Anita Guerreiro deu voz a grandes êxitos como 'Cheira Bem, Cheira a Lisboa'.
Anita Guerreiro deu voz a grandes êxitos como 'Cheira Bem, Cheira a Lisboa'.Gonçalo Villaverde

Morreu a fadista e atriz Anita Guerreiro

Ao longo da sua vasta carreira, fez teatro de revista, telenovelas e apadrinhou as marchas populares de Lisboa.
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A fadista e atriz Anita Guerreiro morreu na madrugada deste domingo, aos 89 anos, na Casa do Artista, onde viveu nos últimos anos.

"Partiu, esta noite, a incontornável Anita Guerreiro", anunciou a Casa do Artista no Facebook. "Senhora de uma voz inconfundível e de um imenso talento, a todos marcou pelo amor que transmitia em cada palavra, em cada gesto. Sem vedetismos, conforme fazia questão de frisar, era inteira em palco, em frente aos ecrãs e no dia a dia de todos/as aqueles/as que com ela se cruzavam", diz a instituição.

Bebiana Guerreiro Rocha Cardinalli nasceu na cidade de Lisboa a 13 de Novembro de 1936. O Sport Clube do Intendente, bairro onde cresceu, foi o seu primeiro palco, onde já cantava aos sete anos. Por isso gracejava que era "a miúda do Intendente", segundo lembra a Casa do Artista.

Ao longo da sua vasta carreira, fez teatro de revista, telenovelas e séries - como Roseira Brava, As Aventuras do Camilo, Uma Casa em Fanicos, Olhos de Água, Inspetor Max ou Os Batanetes - e apadrinhou as marchas populares de Lisboa, tendo-se tornado conhecida do público através do concurso radiofónico Tribunal da Canção, ao qual concorreu em 1952. Terá sido Marques Vidal, o produtor do programa Comboio das Seis e Meia, onde figurava essa rubrica, quem lhe deu o nome artístico Anita Gurreiro e a levou para o Café Luso.

"Fiz coisas muitos boas como amadora, nem sei se não terei feito números melhores como amadora do que como profissional", confessou ao DN em 2005.

Em 1955 estreou-se no palco do Teatro Maria Vitória, na revista Ó Zé Aperta o Laço, integrando nesse mesmo ano o elenco da revista Festa é Festa. Seguiram-se várias produções de sucesso nos vários teatros do Parque Mayer.

Simultaneamente, deu voz a grandes êxitos como Cheira Bem, Cheira a Lisboa, Sou Tua, Lição de Amor e Calçadinha Portuguesa.

Integrou o elenco da casa de fados O Faia, no Bairro Alto.

Em 2004, ao assinalar 50 anos de carreira, recebeu da Câmara Municipal de Lisboa a Medalha Municipal de Mérito, Grau Ouro, e foi alvo de um espetáculo de homenagem no Teatro Municipal de São Luiz que contou com a presença de artistas como António Calvário, António Rocha, Fernanda Baptista, Marina Mota e Natalina José.

Ainda em jeito de comemoração das cinco décadas de carreira, foi lanado no ano seguinte o disco Anita Guerreiro - Antologia 50 Anos de Teatro em Revista (1955-2000) que incluia 30 dos seus maiores êxitos interpretados na Revista portuguesa.

"A minha musa inspiradora, como de milhares de pessoas, era a Amália Rodrigues. E, como não tinha repertório, estreei-me com o Fado do Adeus e o Fado da Saudade. Mas, desde então, nunca mais cantei nada da Amália. Nunca quis cantar nada de ninguém. Tive muita sorte e, desde o início, apareceram pessoas a oferecer-me músicas e poemas. O que canto é tudo meu", disse ao DN na mesma ocasião.

Em 2022, a Junta de Freguesia de Arroios deu o nome da fadista a uma galeria para promoção cultural aberta ao público.

Vivia na Casa do Artista desde 2018, "onde continuou a abrilhantar colegas, amigos e colaboradores com a sua voz de excelência e a sua enorme generosidade", segundo diz a instituição.

"Calou-se a voz, mas fica para sempre o legado desta grande Senhora da cena artística portuguesa", remata a Casa do Artista.

O ator e apresentador de televisão João Baião foi um dos primeiros a reagir publicamente à morte de Anita Guerreiro. "Um grande aplauso para a Voz de Lisboa, de Portugal!", pediu numa publicação no Facebook.

Também o presidente da República apresentou os seus "sentimentos amigos aos familiares e admiradores" de Anita Guerreiro, "figura da música portuguesa durante muitas décadas, deixando um traço de simpatia e de popularidade que marcou várias gerações".

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O tempo em que cheirava a Lisboa

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