Mal, de James Watkins, atesta a dimensão do certame. Não é de estranhar que a fama do critério destes programadores já tenha atravessado fronteiras. E por muito que seja sempre controverso entrar em vagas quanto à crista da onda do chamado “elevated terror”, é claro que o MOTELX tem agradecido essa boleia: “esse é apenas um termo que os produtores e os realizadores se querem colocar - muitas vezes não tem nada a ver com o filme. Se pensarmos bem, os filmes de terror “elevados” já existiam, se calhar desde Roman Polanski… Mas sim, claro, estamos a aproveitar a vaga, mas não é só desse termo específico: estamos a aproveitar o aumento da produção de filmes de terror em si. Admito que o fenómeno do ‘elevated terror’ tenha vindo a chamar a atenção de um outro tipo de público e mesmo de cinéfilos, gente que até poderia ter algum preconceito com o terror. A verdade é que em 18 anos nunca notámos uma quebra na oferta de qualidade do género, em parte porque fomos sempre muito atrás do cinema independente”, refere Pedro Souto..A questão da A24....“Sentimos que depois de Foge, de Jordan Peele, o cinema americano mais independente tem ido ao terror para encontrar formas de expressão mais livres. É por isso que até os festivais de cinema de autor precisam de filmes de terror, têm é de levar com esse carimbo do ‘elevated terror’. Enfim, trata-se da produtora A24 a tentar distinguir-se dos restantes. Mas mesmo os realizadores americanos parece que agora descobriram de repente que é no terror que podem falar sobre identidade sexual, representatividade, questões raciais, etc. As pessoas esquecem-se é que o cinema de terror já falava dessas coisas quando o outro cinema não falava”, ressalva João Monteiro..Pedro Souto e João Monteiro, dois dos elementos da direção do festival português com melhor média de sala….Demi Moore e uma família peluda.Este ano, como tem acontecido nas últimas edições, outra das modinhas também vai estar presente: o “body horror”, não sendo por acaso que The Substance, de Coralie Fargeat, esteja presente numa sessão com horário nobre, sexta-feira, 21h30… É um filme que em Cannes venceu o Prémio de Argumento e que terá pretensões para os próximos Óscares, em especial para o trabalho ousado de Demi Moore, aqui a interpretar uma estrela de Hollywood em decadência que se reinventa através de um processo que faz com que o seu corpo fique como novo. Depois, repescado de Sundance e Berlim, Sasquatch Sunset, de Nathan e David Zellner, comédia surreal sobre uma família de sasquatchs, lendários Bigfoots das montanhas americanas, objeto desconcertante que se arrisca a ser um dos filmes do ano. Excelente espécime daquilo que muitos já denominam de “WTF movie”, ou seja, uma provocação em forma de insanidade, um pouco na veia do cinema dos Daniels, autores de Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo..Festival Guiões, de novo no interior deste Motel.Dentro do MOTELX continua a realizar-se um evento independente, o Festival Guiões do cineasta Luís Campos, um certame dedicado à arte dos argumentos. É o segundo ano consecutivo que acontece uma parceria que dá ideia de ser uma solução win win para ambas partes: “começou com uma conversa com o Luís Campos que estava a precisar de um espaço para o seu evento e assim calhou. A experiência correu bem, o Guiões trouxe um público, produtores e indústria que não costuma vir até nós e o MOTELX proporcionou-lhe um público para certas atividades que ele não tinha tanto… Para nós é bom porque os guiões são um dos problemas graves do cinema de terror português”, contam.